Esther foi a filha mais velha de Rabi Shlomo Shneur Zalman z”l e Sra. Shula Shifra Kazen, nascida em Tashkent, Rússia. Após a Segunda Guerra, a família Kazen mudou-se para Paris, onde compartilhava um castelo com 100 famílias. Cada família tinha seu próprio canto para dormir, e permissão para usar um queimador do fogão diariamente por uma hora para o preparo das refeições. Esther, mesmo à tenra idade de oito anos, era extremamente organizada. Na hora designada para os Kazen, ela surgia com a panela, pronta a começar. Era conhecida como a "Mamãezinha", que tomava conta de todas as crianças que ali viviam.

Na Escola Beit Rivka de Paris todas as meninas costumavam brincar com seu círculo de amigas. Esther frequentemente era a criança boazinha que chamava as meninas tímidas demais para juntar-se às brincadeiras.

Quando todas as crianças eram pequenas, geralmente era Esther que era vista cedinho nas manhãs do Shabat aprendendo com o pai. Quando perguntavam ao Rabino por que não estudava com as outras crianças, ele respondia: "Esther queria aprender, então estudei com ela!" Esther tinha sede de saber.

A família Kazen deixou Paris e mudou-se para os Estados Unidos em 1953. Estabeleceram-se em Cleveland, Ohio, e criaram uma família de shluchim (emissários) que atualmente se espalha por todo o mundo. O próprio Rabino e a Sra. Kazen continuaram a fazer milagres como incansáveis emissários do Rebe em Cleveland. Quando Esther formou-se na escola primária em Cleveland, o Rebe aconselhou Rabi Kazen a deixar Esther continuar os estudos de nível médio na Escola Beit Yaakov de Rebetsin Vichna Kaplan, no Brooklyn. Esther era uma aluna destacada, e ainda trabalhava como editora de hebraico do Anuário Escolar, e conseguia incluir uma carta do Rebe no Livro (o que não era pouco para uma menina de sua idade).

Já adolescente, ela costumava frequentar os farbrenguens do Rebe e logo após o Shabat, anotava os farbrenguens inteiros de memória. Enviava estes escritos, algo em torno de 15 a 20 páginas, ao seu pai em Cleveland, que não somente os estudava com a família, como também os transmitia aos chassidim na Rússia. Muitos anos mais tarde, Rabi Kazen levou as páginas caprichosamente escritas ao Rebe, que respondeu em yidish: "Agora você entende por que eu queria que ela permanecesse aqui (no Brooklyn)."

Quase meio século depois, Esther estava caminhando com sua irmã Henya por uma rua em Crown Heights. Rabi Raskin, de Tsefat, estava passando com sua família. Henya apresentou-o a Esther. Ele replicou: "Já a conhecia de nome." Ele explicou então que quando bachur (aluno de Yeshivá) na Rússia, tinha estudado as sichot e maamarim do Rebe a partir da revisão dos farbrenguens semanais de Shabat escritos por Esther.

Muitos buscaram aconselhamento com Esther a todas as horas, do dia ou da noite. Ela tinha a capacidade de deixar todas as pessoas à vontade, bem como a sabedoria para dar-lhes conselho sob medida para cada uma. Ela tinha consideração e se preocupava com os outros, como deve ser toda mãe, porque como um dos primeiros shluchim, sentia-se responsável por todos os judeus na sua comunidade.

Era considerada uma mashpia (conselheira). Mesmo nos dias em que estava mais abatida, quando os membros da família vinham rezar com ela, ou ler uma sichá do Rebe, ela costumava corrigi-los com os olhos fechados, se errassem a pronúncia de uma palavra. Era tão instruída que corrigia até o trop (entonação) se alguém errasse durante a leitura da Torá. Esther acreditava que todos os detalhes no serviço a Hashem (D’us) de uma pessoa deveriam ser aperfeiçoados. Era cuidadosa em todos os aspectos, até seu último momento nesse mundo.

Acreditava no poder do pensamento positivo, bem como em fazer tudo que pudesse para favorecer a boa saúde. Para isso, ela se exercitava e nadava regularmente. No entanto, jamais desperdiçava um momento. Adaptou um suporte para sua esteira de exercícios, para que pudesse continuar a estudar Chitat, Tehilim, Rambam e Mishnayot enquanto se exercitava. Ficou em remissão por algum tempo.

Quando a doença voltou, ela suportava fortes dores, mas as superava, recusando a medicação que diminuiria seu ritmo, para que pudesse terminar importantes projetos. Ela trabalhou até uma semana antes de falecer.

Enquanto fazia tratamento em Nova York, ela costumava dar muitos shiurim sobre Pirkê Avot, Halachá, tseniut e Taharat Hamishpachá. Quando falava, nunca era em tom professoral. Suave mas firmemente, conscientizava as mulheres sobre determinados aspectos da tseniut. A Halachá era sua vida. Como apenas partilhava aquilo que aprendera da maneira mais humilde, era tremendamente bem-sucedida em conseguir que as mulheres se aperfeiçoassem.

A reza, por exemplo, é uma provação para muitas mulheres. Como estão habituadas a pôr a família em primeiro lugar, e não estando acostumadas a mitsvot com hora certa como os homens, pode ser difícil para uma mulher habituar-se a fazer tefilá. Esther tornava isso perfeitamente possível. Dizia às mulheres que precisavam devotar somente 5 minutos diários para o Shemá e a Amidá. Se alguém separasse 5 minutos por dia para orações não seria tão difícil, afinal! Assim que as senhoras começaram a dedicar cinco minutos por dia, descobriram que desejavam acrescentar mais preces ao seu repertório diário.

Há muitos anos, o Rebe declarou que era muito importante que as Leis de Taharat Hamishpachá fossem ensinadas publicamente por mulheres especialmente treinadas para fazê-lo. Não era mais possível que o sistema antigo (a mãe ensinando à filha) tivesse a mesma eficácia. Esther foi escolhida para abrir caminho. Ela destacava não apenas aquilo que era proibido, mas também tudo que é permitido e até encorajado dentro da Halachá. Ela queria que as moças se sentissem à vontade, até belas, sobre os aspectos físicos do casamento. Esther conseguiu desempenhar sua sagrada missão. Algumas mulheres ficavam chocadas por aquilo que ela escolhia transmitir às jovens. Ela simplesmente estava à frente de sua época. Anos depois, seu currículo é usado como material de pesquisa e ensino por muitas professoras.

Tendo esperado cinco anos por filhos, Esther pediu berachot (bênçãos) ao Rebe, que a instruiu a fazer palestras em quatro cidades sobre seu shlichut (seu trabalho como emissária). Foi enviada a Montreal, Boston, Worcester e Springfield. Rabi Hodakov angariou fundos para organizar as palestras, sob as instruções do Rebe. Pouco tempo após cumprir a diretiva do Rebe, Esther deu à luz ao primeiro de seus quatro filhos!

Esther levava muito a sério seu papel de mãe. Na hora das refeições, ensinava aos filhos temas da Halachá enquanto comiam. Ela sentia que era da maior importância dar aos filhos uma base sólida em Halachá, que lhes daria apoio e os manteria firmes nos anos turbulentos que com certeza viriam.

A tarde de Shabat jamais contemplou Esther tirando uma soneca. Em vez disso, ela sentava-se com os filhos e revisava com eles aquilo que tinham aprendido durante a semana.

Cinco de Menachem Av é o yahrzeit do Arizal, um dia muito auspicioso. Esther também faleceu no quinto dia do quinto mês, às 5h05, horário do Brasil.

Durante o período da shiv'á, sete dias de luto, o Dr. Gertner, um médico que tinha tratado Esther, veio fazer uma visita a família. Ele explicou que desejava conhecer os pais que tiveram o mérito de criar uma pessoa tão incrível. Disse que ela nunca reclamava. Jamais se queixava quando precisava esperar por um longo tempo para ser atendida. Quando ele se desculpava por tê-la feito esperar, Esther mostrava a ele que tinha trazido livros suficientes para passar o tempo de espera produtivamente. Ela jamais desperdiçava um instante, e se pudesse evitar, não queria que ele se sentisse mal.

Que Minye Esther nos inspire a seguir seu exemplo, aperfeiçoando nosso próprio Avodat Hashem, serviço Divino, individual. Ela nos ensinou que nosso "aperfeiçoamento" individual não é um sonho, mas uma realidade perfeitamente possível!