Pela Graça de D'us
1º Dia de Chanucá, 5730 [5 de dezembro de 1969]
Brooklyn, NY
Fiquei triste ao saber do falecimento de sua mãe. Estendo a você e a todos de sua família minha sincera simpatia e a tradicional bênção de condolência. Que você não conheça nenhuma tristeza no futuro, e que somente bondade e benevolência estejam com você, sempre.
Cordialmente,
M. Schneerson
P.S. Com base em nosso conhecimento pessoal, e pelo que tenho ouvido sobre você dos nossos amigos mútuos, tomo a liberdade de sugerir que além do Kadish nas preces diárias, você também inclua estudar o Kitzur Shulchon Oruch. Isto tem especial importância em nossos dias, e tem muitas implicações valiosas. Acima de tudo, é um Zechus Horabim, combinado com um Zechus especial pela alma do falecido. Além disso, aumentando a aderência à Vontade de D'us, especialmente por uma pessoa de influência, dá expressão prática. Desejo também enfatizar na luz da Chassidut, que dá uma nova visão sobre o conceito de Teshuvá.
Teshuvá, como é interpretado na Chassidut, não significa “arrependimento” (que é somente um aspecto), mas – como indica a palavra – um retorno da alma a sua “fonte e raiz”. O “retorno” mencionado aqui não é o seu retorno à sua verdadeira essência. Como é explicado pelo Alter Rebe em seu Tanya capítulo 31, isto é atingido quando o judeu está engajado em Torá e mitsvot, especialmente quando está permeado com júbilo interior e inspiração. Pois naquela hora, também, a alma “parte do corpo” – no sentido que abandona as necessidades, inclinações e desejos corporais.
Além disso, nessa hora, a alma envolve o corpo no exercício espiritual, induzindo-o também a obedecer a Vontade de D'us, a Fonte da alma e de toda a existência, para que não somente a alma retorne à sua Fonte, mas também leve o corpo físico com ela.
O que foi dito acima provê uma ideia sobre o que parece ser uma observação um tanto “incongruente” do Rambam, ou seja, que o período de luto observado por uma família enlutada tem a ver com Teshuvá. [E está escrito: “Mas os vivos devem levá-lo no coração.”
Alguém poderia esperar que a primeira reação natural de uma pessoa com tal perda seria de ressentimento e reclamação. Porém, à luz daquilo que foi dito acima, é compreensível por que, numa reflexão mais profunda, o choque de ver uma alma querida partir desta vida deveria induzir a Teshuvá. Pois este é um tempo adequado para refletir sobre as oportunidades que foram dadas à alma para “retornar” à sua Fonte enquanto está aqui na terra, abrigada em seu corpo, e em sua experiência de teshuvá para viver una vida feliz e significativa até uma idade avançada.
Creio que não há necessidade de mais elaboração sobre o que foi dito acima a você.
Uma palavra de explicação. Tudo isso foi escrito como um P.S. e numa folha separada, não por causa de menor importância que a carta que a precedeu. [Pelo contrário!] No entanto, nossos Sábios inteligentemente nos lembraram que permissões devem ser feitas para uma pessoa em sofrimento. O pensamento poderia ocorrer que – aqui está um homem que não é um parente, e deseja levar “vantagem” de uma profunda e infeliz experiência a fim de expor “seus ideais”.
Por este motivo essa parte da carta foi separada da primeira. Mas na verdade as duas partes não estão realmente separadas, mas intimamente conectadas. Além disso, e este é o ponto principal estes ideais não são somente meus, mas (também) seus. Somente circunstâncias às vezes obscurecem a verdade. “Eu creio com completa fé” que esta é a maneira de gratificar a alma que está no Mundo da Verdade, e ouso dizer que você também partilha esta crença.
Possa D'us conceder que daqui em diante você realize o acima pelo estímulo de ocasiões felizes, conforme aborda o conteúdo do livro Tanya, do Alter Rebe, através do estudo de nossa Torá, o tipo de estudo que leva à ação no cumprimento dos mandamentos na vida diária. E que você junto com sua esposa possa criar seus filhos neste espírito. Refiro-me não apenas aos seus filhos naturais, mas também aos seus “filhos” falando de modo figurativo, ou seja, aqueles que o consideram mestre e mentor, como nossos Sábios interpretam as palavras: “E ensinarás diligentemente aos teus filhos” – “teus alunos.”
Com bênção,
[Assinatura do Rebe]
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