O corpo físico de Rabi Yossef Yitschac Schneersohn, sexto Rebe de Lubavitch, foi encarcerado na infame Prisão Spalerno, porém seu espírito indomável continuou completamente livre.

Apesar das severas torturas físicas e psicológicas a ele infligidas pelos cruéis e rudes carcereiros, ele jamais vacilou na sua crença em D'us e na sua devoção ao Judaísmo.

Em 15 de Sivan, após uma noite interminável de tortura, ele exigiu que lhe entregassem seus tefilin. "Esqueça!" riram os torturadores. "Jamais os receberá enquanto estiver aqui!"

"Nesse caso, declaro que vou entrar em greve de fome. Até que me entreguem meus tefilin, não vou comer nem beber nada, e os prisioneiros da minha cela serão testemunhas do meu jejum."

O Rebe ficou na cela escura rezando em voz alta, enquanto seus companheiros de cela permaneciam num silêncio respeitoso.

Nem o ambiente assustador nem as coisas profanas gritadas pelos guardas conseguiam permear as profundas meditações do Rebe.

O Rebe continuou sua greve de fome durante os dois dias e noites seguintes. Às dez horas daquela noite foi levado para um interrogatório. Havia três interrogadores: dois judeus – Lulov e Nachmanson – e um não-judeu, Dachtriov. A sala era grande e as paredes de mármore alinhavam-se tubos grandes que permitiam aos agentes da GPU na sala adjacente ouvir e transcrever o interrogatório.

Quando o Rebe entrou na sala, voltou-se aos seus interrogadores e disse:
"Esta é a primeira vez que entro numa sala e nem uma única pessoa se levanta do seu lugar!"
"Você sabe onde está?" perguntaram a ele.
"Claro. Sei que este é um lugar onde NÃO é preciso colocar uma mezuzá. Existem outros locais assim, como por exemplo, um estábulo e um banheiro."

O Rebe recusou-se a ficar intimidado e declarou furioso: "Vocês não têm o direito de acusar-me! Devolvam meus objetos!"

Porém eles começaram a ler as acusações contra o Rebe.

Enfrentar as forças reacionárias da URSS; contra-revolução; exercer influência sobre judeus russos; divulgar a religião; corresponder-se com estrangeiros e passar informação sobre a União Soviética, etc.

O Rebe explicou que ele não impunha sua vontade sobre ninguém; a Chassidut influencia pelo exemplo, não pela força ou poder.

Cento e oitenta anos antes, seu ancestral, Rabi Shneur Zalman, tinha sido forçado a explicar os dogmas da Chassidut aos interrogadores do Czar; agora Rabi Yossef Yitschac tinha de fazer o mesmo aos interrogadores soviéticos.

O Rebe respondeu a todas as acusações, e então lançou palavras duras a Lulov, dizendo: "Escute. Talvez você pense que vai dar início a um novo caso Beilis [a infame acusação de libelo de sangue], mas lembre-se como aquela tentativa falhou." O Rebe continuou a refutar dessa maneira todas as palavras deles.

Naquele momento, Nachmanson entrou na sala e relatou o seguinte caso: "Lulov, você sabia que meus pais não tinham filhos até que foram pedir uma bênção ao Rebe de Lubavitch? Este é o homem, bem aqui… e eu sou o filho que nasceu." Os interrogadores riram desbragadamente pela ironia.

O interrogatório durou a noite toda.
Ao final, Lulov explodiu furioso: "Mais 24 horas e você será fuzilado!" Esta era uma possibilidade real naquela época.

Sofrendo dores lancinantes pelas surras que tinha recebido, o Rebe continuou sua greve de fome até sexta-feira, quando seus tefilin e livros lhe foram devolvidos.

Naquela hora, o Rebe anunciou que comeria apenas alimentos trazidos de sua casa. Naquele Shabat, recebeu três chalot inteiras assadas em casa (um exemplo do novo tratamento que passaria a receber).

O guarda que anteriormente tinha sido tão cruel, agora saía de seu caminho para acomodar o Rebe. Como o Rebe tinha pedido, o guarda batia à sua porta para indicar a hora da prece noturna, e na conclusão daquele Shabat, o Rebe recebeu dois fósforos para a santidade do Shabat e a semana mundana.

Em 12 de Tamuz, Rebe Yossef Yitschac foi libertado da prisão e da morte certa.

Treze anos depois, o Rebe chegou aos Estados Unidos. Sua chegada assinalou o início de uma nova era no Judaísmo americano. Tinha-se presumido que a Torá jamais poderia florescer na América como tinha feito na Europa, mas com seu famoso pronunciamento "A América não é diferente", o Rebe.