Durante os últimos dias de sua vida, de 1905 a 1914, o Ridvaz – Rabino Yaakov Dovid Wilovcky – vivia na cidade santa de Tsfat. Antes disso, ele foi o rabino chefe da cidade de Slutzk, Polônia e no começo dos anos 1900 foi rabino em Chicago-EUA. Ele foi considerado um dos gênios da Torá de sua geração.
Numa tarde fria de inverno em Tsfat, o Ridvaz veio para o shul (sinagoga) mais cedo do que o usual. Era o yahrzeit (aniversário de falecimento) de seu pai. Ele foi até o shtender (púlpito para reza) e ficou perdido em pensamentos. Parado lá de pé por alguns momentos, seus olhos se encheram de lágrimas.
Os outros homens que chegaram no shul, para a oração de Minchá, perceberam que ele estava chorando. Sabendo que era o yahrzeit de seu pai, ficaram distantes em respeito ao seu sentimento. Eles entenderam que o rabino estava imerso em memórias de seu passado.
No entanto, um amigo de longa data se aproximou e perguntou-lhe. “Por que você está tão triste?” ele perguntou. “Seu pai faleceu com 80 anos de idade, certamente não era um homem jovem. E ele faleceu há cinquenta anos! Nossos sábios dizem que existe um decreto para que a consternação por causa uma pessoa falecida desapareça do coração, certo?”
“Vou te contar,” falou calmamente o Ridvaz.
“Eu estava pensando sobre a época em que eu era criança, e meu pai conseguiu para mim o melhor professor que havia na cidade, Rabino Chaim Sender, para ser o meu tutor particular. A mensalidade do Rabino Chaim era um rublo por mês – um valor bem alto para aquela época, especialmente para meu pai, que era um homem pobre. Ele lutava muito para conseguir esse dinheiro no final de cada mês.
“Meu pai nos sustentava por meio de seu trabalho – ele construía fornos. Houve um inverno em que não se encontrava cimento nem gesso no mercado, e meu pai não conseguiu construir nenhum forno. Consequentemente, ele não pôde pagar a mensalidade do Rabino Chaim Sender. Passaram-se três meses e então chegou o dia em que voltei para casa com uma carta de meu tutor dizendo que não poderia continuar me ensinando, a não ser que recebesse seu salário na manhã seguinte. Quando meus pais leram aquela carta, o mundo escureceu diante deles, pois minha educação baseada nos ensinamentos da Torá era tudo para eles!
Naquela noite, meu pai foi para a sinagoga como sempre. Lá ele soube que tinha um certo homem rico que tinha reclamado que a equipe que estava construindo a casa para seu filho e sua futura nora não conseguiram entregar o forno por causa da falta de cimento e gesso. O homem rico tinha oferecido seis rublos para qualquer um que lhe conseguisse um forno. Na Rússia, um forno era absolutamente fundamental em qualquer casa, pois era usado para aquecer as casas e assar alimentos. Meu pai voltou do shul e discutiu o assunto com minha mãe. Eles chegaram num acordo: meu pai desmontaria o nosso próprio forno, tijolo por tijolo, e usaria os materiais para construir um novo forno para o filho daquele homem rico. Eles então teriam seis rublos para pagar ao meu tutor.
Meu pai colocou o plano em ação imediatamente. Ele levou então o forno para o homem rico e recebeu em troca os seis rublos. ‘Diga ao seu professor,’ meu pai falou, ‘que três desses rublos são para o pagamento do que devo a ele, e os outros três são para os três próximos meses - para as aulas do meu Yankel Dovid!’
Foi um inverno rigoroso aquele ano, fazia muito frio e gelava nossos ossos. E tudo isso, para que eu tivesse o melhor professor e crescesse no estudo de Torá!
“Hoje estava frio lá fora,” continuou o Rabino Ridvaz, “e pensei que, quem sabe, poderia organizar um minian (grupo de dez homens judeus necessário para a recitação de certos trechos especiais da oração, como o kadish dos enlutados) para vir até minha casa em vez de rezarmos no shul. Então decidi, em homenagem ao meu pai, que deveria fazer um esforço especial e vir hoje à sinagoga. Ao chegar aqui, há pouco tempo, lembrei do sofrimento de minha família naquele terrível inverno há muito tempo – sofrendo por minha causa pela preocupação com meu estudo de Torá. Foi por isso que chorei. Lembrei do amor sem fim e da devoção de meus pais, tudo por causa de sua dedicação em assegurar que seu filho se ligasse à fonte da Vida! Se não fosse por seu sacrifício, eu não teria crescido e me capacitado para conseguir escrever meu comentário sobre o Talmud Yerushalmi.”
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