“Uma grande quantidade de inteligência pode ser investida na ignorância.”
- Saul Bellow

“A luz viaja mais depressa que o som. É por isso que muitas pessoas parecem mais brilhantes até que você as ouve falar.”
- Autor Desconhecido

“Somente duas coisas são infinitas, o universo e a estupidez humana, e não estou certo sobre a primeira.”
- Albert Einstein


Em muitas edições da Torá, um comentário interessante é inserido no Livro de Levítico (Vayicrá), na porção dessa semana (Shemini). Entre as palavras “pergunte ele perguntou” (“derash” e “derash” no original hebraico) está escrito: “Metade das palavras da Torá.”

O que isso significa é que essas palavras “pergunte ele perguntou” – assinalam o ponto médio da contagem de uma palavra na Torá. O primeiro “pergunte” completa a primeira metade dos cinco livros de Moshê; o segundo “pergunte” começa a segunda metade da Torá.

Os comentaristas bíblicos, sensíveis ao fato de que até mesmo aspectos menos importantes, aparentemente eventuais da Torá, contêm camadas de significado, abordam o simbolismo por trás do fato de que o ponto médio da Torá esteja entre essas palavras “pergunte ele perguntou”. Uma das explicações mais bonitas é dada por um dos grandes mestres chassídicos.

Ele sugere que a Torá está tentando nos ensinar que ela inteira – as duas metades – versam sobre pergunta, e na busca por aprender, compreender e interiorizar as verdades e perspectivas da Torá. Ser judeu é permanecer para sempre um estudioso da sabedoria de Torá.

“Pergunta ele [Moshê] perguntou” – este é o ponto central da Torá, porque o próprio Moshê, o extraordinário erudito e profeta, jamais deixou de inquirir e pesquisar. Moshê sabia que o mais essencial componente necessário para absorver Torá é o nosso eterno anseio e nossa prontidão para estudar continuamente, explorar e buscar conhecimento. Moshê percebeu que depois de todas as suas descobertas, ele tinha atingido somente o meio da Torá, e que havia muito mais à frente que ele ainda não tinha aprendido.
Essa mensagem é vital para os judeus de hoje.

Porta-Vozes Ignorantes

Há algum tempo fui convidado para um simpósio patrocinado pela Federação UJA sobre a continuidade judaica. Um dos palestrantes sugeriu que introduzíssemos uma reforma na observância judaica a fim de tornar a religião mais atrativa para os jovens.

Quando chegou a minha vez de dirigir-me à plateia, pedi para discordar do apresentador acima citado. Seu argumento, eu sugeri, foi refutado pelo fato incontestável de que os únicos que conseguiram manter seus números judaicos e até aumentá-los dramaticamente foram aqueles que se opuseram à reforma na observância judaica. Talvez nossa juventude esteja procurando não a reforma, mas o Judaísmo ensinado e praticado por Rabi Akiva, Rashi, Maimônides e o Baal Shem Tov? Talvez o que era necessário não era uma forma diluída de Judaísmo, mas sim uma apresentação mais intensa de Judaísmo saturado com paixão espiritual, idealismo autêntico, profunda erudição e relevância pessoal?

Mais tarde, numa conversa particular, perguntei ao apresentador se ele poderia dar o nome das 53 porções dos Cinco Livros de Moshê e os títulos dos 63 tratados do Talmud, o corpo mais básico de lei e literatura judaicas. De memória, ele conseguiu nomear apenas 10 das porções bíblicas e nem um dos tratados talmúdicos.

“Imagine,” eu disse a ele, “se fôssemos a um simpósio sobre Shakespeare, e uma das palestras sobre Shakespeare fosse ensinada aos jovens de hoje por um indivíduo ignorante dos títulos das 38 obras de Shakespeare? Ou imagine um simpósio sobre o futuro da filosofia, onde um dos palestrantes não fosse bem versado na República, na Crítica da Razão Pura ou Além do Bem e do Mal? Não seria constrangedor para o tema que eles estão discutindo? Ele me disse que em sua opinião a pessoa não precisava ser bem versada em Torá para apresentar um argumento sobre o futuro do Judaísmo.

Por que o Judaísmo é visto como uma disciplina tão inferior, que não exige um rigoroso domínio? Por que nos campos da biologia, ciência, arte ou história ninguém ousaria apresentar opiniões fortes sobre seus futuros sem estudar intensamente esses assuntos durante anos? Por que tantos judeus pensam que o Judaísmo – uma tradição ensinada e desenvolvida no decorrer de três milênios, consistindo de dezenas de milhares de volumes, muitos deles escritos por algumas das mais notáveis mentes humanas – é um conjunto de leis arcaicas e rituais bonitinhos?

Talvez o comentário mais triste sobre a vida judaica nos Estados Unidos é que muitos líderes das principais organizações e instituições judaicas não enviaram os próprios filhos a escolas judaicas, privando-os de uma educação judaica séria.

Que pena. Eles veem a si mesmos como líderes e ativistas judaicos; porém nem sequer pensam que a tradição judaica tenha algo de realmente valioso para ensinar a eles e aos seus filhos sobre vida, morte e tudo que está no meio. O maior obstáculo para a descoberta, disse certa vez um sábio, não é a ignorância; é a ilusão de conhecimento.

A Torá, o mais profundo projeto para a vida jamais articulado na história da humanidade, pertence a todo e cada judeu. Está na hora, mais do que na hora, de todo membro do nosso povo dar a si mesmo o presente de descobrir sua beleza e sabedoria sem paralelos.