A página de título da primeira edição impressa do Tanya (1796)

Em 1796, um novo livro sobre filosofia judaica foi impresso e pronto para distribuição. A obra foi escrita pelo rabino Schneur Zalman de Liadi, fundador do Chabad, uma linha do chassidismo, e em sua humildade ele a intitulou Likutei Amarim, "uma compilação de ditos". Muitos simplesmente o chamavam de "o Tanya" (a primeira palavra do opus). O Tanya rapidamente ganhou imensa popularidade. A primeira edição imprimiu15.000 cópias. No ano seguinte, uma segunda impressão, com 5.000 cópias, e um ano depois, uma terceira impressão com 20.000 cópias saiu da gráfica. Até hoje, o Tanya tem sido impresso intensamente elevando sua popularidade.

Por que o Tanya era tão novo? Quem era o público alvo do Rebe e qual era seu objetivo? Olhando não muito além da página título do Tanya, lemos a declaração de missão declarada e claramente explicada pelo Rebe:

(…) Baseado no versículo: “Pois isto está muito perto de você, na sua boca e no seu coração, para que você possa fazê-lo” (Devarim 30:14); explicando claramente como está extremamente próximo, tanto de um modo longo como de um curto caminho, com a ajuda do Santo, abençoado por Ele.

Vamos ao verso que o Rebe cita como base para sua obra. No final de Devarim, Moishê faz um discurso final antes de sua morte. Nele ele faz esta observação indescritível: "Pois esta coisa está muito perto de você, em sua boca e em seu coração, para que você possa fazê-lo." Embora Moishê não especifique a que "coisa" ele está se referindo, do contexto de suas palavras fica claro para os comentaristas que o que está "perto de nosso coração" é amar a D'us, e o que é "próximo à nossa boca e ações". (isto é, "você pode fazer isso") é o desempenho dos mandamentos de D'us. Moishê nos assegura que o amor de D'us está próximo - acessível ao ser humano comum. E viver um estilo de vida de Torá torna-se um trabalho natural de amor quando se baseia em amor e afeição por nosso Criador. Em outras palavras, comprometer-se com as restrições e obrigações que D'us dita não é como emplacar uma persona de moralidade super-imposta para encobrir nosso verdadeiro eu animalesco. Ao contrário, com amor, as mitsvot serão próximas de nós, elas ressoarão com tudo o que realmente queremos da vida.

O Rebe chama sua estratégia de "longo e curto caminho". Longo, porque é preciso um esforço concentrado; curto, porque é eficaz

A maioria das pessoas tem uma afinidade natural com o dinheiro, um amor natural por atenção e a coisas prazerozas. Mas para a maioria de nós, amar a D'us simplesmente não é natural. Estresse, desapontamento e apatia são grandes obstáculos que ficam no caminho tolendo a vida de inspiração. No entanto, o rabino Schneur Zalman, de Liadi, vê na palavra de Moishê uma afirmação e uma oportunidade. Talvez seja possível desenvolver um relacionamento vibrante e emocional com D'us. Tão confiante é ele que dedica cinquenta e dois capítulos do Tanya explicando sistematicamente como realizar a promessa de Moishê.

Uma das primeiras coisas que o Rebe estabelece é que temos um amor inato por D'us. Um presente com o qual nascemos, um amor jamais poderá ser extinto. O Rebe chama isso de ahavah misuteret, o (muitas vezes) "amor oculto". Infelizmente, esse amor geralmente se torna tão profundamente submerso em nossa consciência que não podemos senti-lo. Mas todos nós temos a capacidade de acessar esse amor latente, despertá-lo e explorar sua inspiração.

Às vezes, o ahavah misuteret se sentirá ameaçado e imediatamente entrará em ação. Aqui está um exemplo real desse fenômeno:

Morando em Hebron, Israel, na década de 1920, havia um adolescente judeu que se tornara alienado de seus amigos e, em vez disso, saía com seus vizinhos árabes. Em 1929, um grupo de árabes invadiu a Yeshivá de Hebron e massacrou mais de 50 pessoas a sangue frio. Naquele mesmo dia, o menino judeu estava jogando cartas com seus amigos árabes na casa deles quando os assassinos invadiram o local e gritaram. "Algum judeu aqui ?!" Os amigos árabes cobriram-no e gritaram de volta: "Não!" A gangue foi embora. Mas algo começou a ferver dentro do menino judeu. Ele começou a ficar agitado e então, para surpresa de seus amigos, ele pulou e correu para fora da casa. Ele correu em direção à gangue de assassinos e quando chegou até eles, gritou: "Eles estavam errados - eu sou judeu". Ele foi imediatamente baleado e morto. Aparentemente, seu amor por D'us não podia tolerar ser descaradamente negado então explodiu para defendê-lo.

Quando nossa identidade de amor não se sente radicalmente ameaçada, ela é baixa e não nos subjuga. Pelo contrário, espera que nós a estimulemos. O Rebe desenvolve uma estratégia notável para despertar esse amor e o chama de "longo e curto caminho". É longo porque exige esforço concentrado, mas curto porque é eficaz.

O Tanya fala com o judeu que se esforça profundamente para cumprir as ordens de D'us não por hábito ou obrigação social, mas sim para estabelecer e desenvolver um relacionamento com Ele. A metodologia do Rebe mudou a vida de milhões de pessoas que estudaram seu livro revolucionário.