Na primavera de 1967 as capitais árabes desfilaram seus exércitos e falaram abertamente sobre varrer a Terra de Israel e atirar seus habitantes no mar.
A imprensa internacional foi quase unânime em seu sentimento de que o pequeno Estado judaico, cercado e tendo menos armas que seus inimigos, tinha pouca chance de sobreviver. Parecia que, pela segunda vez numa geração, o mundo assistiria de camarote, permitindo que os inimigos do povo judeu assassinasse milhões deles.
A 26 de Iyar (5 de junho de 1967), Israel lançou um ataque preventivo em suas fronteiras sul e norte. Em apenas seis dias, o exército israelense derrotou cinco exércitos árabes em três frentes libertando a cidade antiga de Jerusalém e o Monte do Templo. A natureza milagrosa da vitória de Israel fez surgir um despertar global da alma judaica, incentivando o já existente movimento de teshuvá (retorno a D’us) às tradições judaicas.
O Lubavitcher Rebe chamou-o de um momento com proporções bíblicas, uma “oportunidade como não se via há milhares de anos.” Milhares de judeus afluíram para colocar tefilin e rezar no recém libertado Muro Ocidental do Monte do Templo.
A Guerra dos Seis Dias, evento cujas consequências políticas continuam na ordem do dia, as causas e o contexto do conflito passam longe do noticiário e, por consequência, do senso comum.
Não, não houve invasão nem ocupação do Estado palestino – mesmo porque ele não existia. Não, Israel não era apoiado maciçamente pelos EUA. Não, Israel não tinha mais armas do que os países árabes.
Após a criação, em 1964, da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), as incursões de comandos palestinos contra Israel, principalmente a partir dos territórios jordaniano e sírio, tornaram-se cada vez mais frequentes, e as forças israelenses reagiam com retaliações. Note-se que os hoje chamados territórios ocupados eram antes de 1967 ocupados por Jordânia e Egito. Cabe a pergunta: qual “Palestina” a OLP queria libertar?
Naquela década de 1960, Israel começou a construir seu sistema de irrigação nacional, para trazer água do mar da Galileia para o sul do país. Em resposta, a Síria começou a construir canais para desviar as fontes do Rio Jordão. Com o confronto sobre a divisão das águas entre Israel, Síria e Jordânia, as tensões se intensificaram, com um pico em abril de 1967.
Em 16 de maio de 1967, Nasser, o presidente do Egito, ordenou que todas as tropas da Força de Emergência das Nações Unidas (UNEF), estacionadas há mais de 10 anos na fronteira com Israel no deserto do Sinai, saíssem de lá. Enquanto o secretário-geral da ONU, U Thant, pedia esclarecimentos ao Cairo, tropas egípcias cruzaram a linha da UNEF e ocuparam alguns postos.
U Thant reuniu-se com os membros do Comité Consultivo da UNEF e informou-lhes dos acontecimentos no terreno, explicando que, se um pedido formal de retirada da UNEF fosse feito pelo governo egípcio, ele teria de cumprir, pois a Força estava lá somente com o consentimento do governo e não poderia permanecer sem ele. Seguiu-se grande divisão na ONU sobre o que deveria ser feito. Antes que uma decisão fosse tomada, os governos da Índia e da Iugoslávia decidiram retirar seus contingentes da UNEF.
Enquanto isso, o secretário-geral consultou o governo israelense sobre a possibilidade de colocar as tropas no lado israelense, mas Israel declarou que isso seria inaceitável. Pouco tempo depois, o representante do Egito enviou uma mensagem a U Thant indicando a decisão do seu governo de pôr fim à presença da UNEF no Egito e na Faixa de Gaza, pedindo-lhe que se procedesse a retirada o mais rapidamente possível. Com o fracasso das negociações, o comandante da UNEF foi instruído a retirar as tropas.
Logo após, em 22 de maio as forças de Nasser retomaram a cidade de Sharm el-Sheikh, bloqueando o Estreito de Tiran e fechando o acesso de Israel ao mar Vermelho. No final de maio, a Jordânia assinou um pacto de defesa mútua com o Egito - não custa lembrar que a Jordânia anexou a CIsjordânia e Jerusalém Oriental em 1950 e três anos depois passou a chamar a cidade de sua "segunda capital". O Iraque se juntou alguns dias depois. Os líderes árabes proclamaram que iriam “reconquistar a Palestina” de uma vez por todas. O jornal O Estado de S. Paulo, edições de 27 e 31 de maio de 1967, destacou:

A França, que apoiava militarmente Israel, decidiu retirar seu apoio no dia 3 de junho [ao contrário do senso comum, os EUA não apoiaram militarmente Israel nem na Guerra de Independência, em 1948, nem na de 1967].
Após a longa Guerra de Independência da Argélia (1954-1962), De Gaulle tinha tomado uma decisão estratégica: reforçar a estatura da França no vasto mundo árabe, o que significou manter por algum tempo um jogo duplo, que chegou ao fim quando a crescente tensão em 1967 o forçou a tomar uma posição, que chocou os israelenses: abandonar Israel.
A França tornou permanente o embargo de armas contra Israel, procurou fazer acordos petrolíferos com os Estados árabes e adotou uma retórica cada vez mais anti-Israel.
A União Soviética temia que Israel estivesse construindo uma bomba nuclear em Dimona e fez o possível para levar os árabes à guerra. Já os EUA, obcecados com a guerra no Vietnã, não deram garantia de ajuda.
Nesse contexto, a população Israel temia um novo Holocausto. Rabinos consagravam parques públicos como cemitérios, e milhares de sepulturas foram cavadas, antecipando mortes em massa. À medida que alguns israelenses cavavam túmulos, outros começaram a armazenar lápides e caixões.
O jornal O Estado de S. Paulo, edições de 28 e 30 de maio de 1967, destacou:


Apesar de tudo isso, Levi Eshkol, o então primeiro-ministro de Israel, não parecia decidido a ir à guerra, ainda que os reservistas tivessem sido mobilizados. Durante a crise, Yitzhak Rabin, então chefe de Estado-Maior das Forças de Defesa, sofreu um colapso nervoso, que mais tarde foi justificado como uma "intoxicação por nicotina".
Temia-se que o Egito bombardeasse a planta nuclear de Dimona. Havia medo de um ataque surpresa em duas ou três frentes, com o uso de gás químico e armas radioativas.
A liderança militar e até mesmo a mídia de esquerda, como o jornal Haaaretz, viam Eshkol como fraco, incapaz de liderar o país em crise - uma impressão que se fortaleceu quando, em 28 de maio, ele fez um discurso balbuciante e confuso no rádio. Eshkol entrou em pânico, enquanto tentava tranquilizar o país.
Na imprensa e no gabinete pedia-se sua demissão - ele era também o ministro da Defesa. Ben-Gurion estava tão preocupado com a possibilidade de um golpe militar, que emitiu um alerta de Sde Boker, seu kibutz no Negev.
Em 1º de junho, Eshkol foi forçado a abrir mão da pasta de Defesa para Moshe Dayan, o que também foi destacado pelo Estadão, em 2 de junho:

Em 5 de junho, Israel decidiu atacar. No primeiro dia da guerra, destruiu no solo 452 aviões do Egito, Síria e Jordânia, em sua maioria MIGs de fabricação soviética. Israel utilizou quase todos os seus 196 aviões no ataque, em sua maioria caças franceses Mirage. Somente 12 aviões não participaram da operação.
Em 7 de junho, Jerusalém foi unificada. Ouça áudio original da transmissão da Rádio Israel durante a entrada das tropas isrealenses na Cidade Velha. As falas são do coronel Motta Gur, comandante da brigada de paraquedistas, e Yossi Ronen, locutor da Rádio Israel. O coronel diz aquelas que são consideradas as três palavras mais famosas do hebraico moderno: "Har Habait beiadenu!" [“O Monte do Templo está em nossas mãos!”]. Leia o texto em inglês referente ao áudio.
Foi a primeira vez que os judeus controlaram a cidade desde a destruição do Segundo Templo pelos romanos, no ano 70 da Era Comum. No mesmo dia, Moshe Dayan discursou no rádio, diretamente do Muro da Lamentações,assegurando a liberdade religiosa:
“Esta manhã, as Forças de Defesa de Israel libertaram Jerusalém. Unificamos Jerusalém, a dividida capital de Israel, e voltamos ao mais sagrado dos nossos Lugares Sagrados, para nunca mais nos separarmos. Nessa hora – e com muita ênfase nessa hora-, estendemos nossa mão em paz aos nossos vizinhos árabes. E aos nossos concidadãos cristãos e muçulmanos prometemos solenemente liberdade e direitos religiosos plenos. Não viemos a Jerusalém por causa dos lugares santos de outros povos nem para interferir com os adeptos de outras religiões, mas para salvaguardar a totalidade da Cidade Sagrada e viver aqui em conjunto com os outros, em unidade", disse Dayan.
A reunificação de Jerusalém garantiu pela primeira vez o controle independente das três religiões sobre seus locais sagrados. Saiba mais. Em 27 de junho, o parlamento israelense aprovou uma lei, válida até hoje, garantindo que os lugares santos das diferentes religiões seriam protegidos de profanação e de qualquer outra violação.

Na campanha militar, Israel conquistou em seis dias o Deserto do Sinai, a Faixa de Gaza, a Cisjordânia e as Colinas de Golã.
A tão citada Resolução 242 da ONU pede a retirada de Israel de territórios conquistados na Guerra dos Seis Dias. A mesma resolução – mas isso é raramente citado – também pede o reconhecimento da soberania, integridade territorial, independência política e o direito de viver em paz de todos os Estados da região. Veja o texto:

No entanto, já em agosto de 1967, reunidos na cúpula de Cartum (Sudão), os países árabes haviam adotado uma postura política que ficou conhecida como a dos “três nãos”: “Não à paz com Israel; não às negociações com Israel; não ao reconhecimento de Israel”.
Em entrevista concedida em 1970 a uma TV britânica, Golda Meir, que sucedeu a Eshkol, fala sobre a dificuldade de negociar a paz com os árabes.
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