Uma jovem entrou na festa de Purim da nossa comunidade com seus lindos filhos. Quando conversamos, mencionei que iria visitar Israel dali a alguns meses para o yahrtzeit de meu pai, e ela pediu um favor. “Minha tia avó mora em Israel. Você poderia visitá-la em meu nome? Ela ficaria contente em ver você.”
Concordei, embora após considerar melhor minha concordância não fizesse muito sentido. Talvez fosse o resultado do l’chaim que eu tinha feito, pois tenho certeza que em qualquer outro dia eu não teria concordado. Não porque eu não quisesse visitar a tia avó dessa mulher, mas porque iria ficar em Israel por menos de três dias, e nem sequer visitaria minha própria avó ou muitas tias e tios que moram ali, simplesmente devido à falta de tempo. Então, como poderia visitar essa mulher que nunca conheci, a tia avó de alguém que eu tinha encontrado apenas umas poucas vezes?
Porém um compromisso é um compromisso, portanto antes de embarcar no avião peguei a informação do endereço da Sra. Esther, que era a tia avó e morava em Ramat Gan.
Meu segundo dia em Israel era a véspera de Lag BaOmer. Minha mãe e eu viajamos até Meron, o local de descanso de Rabi Shimon bar Yochai, para celebrar o feriado com milhares de outros judeus. Meu voo de retorno ao Canadá iria partir no dia seguinte às 13h10. Saí cedo pela manhã, planejando parar e visitar Esther para dar a ela lembranças de sua sobrinha e outros membros da família.
Infelizmente, à medida que eu me aproximava do centro de Israel, o trânsito ficava mais pesado e lento, e logo ficou claro que fazer uma vista a essa senhora iria atrasar o meu voo. O trânsito não estava andando, então peguei meu celular e liguei para o número da Sra. Esther. “Oi, aqui é o Rabino Meir Kaplan de Vitória, Colúmbia Britânica. Trago lembranças da sua família no Canadá que está indo muito bem. Eu estava a caminho para visitá-la, mas sinto muito – o trânsito não está se movendo, e não conseguirei chegar a tempo.”
“Estou esperando você, ansiosa por vê-lo,” respondeu ela, gentil mas firmemente. “Onde está agora?” Percebi que não estava tendo opção…
“OK, vou tentar o máximo possível,” respondi. “Tenho seu endereço, mas não estou certo de como chegar aí…”
“Não se preocupe,” ela instruiu. “Quando chegar a Ramat Gan, estacione seu carro e pegue um táxi. Pago a corrida quando você chegar aqui.”
Olhei para meu relógio e eram 10h10 da manhã. Faltavam apenas três horas para o meu voo, e eu estava indo na direção oposta ao aeroporto…
Eu sabia o quanto essa visita era importante para Esther, portanto peguei a saída para Ramat Gan e comecei a procurar por um táxi disponível. “Amigo,” falei através da janela, “pode me mostrar o caminho para a Rua Tirtza? Pago você quando chegarmos lá.”
“Siga-me”, disse o motorista, enquanto começava a passar através de ruas estreitas. Não bastava eu estar em cima da hora, quando nos aproximamos do próximo farol um motorista fazendo um contorno ilegal bateu no meu carro. Após um ataque inicial de raiva e gritos, o motorista se acalmou o suficiente para tirar fotos e trocar informações. Agora eu tinha um acidente para lidar, porém mais importante, perdi mais 15 minutos de tempo precioso!
Sete minutos depois, eu estava batendo à porta de Esther. Após alguns minutos de silêncio, uma mulher idosa saiu do elevador parecendo preocupada. “Estou aqui fora esperando você. O que aconteceu?”
“Sinto muito,” expliquei, “mas estou contente por estar aqui agora. Gostaria de poder ficar mais tempo, mas tenho apenas 10 minutos: meu voo do Aeroporto Ben Gurion parte exatamente daqui a duas horas…”
Esther levou-me até a cozinha e começou a falar. “Estou tão empolgada que não sei por onde começar,” disse ela. “Embora eu não seja religiosa hoje, esta não é eu mesma. Sofri muito, como a maioria dos judeus da minha geração, portanto de certa forma afastei-me das minhas raízes… Mas deixe-me mostrar-lhe quem realmente sou.”
Fez um gesto mostrando uma pilha de documentos e fotos que tinha preparado para nosso encontro, pegando um jornal antigo. “Veja, essa sou eu na primeira fila, pouco depois da libertação de Bergen-Belsen,” disse ela numa voz trêmula. “Cresci numa família chassídica, e frequentei uma escola Beit Yaacov.” Olhei atentamente a foto – Esther participava de um desfile com outras jovens, segurando um cartaz que dizia: Tzyon b’mishpat tipadeh v’shaveha bitzedacá– “Sion será redimido com justiça, e seus cativos com integridade.” Então li a manchete em yidish: “Grande Celebração de Lag BaOmer no Campo de Bergen Belsen.”
“Você sabe que dia é hoje?”perguntei a Esther. “Hoje é Lag BaOmer! Essa foto foi tirada com você celebrando a festa de hoje exatamente há 66 anos!”
A face de Esther empalideceu, e lágrimas rolaram de seus olhos. Ela não tinha entendido a importância da foto e nosso encontro neste dia – Lag BaOmer. Eu, também, fiquei abalado com emoção quando pensei na Divina Providência que me levara ao encontro de Esther naquela manhã, apesar dos muitos obstáculos.
Passei a maior parte da minha viagem ao Canadá imerso em pensamentos. A imagem daquelas jovens, que tinham perdido toda a família e a infância para os nazistas, marchando com orgulho judaico em Lag BaOmer sobre o solo ensopado de sangue de um campo da morte, permanecia comigo. Sessenta e seis anos depois, Esther é um verdadeiro testamento da força da nossa nação.
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