Quando os judeus do mundo inteiro celebram Chanucá, lembram da vitória dos macabeus contra o governo brutal de Antiochus IV, designado “Harasha” (o perverso) pela tradição rabínica. O principal objetivo de Antiochus era helenizar os judeus na antiga Terra de Israel forçando-os a adotar os costumes gregos no lugar dos judaicos.
Dentre os costumes judaicos que Antiochus baniu estava a circuncisão. Como era o símbolo do pacto entre D'us e o patriarca Abraham, Antiochus entendia que se o Judaísmo fosse compreensivelmente destruído, a circuncisão teria de ser proibida por lei.
Quase dois mil anos depois, uma campanha contra a circuncisão emergiu novamente, desta vez na Europa. É preciso dizer logo no início que essa não é uma campanha no estilo de Antiochus; ninguém foi perseguido nem preso, e os que advogam o banimento da circuncisão enfatizam que sua abordagem é baseada em persuasão, não coação. Mesmo assim, os ecos históricos de governantes cruéis como Antiochus, e mais tarde o imperador romano Adriano, que também baniu a circuncisão, deveriam explicar parcialmente por que os judeus europeus têm ficado incrédulos com outra tentativa de romper esse símbolo do pacto divino.
Durante a última década, nos acostumamos a ver o antissemitismo em relação ao ataque à legitimidade de Israel. Mas nos últimos dois anos, os judeus têm enfrentado outra ameaça distinta no contexto de uma ofensiva contra os rituais judaicos. Em países tão variados como Nova Zelândia e Polônia, o abate ritual de animais para consumo casher tem passado por ataque legal. E de San Francisco, onde campanhas anti-circuncisão têm reunido pessoas sob o estandarte de um desenho antissemítico chamado “Homem Prepúcio”, até em países europeus como Alemanha e Noruega, tem havido esforços semelhantes para colocar a circuncisão como algo fora da lei.
É notável que assim como os anti-sionistas atuais, os anti-ritualistas negam furiosamnte que estão de alguma maneira motivados pelo antissemitismo. Assim como a oposição à existência de Israel é motivada pela preocupacão com os direitos humanos palestinos, como nos informam, também a oposição ao ritual judaico é baseada sobre um comprometimento com o bem-estar dos animais e os direitos dos bebês do sexo masculino. Tudo isso - para não ir muito longe - é uma grande bobagem.
Vejamos ao pé da letra o discurso anti-ritualista de defensores como Anne Lindboe, a conselheira de bem-estar da criança do governo norueguês. Lindboe diz que sua oposição à circuncisão vem de um comprometimento com os direitos dos bebês de serem poupados de um “procedimento que é irreversível, doloroso e arriscado.” Se é este o caso, então onde estão os protestos em massa daqueles - como eu e muitos que estão lendo esta coluna - que “sobreviveram” a este mesmo procedimento? Não sinto que meus direitos foram violados pela minha circuncisão, e suspeito que muitos de vocês sentem o mesmo. Em outras palavras, não somos os equivalentes judaicos dos milhares de crianças católicas sexualmente abusadas por padres predadores, o que resultou num conhecido e justificado escândalo que consumiu o Vaticano.
“Isso não importa”, você poderia esperar que Lindboe, ou a assembleia parlamentar do Conselho da Europa, que também se opõe à circuncisão, responda. “Os bebês têm direitos, mesmo que não possuam os meios de comunicação para expressá-los.” Muito bem, então - Vamos concluir portanto que os pais não têm jurisdição sobre o corpo de seus filhos? Vamos encaixar a circuncisão, uma operação essencialmente isenta de danos com benefícios provados para a saúde sexual, com a prática bárbara de Mutilação Genital Feminina (FGM), como faz o Conselho da Europa?
O que está realmente envolvido aqui é uma tentativa insidiosa de reprimir os direitos civis de judeus e muçulmanos, que também ordenam a circuncisão para meninos. Não posso dizer com certeza se os cruzados anti-circuncisão perceberam que a lógica de sua posição é uma sociedade onde tanto judeus quanto muçulmanos são incapazes de viver. Mas claramente, esse não é um resultado que os incomode abertamente.
Estamos, obviamente, muito longe de um banimento legal. A Europa de hoje não é o domínio de Antiochus, nem dos nazistas, que famosamente baniram a cashrut três meses após subir ao poder em 1933. Porém, uma prática não precisa ser proscrita para se tornar estigmatizada. Após anos de enganar Israel, partes da elite educada da Europa está fazendo o mesmo com o ritual judaico. Há quanto tempo ouvimos relatos de meninos judeus sofrendo bullying na escola porque são circuncidados?
Não admira que uma recente pesquisa da União Europeia tenha mostrado que quase 50 por cento dos judeus europeus têm pensado em emigrar. Com essa situação, quem não pensaria?
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