"A TERRA... DE ACORDO COM SUAS FRONTEIRAS"
(PARASHÁ MASS'Ê, V. 34:2)

Eu sou total e inequivocadamente contra entregar qualquer uma das áreas libertadas atualmente em negociação, como Yehudá e Shomron, o Golan, etc., pela simples razão, e a única razão, de que entregar qualquer parte delas seria transgredir um claro Psak-Din [regulamentação] do Shulchan Aruch (Orach Chayim, sec. 329, §§6o e 7o). Eu tenho repetidamente enfatizado que este Psak-Din não tem nada a ver com a santidade de Érets Yisrael ou com "os dias de Mashiach", a Gueulá, e considerações similares, mas somente com a lei de Pikuach Nefesh [perigo de vida]. Isto é enfatizado ainda mais pelo fato de este Psak-Din ter sua fonte no Talmud (Eruvin 45a), no qual a Guemará cita um exemplo de uma "cidade-fronteira" sob os termos deste Psak-Din, a cidade de Nehardeá, na Babilônia (atual Iraque) — claramente fora de Érets Yisrael. Eu tenho enfatizado diversas vezes que esta é uma questão de Pikuach Nefesh e deve ser julgada unicamente com base nisto, e não em geografia.

O dito Psak-Din trata de uma situação na qual gentios (o termo é גוים, não inimigos) sitiam uma cidade-fronteira, ostensivamente para obter "palha e feno" e então ir embora. Mas por causa do possível perigo, não somente para os judeus da cidade, mas também para outras cidades, o Shulchan Aruch determina que ao receber notícias dos gentios (mesmo que eles somente se preparam), os judeus devem se mobilizar imediatamente e pegar em armas, mesmo em Shabat — de acordo com a lei de que"Pikuach Nefesh" tem precedência sobre o Shabat", Se houver uma questão sobre se o risco de fato cria uma situação de Pikuach Nefesh, então — como no caso de uma doença, quando uma autoridade médica é consultada — a autoridade que deve julgar se reveste em especialistas militares. Se especialistas militares decidem que ha perigo de Pikuach Nefesh, não deve haver outras considerações, visto que Pikuach Nefesh se sobrepõe a tudo mais. Se os especialistas militares declararem que, embora exista este risco, mas ele possa ser relevado por alguma outra razão, tal como questões políticas (boa vontade dos gentios), isto claramente seria contrário ao Psak-Din, pois o Psak-Din requer que Pikuach Nefesh, e não conveniência política, seja o fator decisivo.

Agora com relação às áreas libertadas, todos os especialistas militares, judeus e não-judeus, concordam que na atual situação, dar qualquer parte delas criaria sérios perigos de segurança. Ninguém diz que dar ou abdicar de qualquer parte delas intensificaria a defensibilidade das fronteiras. Mas alguns especialistas militares estão preparados para arriscar a fim de não contrariar Washington e/ou aprimorar a "imagem internacional", etc. Seguir esta linha não apenas vai contra o claro Psak-Din, como também ignora as custosas lições do passado. Um caso evidente é a "Guerra do Yom Kipur". Dias e horas antes do ataque, houve sessões urgentes do governo para discutir a situação com os militares. A inteligência militar apontou evidências inequívocas de que um ataque egípcio era iminente, e os especialistas militares aconselharam uma ação antecipada que salvaria muitas vidas e evitaria a invasão. No entanto, os políticos, com a concordância de alguns especialistas militares, rejeitaram esta ação alegando que tal ação, ou mesmo uma mobilização geral, antes de os egípcios de fato atravessarem a fronteira significaria ser classificado como o agressor, e isto colocaria em perigo as relações com os Estados Unidos. Esta decisão era contrária ao dito Psak-Din do Shulchan Aruch, conforme apontado acima. Os resultados trágicos desta decisão atestaram a validade da posição do Shulchan Aruch (como se isto fosse preciso), pois várias vidas foram desnecessariamente sacrificadas, e a situação chegou perto do desastre total, não fosse pela misericórdia de D'us. É suficiente mencionar que a então Primeira-Ministra admitiu, mais tarde, que durante toda sua vida ela seria atormentada por esta trágica decisão.

Eu sei, é claro, que há rabinos que são da opinião de que, na situação atual, seria permissível, sob o ponto de vista do Shulchan Aruch, devolver áreas de Érets Yisrael. Mas também é sabido em quais informações eles baseiam esta visão. Um argumento é que a situação atual não é idêntica ao caso hipotético de "estar sitiado por gentios". Um segundo argumento é que a entrega de algumas áreas hoje não colocaria vidas em perigo.

Que estes argumentos se baseiam em desinformação, isto é patente. Os vizinhos árabes estão preparados militarmente; e, mais ainda, eles reclamam estas áreas como suas, para mantê-las, e declaram abertamente que se a entrega não for voluntária, eles as tomarão pela força e, eventualmente, por qualquer outro modo. Um rabino que diz que o dito Psak-Din do Shulchan Aruch não se aplica à situação atual está completamente desinformado sobre qual é a verdadeira situação...

Eu fui questionado por colocar tanta ênfase na segurança de Érets Yisrael sob o argumento de que a proteção do povo judeu durante a longa Galut tem sido o estudo da Torá e a prática das mitsvot; assim, judeus observantes da Torá não deveriam fazer da inviolabilidade de Érets Yisrael uma causa que está acima de tudo. Eu digo que eles não compreendem a questão, pois minha posição não tem nada a ver com Érets Yisrael como tal, mas com o Pikuach Nefesh dos judeus que vivem ali — o que se aplica a qualquer outra parte do mundo.

É dito que meus pronunciamentos a este respeito são mais políticos do que rabínicos. Uma vez que a questão está ligada a Pikuach Nefesh, é certamente o dever de cada judeu, seja ele um rabino ou um leigo, fazer tudo que é permitido pelo Shulchan Aruch para ajudar a prevenir — ou pelo menos, minimizar — o perigo. Em uma situação de Pikuach Nefesh, cada esforço possível deve ser feito, mesmo se houver ספק (dúvida) se o esforço obterá sucesso.

(Excerto de uma carta escrita pelo Rebe em 5741)