Pergunta:

Qual é a posição do judaismo no que se refere a proteção dos animais e a natureza de forma geral?

Resposta:

O homem foi a última criação Divina do Gênesis. O motivo para isto é explicado por nossos sábios no Talmud (Sanhedrin 38a) de duas formas antagônicas. Por um lado este fato vem nos ensinar que o homem é o objetivo de toda a criação, e todas as demais criaturas foram feitas para servi-lo. Ele foi criado por último, para encontrar um mundo perfeito pronto para dele se aproveitar. Por outro lado, isto é uma maneira de controlar sua arrogância, pois para um orgulhoso falamos que até mesmo um mosquito o precedeu. De uma forma geral existem na natureza quatro reinos: mineral, vegetal, animal e humano. Estes foram aqui enumerados de forma crescente no que se refere à sua importância espiritual. Na visão mística da Criação, o objetivo de cada um destes reinos é elevar-se ao nível superior. Os sais mineirais que alimentam as plantas elevam-se ao nível vegetal. O mesmo ocorre quando um animal se alimenta de vegetais. O objetivo final destes três é ser elevado humano, quando este se alimenta dos mesmos de forma permitida, ou usufrui destes para o seu benefício. A missão do homem é a mais nobre de todas. Ele deve se elevar ao nível Divino, ao cumprir Seus mandamentos. Desta forma, ao abater um animal da forma casher para ser consumido, ou ao usarmos um cavalo para transporte, não estamos cometendo um atentado contra a natureza, mas simplesmente auxiliando esta espécie a alcançar seu objetivo ao nível do ser.

Não obstante, existem várias leis e preceitos na Torá que proíbem o homem de maltratar os animais e a natureza de forma geral. A Torá nos proibe por exemplo de cortar uma árvore frutífera. Esta proibição, chamada de “bal tashchit”, nos impede de destruir ou esbanjar qualquer coisa desnescessariamente, ou de usar recursos natu- rais de forma incontrolável, a ponto de destruí-los. Rabi Yossef Yitschac, de abençoada memória, o Rebe anterior de Chabad, relatou que certa vez em sua infância foi repreendido por seu pai ao cortar uma folhinha de uma árvore sem motivo. Seu pai lhe explicou que para cada folhinha é criado um anjo para protegê-la.

Há também uma proibição na Torá de causar sofrimentos a qualquer animal, chamada de “tsaar baalei chayim”, que nos proibe de molestar um animal mesmo quando este está a serviço de um ser humano. Conforme algumas ideias de nossos sábios, este é um dos motivos pelos quais a Torá nos proíbe de pegar ovos ou filhotes de pássaros, sem antes expulsar a mãe do ninho.

Apesar de ser permitido o abate de um animal para alimento, aquele que participa de caçadas ou pescas esportivas ou de lazer, sem o intuito de se alimentar, não é bem visto pela lei judaica. A pessoa que se dedica a isto é considerada inapta para prestar qualquer testemunho por não ser confiável. À luz do citado acima entendemos que existe um equilíbrio nas leis judaicas entre o usufruto permitido das fontes da natureza e a proibição da destruição e prejuízo da mesma. Qualquer exagero em ambos os lados, ou extremismo, não é bem visto pela Torá. Várias vezes em seus discursos o Rebe relatou que havia uma nação cujas leis para proteção de animais eram muito rigorosas, mas não hesitou em torturar, matar e exterminar seis milhões de judeus...

Que D’us ilumine a mente dos seres humanos para que possamos juntos edificar um mundo cada vez melhor.