O que faz uma sulista de fala arrastada, skatista, apreciadora de piadas, estudante chassídica, preparar um yuch (canja), com bolas de matsá na fazenda de seus pais no sudeste dos Montes Apalaches?
Yochana Coleman põe abaixo qualquer cliché. Desde pequena, ela gostava de ser diferente. A mãe lembra-se dela como uma criança séria, fazendo perguntas que normalmente não se faz aos pais, às professoras da escola e a ministros.
A mãe judia de Yochana e seu pai não-judeu não esconderam as origens judaicas da menina, mas isso era mencionado como um insulto. Seus pais a criaram como Batista do Sul, sendo eles próprios missionários. Ela se lembra "de saber simplesmente pelo DNA" que algo estava errado. Durante toda a infância de Yochana, de ativo treinamento na igreja, essas sensações permaneceram.
Yochana matriculou-se na Faculdade Bíblica de Colúmbia, entre as melhores do mundo. "A igreja ensinava que o Judaísmo é totalmente falso, e se você acreditar ou segui-lo, vai queimar no inferno." Esse assustador ensinamento manteve sua instintiva dissonância mais ou menos sob controle. Mesmo com a camada de verniz Batista do Sul, porém, "crescer judia significava que eu era diferente. Por dentro eu sabia que algo era esperado de mim, embora eu não tivesse certeza do quê."
Mentores ajudaram Yochana a manter viva sua centelha judaica. "Durante toda a minha jornada, pessoas que eu jamais tinha esperado apareciam do nada para dizer: 'Não desista!' Houve uma mulher na igreja que escutou meu questionamento – ela me encorajou a desafiar e a nunca desistir.
"Desde criança eu queria aprender hebraico. Meu professor não-judeu de hebraico na faculdade tinha um PhD do Hebrew Union College. Quando ele viu minha paixão pelo hebraico, disse-me para me inscrever num Templo próximo.
Passei meu primeiro Rosh Hashaná numa sinagoga e tive um estalo! Foi espantoso! Decidi que eu tinha de continuar indo ali, mas a escola proibiu."
Outra surpreendente advogada apareceu. Uma professora chamada Ginny Hoyt, que incentivou Yochana a manter-se casher... sem saber. Ela tinha convidado um grupo de alunos para jantar e então desculpou-se com Yochana por ter preparado presunto. "Não tem problema," assegurei a ela, "fui criada com isso."
"Ela me deu um olhar sério: 'Mas você é judia!'
’Então, sou uma judia pagã!’ disse eu exasperada.
Ela disse: 'D'us a fez judia e espera que você viva como tal!'
Fiz questão de comer o presunto, servi-me uma segunda vez – e meu corpo inchou!
A Sra. Hoyt deu-me um olhar que dizia claramente 'Eu não falei?' e eu fiquei tão inchada que precisei de muletas durante três semanas!
Eu estava aprendendo a manter-me casher e trabalhando ao mesmo tempo com o Ministério do Povo Escolhido, quando eles me disseram: 'Não queremos você aqui – você é uma aberração; se você manter-se casher ofenderá alguns dos nossos membros não-judeus!'
Quando a Faculdade Bíblica onde eu trabalhava como bibliotecária percebeu que eu estava realmente buscando o Judaísmo, deram um ultimato. 'Seja como nós ou caia fora – não vamos ter uma judia trabalhando aqui!' Deram-me um papel para assinar, mas eu mal os escutei, concentrada em minha conversa interior, na qual uma voz estava dizendo: 'Você vai negar Minha Unicidade?'
Minha resposta à Faculdade veio das profundezas da minha alma. Rasguei o papel e disse com orgulho: 'Nasci judia, vivo como judia, e morrerei como judia!'
'Sinto muito por ouvir isto,' foi a resposta do funcionário.
Sorri e com um 'Eu não!’ saí dali”.
Embora sem dinheiro, Yochana sentiu uma nova liberdade e começou a buscar seriamente o Judaísmo. Tentou diversas sinagogas. Uma sexta-feira à noite ela apareceu numa sinagoga usando kipá, jaqueta de couro, jeans e tênis. Yochana foi levada à seção feminina dessa sinagoga ortodoxa. "Ei, estou na sinagoga errada, disse eu. Mas então eles começaram a cantar Lecha Dodi para dar as boas vindas ao Shabat – era como se todos os anjos tivessem descido, tudo parou!" recorda ela.
Após algum estudo, certo dia, em 1996, Yochana viu Chabad.org enquanto viajava na Internet. "Passei 12 horas ininterruptas no site. Achei! Gritei para o teclado." Desde então, tudo entrou nos eixos. Ela se conectava com Chabad de Columbia para aprender tudo que pudesse.
O próximo passo de Yochana foi o Instituto Feminino Machon Chana no Brooklyn. Ela acompanhou seus estudos de Torá nesta instituição de estudos feminina de diferentes esferas da sociedade, e encaixou-se bem naquela comunidade calorosa e dinâmica. Começou a comprar livros desenfreadamente, relata em seu diário, como se eu estivesse a ponto de mudar-me para um lugar onde “não teria muito acesso.”
A premonição de Yochana foi acurada, pois o futuro trouxe a esta jovem corajosa o maior desafio da vida. Em 2002, Yochana sofreu três derrames e instalou-se nela uma severa esclerose múltipla. Durante algum tempo ela conseguiu ficar em Nova York, com a ajuda de muitas amigas. "Se você chegou a ver um patinete vermelho correndo pelas ruas ou calçadas… era eu!"
As "calçadas interessantes" de Nova York se tornaram um problema muito difícil de contornar à medida que os sintomas da esclerose múltipla se agravavam, e por fim ela teve de voltar para a fazenda da família.
Graças à Internet e a seu indomável espírito, Yochana divulga sua amalucada versão de brilho do sol e humor a fãs ao redor do mundo. Seu site, Yobee Whacky World (O Mundo Maluco de Yobee), está repleto de retalhos interessantes e inspiradores de sabedoria, temperados com bom humor. Ela vende seus itens extravagantes e ilustrados com cartoons na yobeeland! E distribui palavras de animação, fortaleza e uma pungente visão na rede de alunas do Machon Chana espalhadas pelo mundo.
Yochana continua sua educação judaica. Estuda o Talmud em CD, e permanece conectada. Seus Shabatot solitários e simples certamente são valorizados no Alto, quando ela acende as velas e contempla o campo lá fora...
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