Acordei nessa manhã e vi um sol que brilhava fortemente e um céu com um profundo tom de azul.

Olhei pela janela e vi as árvores ali de pé orgulhosas, as folhas ondulando suavemente naquele alegre dia de primavera. A grama tinha um verde magnífico, e os pássaros chilreavam alegremente à distância.

As contas sobre a minha mesa estavam esperando para ser pagas. Meu trabalho esperava para ser iniciado. Minhas mensagens de voz esperavam para serem respondidas.

Era mais um dia comum para encarar. Será mesmo?

Exatamente ontem, a filha de minha prima, Chaya Mushka Spalter, faleceu. Tinha 11 anos de idade - a mesma da minha filha mais nova (que tenha longos anos). Como morava na Costa Oeste, muito longe daqui, eu não a conhecia nem a via com frequência. E agora ela se fora, levada ao seu local de descanso na Terra Santa, perto da sua querida avó, que faleceu tragicamente há alguns anos.

Durante quase três anos, Chaya Mushka tinha lutado corajosamente contra um câncer pediátrico. Ela sucumbiu quando uma campanha de tefilot, preces, estava sendo feita em seu mérito, implorando a D'us para ter misericórdia e conceder-lhe vida. Então é normal que o sol continue brilhando, que as árvores ainda estejam tremulando ao vento? Faz sentido que após uma morte tão trágica - e ultimamente, parece que não achamos estranhos esses acontecimentos - que a vida siga em frente? Mais do que isso, faz sentido que uma linda menina de 11 anos, com a vida inteira pela frente tenha de lutar contra uma doença tão terrível? E terminar sucumbindo à morte?

O Talmud diz: Bishvili nivrah há’olam - “O mundo foi criado para mim.” Para mim, Para você. Para ela. Para cada um de nós. E assim, quando a pequena Chaya Mushka se foi, uma pequena parte do mundo se foi. Para sempre.

Como as árvores ainda podem estar de pé e o sol brilhando como estava ontem? Como os pássaros podem continuar a chilrear felizes pelo céu?

Essas são perguntas para as quais não há respostas; a mente humana simplesmente não pode compreender. Como disse Viktor Frankl, neurologista e psiquiatra austríaco, além disso um sobrevivente do Holocausto: “A crença em D'us é incondicional ou então não é crença…” Não adianta negociar com D'us, argumentando: ‘Até seis mil ou até um milhão de vítimas no Holocausto eu mantenho minha fé em Ti; mas acima de um milhão nada mais pode ser feito; sinto muito, mas renuncio à minhafe em Ti…’”

E apesar disso, precisamos continuar vivendo. Precisamos seguir em frente procurando curas para doenças mortais em crianças. Precisamos continuar buscando respostas para perguntas de fé que jamais podemos entender. E mais importante, precisamos continuar procurando tornar o mundo melhor. Organizar correntes de preces para aqueles que precisam e fazer boas ações em seu mérito - como os muitos, os muitos que foram feitos em nome de Chaya Mushka.

E apesar disso, acredito também que se o mundo, olam em hebraico, foi criado para ela, como nos diz o Talmud, então com a sua morte, parte daquele olam morreu.

A palavra hebraica olam é etimologicamente relacionada com a palavra he’elem, que significa “ocultação”. Nosso mundo, como o conhecemos atualmente, é um mundo de he’elem, ocultação onde sua natureza Divina está escondida. É essa ocultação que permite o mal, e também tragédia e morte.

E é por isso que o mundo foi criado para todo e cada um de nós - para que cada um faça sua parte para revelar seu verdadeiro propósito e essência Divina. Então, embora eu não compreenda, acredito.

Acredito que com essa trágica morte de minha doce priminha, tenha havido a morte abaladora de um mundo. Acredito que o he’elem - a grosseira, horrível , trágica camada de ocultação de nosso mundo - tenha sido rasgada para permitir a abertura da radiância de bondade e Divindade.

Como disse meu tio e avô de Chaya Mushka em seu funeral, Rabino Ezra Schochet, as primeiras letras pronunciadas do nome da minha querida prima,Chaya Mushka, soletram Mashiach - aquele período de tempo no qual a presença de D'us será abertamente sentida.

Que todo o he’elem de nosso mundo esteja no final para que possamos experimentar aquela era há tanto esperada de revelação, quando poderemos enxugar as lágrimas de toda face. Para toda a etermidade.