Oi Rabino,
Meu rabino insiste que o mundo está se movendo rapidamente rumo a uma era de paz e sabedoria. Obviamente, ele não assiste televisão e está totalmente por fora das notícias da blogosfera. Em vez disso, ele cita o Rebe, que falava anos atrás. Talvez as coisas estivessem então melhorando um pouco. Mas agora, o futuro – bem como o presente – não parece tão feliz. Portanto, o que faz você pensar que a chegada de Mashiach é mais provável agora do que em qualquer outro tempo na história?
Pessy Mística
Olá, Pessy
Há dois equívocos aqui que estão confundindo você. Vamos lidar com um de cada vez. Primeiro, ninguém jamais imaginou o mundo indo gradualmente para um estágio messiânico como você dirige seu carro para dentro da garagem. Mas ele não tem de bater contra uma parede apocalíptica. Não espere que nós seres humanos possamos resolver todos os problemas do mundo – pois cada problema que resolvemos, criamos uma lista inteira de problemas novos. Mas não confie nos alienígenas do espaço ou em alguns seres celestiais para fazer isso por nós. Ao contrário, em vez de falar sobre o mundo evoluindo rumo a uma nova era, fale sobre ele se preparando para o tempo em que isso vai acontecer.
Pense no processo de gravidez e nascimento: Olhando por fora, você vê náusea, mau humor e uma barriga crescendo. Olhando por dentro, vê um ser se formando milagrosamente – e você ainda não tem a menor ideia de como aquele bebê irá se sair aqui fora. É um total milagre por si mesmo. Pense no processo de nascimento, uma orquestra tocando ou um filme passando. Pense sobre uma orquestra tocando num crescendo de barulho e cacofonia – até que o maestro levanta a batuta e a sinfonia começa. Num estúdio de filmagem, com a equipe no palco correndo para colocar tudo no lugar certo, tirando e arrumando; o câmera e a equipe de iluminação colocando fios em toda parte e tudo nos lugares errados; os atores ensaiando frases fora de ordem, atuando nas maneiras mais ridículas. Mas quando o diretor grita “Ação!” de repente tudo se encaixa e faz sentido na maneira mais magnífica.
Ou, talvez você esteve num lar judaico numa sexta-feira. Aves estão na pia da cozinha. Farinha foi derramada no chão e as crianças estão ali misturando aquilo com suco de laranja. Na parte de cima da casa você escuta um grito assustador de uma adolescente: “Não tenho nada para vestir!” E o irmãozinho dela está gritando ainda mais alto porque ela preparou seu banho quente demais. Quanto ao marido, ele está correndo para cá e para lá ajudando nos últimos preparativos. Então a campainha toca.
É você, o convidado, que por educação trouxe uma garrafa de vinho com antecedência, porque não pode carregar no Shabat. A dona da casa abre a porta, mas apenas um pedaço – então você, primeiro, não pode ver a zona de desastre ali dentro, e segundo, impedir o menino que fugiu da banheira de sair correndo pelado pela sala.
Mas o aroma vindo da cozinha passa pela porta, e você exclama: “Ah! Shabat!”
Shabat? Shabat é um dia de descanso! Este lugar parece que foi atingido por um tornado! E você sente o cheiro do Shabat?
Mas você, e a dona da casa, e também todos os envolvidos, conhecem a história. Dentro de poucas horas, as aves se transformarão em uma saborosa canja, a farinha uma gostosa chalá, a adolescente encontrará algo para vestir, o menino vai ficar de pé e contar a todos sobre a parashá semanal, e pai e mãe se sentarão orgulhosamente junto com seus filhos, com você, seu convidado, imbuídos com o deleite de Shabat codesh.
Aquelas são todas parábolas para o então confuso, barulhento, totalmente enlouquecedor do nosso mundo, especialmente nos estágios mais recentes de desenvolvimento.
O mundo, como o corpo humano e como a tarde da sexta-feira, está num relógio. A partir do tempo em que veio a existir, tem se movido firmemente rumo ao seu destino. O movimento não é igual – sobe e desce como a crista das ondas. Como a formação do feto, há estágios nos quais ocorrem novos desenvolvimentos – que teriam sido impossíveis de prever se você jamais tivesse visto isso antes. Especialmente aquela última e final etapa – como é possível que o bebê esteja para sair daquele mesmo lugar onde entrou. Mas isso irá acontecer – muito em breve.
Se você sabe o que procurar, e tiver uma lente suficientemente grande, verá aquelas mudanças ocorrendo rapidamente nos tempos recentes – nas atitudes humanas, na tecnologia, na ciência, e nas tendências dos eventos mundiais. O mundo se preparando para uma mudança em numa nova modalidade, portanto quando a música começa, os instrumentos estarão afinados, e nós ficaremos ligados para apreciar o concerto.
Aonde Estamos Indo?
Vamos chegar a alguma clareza sobre nosso destino e como este mundo realmente deve ser. Falamos sobre os tempos messiânicos como um mundo de paz e repleto de sabedoria. Porém o mais importante, é um mundo destravado. Um mundo de paz, repleto de sabedoria – porém o mais importante, um mundo aberto.
Como o set de filmagem, ou a orquestra, este mundo começa com seu verdadeiro significado fechado lá dentro. O mais notável dos cabalistas, Rabi Yitzchak Luria, “O Ari”, descreveu nossa missão como seres humanos: libertar o significado oculto de cada coisa. À medida que os pedaços do universo que tocamos começam a cantar sua verdadeira canção em voz alta, mais pedaços exigem subir o tom, e ainda mais, até que o barulho se torna a sinfonia.
Teoricamente, isso poderia prosseguir para sempre. A crença em Mashiach é que a certa altura, um condutor irá chegar, o barulho será afastado, e o concerto vai começar. O mundo terá chegado a sua meta. É isso que o profeta está vendo quando ouve D'us dizendo: “Derramarei Meu espírito sobre todos, e seus filhos e filhas irão profetizar.”Ouvir a sinfonia será o estado natural dos organismos vivos.
Isso nunca aconteceu antes – exceto umas breves poucas horas no Monte Sinai. Até na época em que Israel estava repleto com muitos milhares de profetas, a profecia permanecia uma experiência especial. Você tinha de se afastar de pensamentos deste mundo, meditar diariamente por muitas horas, seguir com pouca comida e entrar na consciência sobrenatural do Criador.
A profecia, basicamente, estava fora deste mundo. Porque você a obteve de fora deste mundo. Você via o mundo diferentemente como um profeta, porque não era mais seu cidadão. Você estava acima e além dele, vendo uma luz que brilhava do alto para este mundo. Mas isso não é como o mundo deve ser. “Tudo que D'us criou”, ensinam os sábios, “Ele criou somente para Sua glória.” É uma peça de arte – mas ainda está sendo feita. É um processo bastante complicado, esta feitura. Mas quando estiver pronto, o Artista Chefe levanta o véu, e voilá! – ali está a obra prima para todos verem. Até meninos e meninas, lobos e cordeiros, e qualquer outra criatura deste mundo. A era messiânica não é sobre alguma grande revelação do além. É sobre o mundo cantando sua própria canção – e sendo capaz de ouvir a si mesmo.
Como chegaremos a esta época?
Agora vamos ver como estamos chegando lá. Ou melhor – como eu disse – como o mundo está se preparando para esse tempo. Civilizações têm surgido e caído em muitas partes do mundo. Mas a nossa, perto da metade do século 18, chegou a um ponto sem precedentes em qualquer história. Nós a chamamos de Revolução Industrial. Veja a realidade a partir do ano 1 até 2000 da EC pelas regiões do mundo. Note que a mudança mal é perceptível até cerca de 1820.
Antes desse tempo, todos exceto uns poucos afortunados viviam à beira do nível de subsistência, a maior parte das crianças não chegava aos seis anos de idade, a expectativa média de vida era cerca de 30 anos, somente uma minoria sabia ler e escrever, e quase ninguém saía de sua classe na sociedade. Então, o mundo humano mudou mais drasticamente em cem anos do que tinha mudado em todos os anos precedentes. Um homem das cavernas tinha estado mais em casa numa aldeia européia no século 18 do que o aldeão teria ficado numa cidade de indústria e tecnologia um século depois. Sem dúvida, seu rabino disse isso a você, mas é um fato impressionante: O Zohar previu tudo isso. No versículo: “No seiscentésimo ano de vida de Noach… todas as fontes de grande profundidade se abrirão, preparando o mundo para ser elevado ao sétimo milênio.”
O sexto milênio começou no calendário secular em 1240 EC. O sexto século do sexto milênio então calcula no período de 1740-1840. Sim, este é o século sobre o qual estávamos falando, quando todas essas mudanças começaram. Mas esse não é o meu ponto aqui. Meu ponto são as palavras do Zohar, que tudo isso estava “preparando o mundo para ser elevado no sexto milênio.” Isso é quando começa a sexta-feira preparando-se para o Shabat. É quando todas as coisas necessárias para o show finalmente estão sendo colocadas no lugar.
Quais são essas coisas?
Bem, tente imaginar um mundo de paz e sabedoria emergindo da ignorância e fome das massas antes da industrialização e da tecnologia das comunicações. Somente poderia ter sido por algum apocalipse e magia sobrenatural. Hoje, temos todas as ferramentas para prover a todo ser humano no planeta uma vida de conforto, juntamente com acesso a toda a gama de conhecimento humano em vídeo e gráficos. Mais ainda, a tecnologia tem dado todas as ferramentas para descobrir a unicidade subjacente da criação de D'us. Antes, podíamos somente ver o mundo olhando por fora, e portanto víamos somente mais e mais fragmentos. Com a ajuda da óptica moderna e equipamentos de medição precisos, gênios como Maxwell e Einsten pudemos decifrar a unidade de todas essas forças, até da matéria e da energia, portanto hoje falamos do universo agindo como um único todo que transcende local e tempo. Essa não é uma revelação de fora deste mundo – é o mundo em si cantando a canção de seu Único Criador.
A tecnologia torna tudo isso bastante real. Nosso próprio vasto planeta se tornou um shtetl [aldeia] global. Não muito tempo atrás, um massacre de alguma aldeia em qualquer lugar não significava nada para alguém fora de um raio de cinquenta quilômetros – se é que eles ouvissem a respeito disso. Hoje, sacode o planeta inteiro.
Como estão as coisas agora mesmo?
E é de onde vem o segundo equívoco que mencionei: o mundo não está se tornando um local mais violento, perigoso. Ao contrário. Bem vindo à era mais pacífica da história. Há menos mortes violentas per capita, no mundo inteiro, do que jamais houve antes. Fomos nós que nos tornamos mais conscientes e menos tolerantes daquela violência e fúria. Por um lado, porque está em nossas faces. Na Primeira Guerra Mundial, havia fotógrafos. Na Segunda Guerra Mundial, havia filme – com as notícias reais chegando tarde demais. No Vietnã, havia repórteres interessados pegando o vídeo no dia seguinte. Hoje, não somos apenas recipientes das notícias, mas repórteres por nós mesmos.
Portanto o horror é muito mais real – que é uma outra maneira pela qual o mundo está se preparando para uma era de paz. Durante milhares de anos, o mundo glorificou a guerra. Escrevendo do fronte de guerra em 1914, um dos “Poetas da Grande Guerra”, Capitão Julian Grenfell captou o espírito dos tempos quando escreveu:
“Adoro a guerra. É como um grande piquenique sem a falta de objetivos de um piquenique. Jamais estive tão bem nem tão feliz… Aqui estamos no centro ardente de tudo, e eu não estaria em nenhum outro lugar por um milhão de libras e pela Rainha de Sabá.”
Quando a Primeira Guerra terminou, era difícil encontrar alguém que se sentisse assim. Grenfell se sentia em batalha, e seu amigo poeta Wilfred Owen compôs as palavras gravadas em seu túmulo: “Meu assunto é Guerra, e a pena da Guerra. A Poesia está na pena.” Quando o povo glorificava a guerra, uma era de paz não tinha um vão por onde entrar. O mundo de hoje, revoltado pela feiúra da guerra, é um mundo preparando-se para abraçar a paz. E quando olhamos para as estatísticas atuais, as mortes do conflito militar diminuíram nos últimos setenta anos mais do que em todos os anos da história precedente.
Sim, há esses bárbaros selvagens infestando o Oriente Médio com uma propensão para decapitar, e uma guerra civil brutal, prolongada, na Síria. A história, como escrevi, tem seus altos e baixos – mas é algo como caminhar montanha acima brincando com um ioiô. Quatro anos na Síria produziram menos de um quarto das mortes dos quatro anos da Guerra na Coréia, quando três grandes potências mundiais estavam envolvidas em conflito. E nem se compara aos cataclismas da Primeira e da Segunda Guerra Mundiais ou à morte de civis inocentes por Stalinistas ou Maoístas.
Junto com tudo isso, a Organização Mundial de Saúde declara que durante um período de vinte anos, a pobreza extrema no mundo inteiro diminuiu cerca de 50%. Os cuidados com saúde também estão aumentando. Em 1970, somente 5 por cento dos bebês eram vacinados contra sarampo, tétano, difteria e poliomielite. Em 2000 este índice estava em 85 por cento, salvando cerca de 3 milhões de vidas anualmente – mais, a cada ano, do que a paz mundial teria salvado no século 20.
Tente imaginar uma era de sabedoria chegando em 1500 quando, nos países mais adiantados, apenas 5% da população adulta sabia ler e escrever. Hoje, 80% da população adulta do mundo inteiro é alfabetizada. Aqui vai apenas um exemplo que, pelo menos para mim, mantém tudo vivo: Quando eu era jovem, a Índia era um horror – fome em massa, múltiplos desastres naturais, doença e o estado de sua ecologia trouxe uma precisão de colapso total iminente. Muitos desses problemas ainda precisam ser descartados, mas agora um terço do pais com 1,2 bilhão de pessoas estão com smartphones nas mãos. Isso não é pouca coisa. Um smartphone significa uma família que entrou na classe media, com o mundo inteiro de repente aberto para eles onde quer que vão.
Não há dúvida que, com todos seus problemas concomitantes, tecnologia e comércio global têm tornado o mundo mais pacífico, próspero e saudável que qualquer pessoa educada poderia ter imaginado 100 anos atrás. Até mesmo 30 anos atrás.
A Resposta é Curta
Como eu disse, para cada problema que resolvemos, criamos muitos outros. E somente o idealista mais ingênuo poderia visualizar tudo isso arrumado levando-nos para uma era de paz e sabedoria universal. Mas então, a história nunca foi previsível.
O muro de Berlim caiu numa semana e o partido Bolchevique desapareceu de um dia para outro. O mundo revolucionou a tecnologia, comércio, comunicação e ciência nos últimos 200 anos – especialmente nos últimos 30 anos.
O feto já está plenamente formado no útero. As estacas estão todas no lugar, os instrumentos todos afinados. O seu rabino apenas quer que você seja um daqueles afortunados o suficiente para estar preparado para o grande show que está para chegar, com assentos na primeira fila e vestido para a ocasião. Tudo que nos resta é ligar nossa mente e começar a viver agora no mundo como será em breve. A essa altura, se podemos imaginá-lo, já estaremos lá.
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