Pergunta:
Você pode lançar alguma luz sobre o costume de cobrir espelhos em uma casa enlutada? Disseram-me que, após o funeral de um parente imediato, cobrimos todos os espelhos de sua casa durante os sete dias de luto. A razão que escutei é que não devemos nos ocupar com coisas materiais e fúteis como nossa aparência durante o período de luto. Há outra explicação mais profunda?
Resposta:
Os cabalistas deram uma razão mais assustadora para cobrirmos os espelhos em uma casa enlutada. Eles escrevem que todos os tipos de maus espíritos e demônios vêm para visitar uma família em luto. Quando uma alma deixa este mundo, ele deixa um vácuo e este vazio está propenso a ser preenchido por forças obscuras. Isto se deve ao fato de que onde quer que haja um espaço não ocupado, as forças do mal desejam ocupá-lo. Desta forma uma casa enlutada, um local onde a perda de um ente querido é mais sentida, ela se torna um ímã de atração aos maus espíritos.
Esses demônios não podem ser vistos a olho nu. Mas quando se olha em um espelho, pode-se ter um vislumbre de seu reflexo no fundo. E, assim, ao cobrir os espelhos em uma casa enlutada, evitamos ficar alarmados com esta nuance.
Antes de descartarmos essa ideia como um disparate místico, vamos tentar compreendê-la de outra forma. Talvez a ideia de espíritos malignos possa ser interpretada em um nível psicológico podendo traduzí-los como demônios interiores.
Os fantasmas que visitam um enlutado são o arrependimento, a culpa ou a raiva. Quando as pessoas que estão sofrendo olham duramente para si como em um espelho muitas vezes sentem que não fizeram o suficiente pelo falecido em vida; ou não expressaram tudo o que deveria ter sido dito, ou deixaram pendências sem as tê-las esclarecido. Tenham sido eles filhos ou filhas exemplares, pais ou cônjuges ou irmãos, nossas mentes tendem a fazer malabarismos e agonizar sobre o que poderia ter sido realizado melhor e não foi. Esses pensamentos são os maus espíritos que assombram o enlutado não o deixando em paz.
Então, cobrimos os espelhos. Não desejamos olhar para esses pensamentos sombrios à espreita atrás de nós no espelho. Em um momento de pura emoção, quando a perda é tão recente e o coração é volátil, não há espaço para o auto-julgamento e culpa. Se há questões não resolvidas, haverá tempo para lidar com elas com o passar do tempo, mais tarde. Mas na semana imediatamente após a perda, devemos nos concentrar na própria perda.
O processo de luto nos conduz a uma viagem acidentada em um turbilhão de emoções misturadas. Toda emoção precisa de seu tempo para ser sentida e assimilada. Mas no meio dessa viagem acidentada, não estamos em condições de nos julgar de forma justa. Dar uma espiada em nós mesmos no espelho pode ser um exercício valioso. Mas deve ser feito quando as sombras foram dissipadas e quando então não há mais fantasmas à espreita no background.1
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