O micvê, casa de banho ritual em Primishlan se encontrava no sopé de uma colina íngreme. Mesmo sob as melhores condições era uma escalada precária, mas durante os meses do inverno quando coberta com gelo, a ladeira era totalmente intransitável. Até as pessoas mais corajosas e ágeis eram obrigadas a desistir após os primeiros passos e pegar um caminho mais longo com várias curvas e subidas.

Todas as pessoas, menos um. Rabi Meir, o idoso Rebe de Primishlan, caminhava na colina gelada para mergulhar no mikve, diariamente, antes de fazer a sua prece matinal. Inabalável, fazia o seu caminho ida e volta. Outros que tentavam imitá-lo se quebravam. Perguntaram para o Rebe como conseguia e ele respondeu: “Quando alguém está amarrado em cima ele não cai para baixo. Meir’l (o jeito que ele costumava falar de si) está amarrado em cima, então ele não cai”.

D’us, o Criador, anexou à coroa de Sua criação, o complexo e intricado ser humano, um manual de instruções, Sua Torá. Torá vem da palavra hebraica Horaá – instrução e é chamada de Torat Chayim, pois é o nosso guia de instruções para a vida. As mitsvot da Torá não são apenas mandamentos ou boas ações. Mitsvá vêm da raiz etimológica tsavta que quer dizer elo, ligação. Cada mitsvá nos proporciona oportunidades de nós nos atarmos lá em cima, com a Fonte da vida e poder que é D’us.

O Criador nos concedeu livre arbítrio. “Vê, que, hoje pus diante de ti a vida e o bem, e o caminho contrário. (Devarim) Mas Ele não ficou alheio, apático; Ele pediu - “Escolherás pois, a vida”.

É análogo a um homem que possuiu muitas terras e ofereceu ao seu filho escolher para si uma porção. Depois o pai amoroso levou o seu filho até um terreno bonito e o aconselhou a ficar com aquele.

Assim como faz nosso Pai Celestial, podem e devem fazer todos os pais (mães e pais). Não podemos ficar alheios; devemos dar palpite, exprimir a nossa opinião, transmitir os nossos valores e mostrar o exemplo correto.

O sexto Rebe de Chabad, Rabi Yossef Yitschac Schneerson, em um pronunciamento a um grupo de mulheres no ano 1934 na cidade de Riga, fez as comparações que seguem abaixo. É muito relevante ao nosso assunto e mostra como todas as narrativas da Torá constituem orientações para nosso dia-dia.

A Educação dos Filhos

Foram as mulheres que em primeiro lugar vieram trazer as suas contribuições na hora da construção do Tabernáculo. (Shemot: 3:22) Trouxeram brincos, aros, anéis e pulseiras, enfim as suas jóias mais preciosas (Ibn Ezra). Ao edificar o nosso lar tornando-o um santuário para a presença divina também temos que fazer oferendas semelhantes.

O brinco simboliza, espiritualmente, a necessidade de ouvir bem o que a Torá e os nossos rabinos nos ensinam a respeito de como devemos educar nossos filhos e conduzir um lar judaico. Também, devemos prestar bem atenção às conversas dos nossos filhos, o que falam entre eles e com seus amigos. Geralmente as crianças “cospem o que os adultos mastigam”, então os pais terão de tomar muito cuidado para que os seus filhos tenham exemplos educados e refinados.

O aro representa o sentido de olfato, poder “cheirar” a situação; ficar atento às amizades dos nossos filhos: quem são os amigos que vem visitá-los, a casa de quem eles frequentam e com quem eles andam.

Os primeiros dois cuidados ainda não são o suficiente para garantirmos um ambiente de santidade em nosso lar. Precisamos da terceira jóia, do anel que significa indicar o caminho e esclarecer aos nossos filhos os benefícios de seguir certos comportamentos e atitudes e o prejuízo de não o seguir.

Finalmente a pulseira demonstra disciplina saudável, coerência e firmeza, componentes imprescindíveis para o crescimento e prosperidade dos nossos filhos.

Uma vez uma senhora pediu uma bênção do Lubavitcher Rebe para merecer ter um filho tão especial como o Rebe. O Rebe respondeu que para isto precisaria ter uma mãe tão especial quanto a dele.

De fato, quando utilizamos e aproveitamos bem do manual que nosso Criador nos proveu, quando educamos os nossos filhos dentro dos valores da nossa Torá, quando contribuímos com nossas “jóias” para o nosso pequeno santuário - o nosso lar, podemos esperar que nós e nossos descendentes, com a ajuda de D’us, iremos poder escalar as colinas traiçoeiras da vida e permanecermos ilesos e íntegros física e espiritualmente.