Sabedoria de uma criança

Um criança lê o boletim da sinagoga anunciando que a congregação acaba de contratar um novo rabino, seu nome é Rabino Dr. Epstein. A criança fica tão empolgada ao saber que o novo rabino também é médico, que quando tem uma dor de estômago, telefona para a sinagoga.

“Gostaria de falar com o Rabino Doutor,” diz o menino.

O rabino atende e pergunta como pode ajudar.

”Bem, Rabino,”diz o menino, “estou com dor de estômago e estava me perguntando o que o senhor me sugere.”

“Desculpe, meu filho, mas não sou médico,” responde o rabino.

“Que tipo de doutor você é?” pergunta o menino.

”Sou Doutor em Filosofia,” foi a resposta.

A criança pensou por um instante eentao perguntou:

“Que tipo de doença é esta?”

Qual o Problema?

É difícil para nós entendermos a paixão desenfreada que inspirou o povo judeu a criar e adorar um bezerro de ouro, apenas 40 dias após ficarem no Monte Sinai e ouvirem o Divino decreto de “Não tereis outros deuses antes de Mim.”Afinal, existem alguns de nós que encontrariam deleite em dançar ao redor de um bezerro fundido e declarar:”Este é o teu D'us, ó Israel?”

Porém, até uma leitura superficial da porção dessa semana da Torá, Ki Tissá, na qual é relatada a história do bezerro de ouro, indica o efeito cataclísmico desse evento aparentemente sem sentido no destino eterno do povo judeu. Por que a criação de um ídolo tolo por um grupo de judeus no Sinai se torna um dos episódios mais importantes na história do povo judeu?

A Busca de Avraham

Nas “leis da idolatria” por Maimônides, onde ele descreve a primeira busca da verdade feita pelos judeus e seu reconhecimento do monoteísmo, lemos que inicialmente Avraham estava “imerso entre os tolos adoradores de ídolos de Ur Kasdim [cidade na Mesopotâmia]; seu pai, mãe e toda a população – ele dentre eles – todos adoravam ídolos.”

Pergunta Rabi Shneur Zalman de Liadi: “Por que Maimônides achou importante enfatizar em seu livro de Lei Judaica (não história judaica) que o primeiro judeu esteve metido em idolatria?”

A Alma da Adoração de Ídolos

Quando deixamos de entender as virtudes que justificam a adoração de ídolos,estamos involuntariamente nos engajando exatamente nisso: adoração de ídolos. Deixe-me explicar: Qual é a essência da idolatria? Nada mais que uma pessoa que necessita um poder em sua vida, atribuindo aquele poder a um objeto ou pessoa específica, dessa maneira entregando seu ser àquele objeto ou pessoa, adorando-o como a uma deidade.

O problema da idolatria não está no anseio e na necessidade por um poder que leve alguém a adorar um ídolo; este anseio e essa necessidade são, na verdade, positivos, até sagrados. Está em aceitar a noção de que um objeto sem vida e sem valor carrega dentro de si o cumprimento do anseio de alguém – é isto que transforma a idolatria numa busca sem sentido e com frequência destrutiva.

É por isso que é importante sabermos que o primeiro judeu certa vez adorou ídolos apaixonadamente. Se este jovem tivesse ficado indiferente aos ídolos da sua terra nativa, ele jamais teria procurado e descoberto o verdadeiro D'us. Como Avraham ansiava pela verdade e queria intimidade com D'us, ele devotou-se apaixonadamente à adoração dos ídolos dos país de seu pai, na crença errônea de que eles incorporavam a suprema verdade do cosmos.

Em outras palavras, por baixo da idolatria ferrenha de Avraham havia uma alma ansiando pelo Único D'us vivo. Assim, quando ele amadureceu, descobriu que seu anseio sagrado precisava ser redirecionado para o D'us verdadeiro e não aos falsos substitutos.

A Alma de um Impulso

Todos experimentamos na vida diária diversos impulsos e anseios dirigidos a certas pessoas ou coisas específicas.

Você está atraído por uma pessoa em particular? Está ansiando por atenção, cumprimentos e aprovação? Você anseia por nicotina, álcool ou alguma droga? Está apaixonado por comida? Gosta de dominar e controlar a vida de outras pessoas?

O Judaismo ensina 7 que esses impulsos e muitos outros não são necessariamente negativos ou destrutivos por si mesmos. De fato, todos esses anseios podem estar expressando as necessidades mais puras e espirituais da alma. No âmago de um interesse por outro ser humano ou uma obsessão por intimidade, comida ou atenção, pode estar o anseio da alma por um senso de valor e dignidade interiores, por companheirismo, vulnerabilidade e auto-realização.

Nossa psique, porém, distorce nossa clareza e atribui um falso simbolismo a essas buscas essencialmente vãs. Como resultado dessa distorção nós – assim como os judeus no deserto – devotamos nosso tempo e paixão a construir e adorar cuidadosamente nossos “bezerros de ouro” pessoais, na crença equivocada de que eles preencherão o vazio em nosso coração e matarão a fome de nossa alma.

Por trás de muitos vícios há um profundo anseio de dar ou receber amor. Porém nossa mente muitas vezes está tão ferida e magoada que o objeto que rotulamos com nosso vício para atingir aquele amor é um “ídolo”, um alvo vazio que somente nos distancia do verdadeiro amor que estamos buscando.

A guerra da Torá contra a criação do bezerro de ouro é vital para nossa missão na vida. Simboliza nosso incansável esforço diário para mudar nossa atenção dos falsos valores para os verdadeiros valores da vida.