A porção da Torá desta semana, Bo, fala das últimas três pragas que caíram sobre o Egito, e do Êxodo do povo judeu. Começa com D’us ordenando a Moshê que este vá ao faraó para adverti-lo da próxima praga de gafanhotos. D’us, no entanto, declara que o faraó não dará atenção ao aviso: "Pois Eu endureci seu coração… para que vocês digam nos ouvidos de seu filho e dos filhos de seu filho aquilo que Eu fiz no Egito."
Disso aprendemos que os gafanhotos não vieram como punição pela recusa do faraó em considerar o aviso: D’us tinha endurecido seu coração para que ele fosse incapaz de concordar com a libertação dos judeus. Mas se é este o caso, não é injusto D’us punir o faraó com uma praga, quando o Próprio D’us impediu que ele acedesse ao pedido de Moshê?
Os comentaristas explicam que durante as cinco primeiras pragas, o faraó tinha livre arbítrio; ele poderia ter permitido que os judeus partissem. Foi somente depois que o faraó se rebelou contra D’us – "Quem é D’us, para que eu deva ouvir Sua voz?" – que seu livre arbítrio lhe foi tirado. Esta punição claramente se apropria ao crime: o faraó questionou a autoridade de D’us e vangloriou-se de seu próprio poder, portanto foi demonstrado a ele que ele não tinha o poder de tomar suas próprias decisões. O faraó foi então totalmente subjugado à vontade de D’us.
Além disso, o comportamento do faraó durante a praga de gafanhotos sublinhou sua impotência. Quando até seus servos imploraram para que ele libertasse os judeus – "Deixe o povo ir… Não sabe ainda que o Egito está perdido?" – o faraó concordou imediatamente e disse a Moshê e Aharon: "Vão adorar o seu D’us." Mas naquele mesmo instante D’us endureceu seu coração e o faraó foi forçado a renegar sua promessa.
Mesmo com estas explicações, ficamos ainda com um problema de ordem filosófica. Por que Moshê e Aharon tiveram de passar pelas etapas de emitir uma advertência formal se eles sabiam que não havia chance de que o faraó concordasse com o pedido deles?
Está explicado no Tanya, a obra primordial da filosofia Chabad, que mesmo uma pessoa tão mergulhada no mal que "não dispõe dos meios para se arrepender" – mesmo esta pessoa pode superar e encontrar seu caminho de volta à integridade. Até o mais corrupto e abominável pecador pode voltar a D’us.
Se o faraó, totalmente egoísta, perverso e privado de seu livre arbítrio, pudesse ter impedido as pragas finais de cair sobre seu país, fazendo um supremo esforço para superar o endurecimento de seu coração, muito mais ainda é possível para cada judeu dominar os traços negativos de seu caráter.
Uma alma judaica Divina é chamada "uma verdadeira parte de D’us", e está sempre em sua posse; a alma permanece fiel a D’us, mesmo se o corpo comete um pecado. Um judeu sempre tem o poder de fazer teshuvá, de retornar a D’us e viver em harmonia com sua verdadeira essência. D’us aguarda o retorno de um e todo judeu, pois ele pode pecar apenas externamente, e sua natureza íntima é intocada e sagrada. Adaptado das obras do Rebe.
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