Eu tinha um conhecimento limitado sobre Chabad. Sabia que eles faziam parte do movimento chassídico, o que para mim significava que provavelmente eram do tipo culto e fora de contato com a realidade. Eu fora abordada por membros do Chabad no campus da faculdade e nas ruas de Nova York. “Você é judia?” eles perguntavam de forma direta, e eu me afastava com ceticismo. Devido à minha opinião desinformada sobre Chabad, fiquei chocada quando descobri no ano passado que meu sobrinho Adam tinha se afiliado ao Chabad e estava morando no Brooklyn.

Fiquei ainda mais surpresa quando soube que ele tinha progredido de “ter uma namorada” para “levar a moça para conhecer minha irmã e seu marido” a “ficar noivo” numa questão de poucos meses.

Adam, com a ajuda de uma casamenteira, tinha tido encontros com várias mulheres da comunidade antes de conhecer Sara, sua noiva.

Pouco depois compareci ao meu primeiro casamento ortodoxo judaico, com chapéus pretos, homens dançando com homens, mulheres dançando com mulheres, e uma tradição cerimonial em que a noiva circunda o noivo sete vezes.

Enquanto me misturava aos convidados na festa, encontrei velhos amigos que não via há algum tempo. Sue e Rob me disseram que recentemente tinham se juntado à congregação Chabad de sua cidade. Falaram sobre o rabino, e eram participantes regulares na aula de Torá na manhã de domingo. Eles deram a Chabad uma certa credibilidade aos meus olhos, pois Sue e Rob eram pessoas inteligentes, e não me lembrava deles como sendo abertamente religiosos.

Na semana seguinte, intrigada, olhei para o Chabad na minha cidade. O centro, localizado numa rua movimentada perto de uma área residencial, não tinha placa, mas a enorme menorá posicionada na frente proclamava claramente que era um centro judaico. Mais tarde eu soube que os centros Chabad são chamados “Casas de Chabad” e estão localizados em áreas residenciais, portanto estão a uma distância da comunidade que é possível percorrer a pé. Um Beit Chabad geralmente dá aulas e palestras sobre tópicos judaicos, serviços religiosos, refeições de Shabat e eventos especiais. Eles não cobram pela filiação - se você é judeu, é um membro.

O website Chabad local informava sobre uma aula para mulheres nas quartas-feiras pela manhã, e decidi frequentá-la. Na quarta-feira seguinte toquei a campainha no Beit Chabad, e a porta foi aberta por uma mulher jovem usando um longo vestido listrado. Ela me olhou com surpresa e então apresentou-se como Chava. Aparentemente, a aula tinha começado uma hora antes, às 9:45. Pedi desculpas, explicando que eu pensara que começasse às 10:45, e a segui através do hall de entrada até uma sala com uma grande mesa retangular. Eu não queria interromper. Três mulheres de meia-idade estavam sentadas ao redor da mesa, obviamente as participantes da aula de Torá, com livros abertos à sua frente. Apresentei-me e as encorajei a continuarem sua discussão; eu não queria interromper.

Chava deu-me um livro, aberto na página que elas estavam discutindo. O título era “Preparando-se para um Casamento”, e Chava explicou que nosso relacionamento com D'us, “Hashem”, era como um casamento: o vínculo fica mais forte com o tempo e esforço.

Ela revisou os conceitos que o grupo tinha discutido no decorrer da última hora. Seus comentários eram diferentes de tudo que eu já tinha ouvido antes: “Quando ouvimos nossa alma Divina, versus nossa alma animalesca, Hashem fica feliz.”

“Nada acontece a você por acaso; é parte do plano de D’us.”

“Quando coisas más acontecem, as pessoas questionam se Ele desaparece. Ele está sempre ali? Ele está aqui, e tudo que acontece é parte do plano. Não sabemos o final da história, o plano divino.”

“Quanto mais você fortalece sua fé, mais libertadora ela é.”

Quanto mais eu ouvia, mais me sentia desconfortável. Não acreditava que a Torá fora dada por D'us. Na verdade, eu nem sequer acreditava em D'us. Queria aprender as histórias e interpretações da Torá por causa do livro básico do povo judeu. Como eu poderia entender realmente meu legado judaico sem pelo menos um entendimento suprficial dos ensinamentos da Torá? Sim, eu tinha ouvido histórias da Bíblia na pré-adolescência na escola hebraica, mas não prestara muita atenção nelas - pareciam arcaicas e irrelevantes. Agora, como adulta, eu acreditava que poderia vê-las como narrativas pitorescas com significado profundo sobre valores judaicos. Mas como eu poderia aprender Torá com pessoas que interpretavam suas palavras literalmente e acreditavam que D'us é todo poderoso?

Quando a aula de Torá terminou, passei algum tempo conversando com as outras mulheres. Contei a elas sobre minha exploração espiritual do Judaísmo, Budismo e humanismo, e como eu queria ter uma melhor compreensão da Torá para ser uma judia mais bem informada. Respirei fundo e confessei que não acreditava em D'us mas sentia um senso de identidade judaica e um laço cultural com meu legado. Questionei se eu teria mais valor continuando com a aula, uma vez que minhas visões religiosas eram tão diferentes das delas.

Todas as mulheres me encorajaram a continuar indo às aulas. Chava comentou que o conteúdo dessa aula de Torá específica era muito mais filosófico que as outras aulas, e ela descreveu Chabad como “não discriminatório” sobre crenças religiosas. Explicou que elas estavam ali simplesmente para ensinar e prover um centro comunitário para judeus no bairro.

Depois que as outras alunas saíram, Chava mostrou-me o Beit Chabad e explicou que ela, o marido e quatro filhos pequenos moravam no andar de cima (os dois mais velhos moravam em yeshivot Chabad). Chava mostrou-me a sinagoga. Ela era calorosa e amigável, e me encorajou a assistir à próxima aula de Torá.

Eu me senti como um membro bem-vindo da comunidade Chabad desde que entrei ali pela primeira vez. Chabad se tornou uma parte importante da minha contínua jornada espiritual, e embora eu ainda não acredite em tudo que é ensinado nas aulas, estou encantada com as histórias dos meus antepassados, e encontro grande significado na narrativa. Nossas discussões nas aulas de Torá têm me ajudado a entender as interpretações dos rabinos, e esse conhecimento tem transformado o texto antigo em valiosas lições éticas que posso aplicar na minha vida secular. Minhas visitas a Chabad me permitem escapar do burburinho da vida cotidiana durante uma hora, concentrar-me em meu crescimento interior e na espiritualidade, e me deixam renovada e inspirada para levar uma vida mais significativa.