A Conferência Internacional de shluchim, emissários Chabad-Lubavitch deste ano em seu 28º ano contou com a ilustre presença do Rabino Chefe da Inglaterra, professor Jonathan Sacks, que falou no banquete de encerramento para mais de 4.000 emissários, de mais de 70 países. O Congresso durou cinco dias com programas envolvendo diversas oficinas, workshops, aulas e palestras em encontros inspiradores.
Segue transcrição das palavras proferidas
Por Rabino Jonathan Sacks
Rabino Krinsky, Rabino Shemtov, Rabino Kotlarsky, Rabino Sudak, Rabino Lew, todos os shluchim [emissários Chabad-Lubavitch] do Reino Unido, todos os shluchim de toda parte, ilustres convidados, amigos.
Posso resumir minha reação a esta noite em uma palavra: Uau!
Em duas palavras, Uau Duplo!
Se eu não tivesse visto isso, não teria acreditado!
Sei que Rabino Kotlarsky me disse que estava convidando alguns amigos… (risos). Mas tenho de dizer a vocês, mikerev lev – do fundo do meu coração, já recebi muitas homenagens, mas nenhuma tão comovente como esta.
Porque vocês, os shluchim, estão entre as pessoas mais importantes no mundo judaico de hoje. Vocês estão trazendo a Shechiná [Divindade] a locais onde, talvez, jamais foi vista antes. Vocês estão trazendo a Shechiná a vidas que jamais a conheceram antes, e estão transformando o mundo judaico.
E por que vocês estão fazendo isso? Porque direta ou indiretamente, foram tocados, assim como eu fui, por um dos maiores líderes judeus, não apenas do nosso tempo, mas de todos os tempos.
No decorrer da história judaica houve grandes líderes, mas mas não conheço um precedente, um que tenha transformado, de maneira visível e substancial, toda e cada comunidade judaica no mundo – incluindo muitas partes do mundo que jamais tiveram uma comunidade judaica antes.
E deixem-me contar a vocês uma pequena história que resume tudo: Aconteceu há quarenta anos, Elaine e eu estávamos em lua-de-mel. Decidimos ir aos Alpes Suíços – eu jamais tinha visitado montanhas antes. Fomos, e lá chegamos. O pôr-do-sol estava reluzente. A vista era magnífica.
Na manhã seguinte, abri a janela e disse: “Quem mexeu nas montanhas? Sumiram!” Então olhei novamente e vi que estavam cobertas por nuvens muito grandes. O que fazer? Tínhamos ido até lá para escalar uma montanha, e não poderíamos voltar sem escalar uma montanha. Mas não conseguíamos enxergar mais que um ou dois metros em cada direção. Não sabíamos aonde estávamos indo, não sabíamos como, [se] iríamos chegar, se voltaríamos.
Então eu disse a Elaine: “É muito simples. Vamos cantar nigunim Chabad.”
Ela disse: “Por que estamos cantando nigunim Chabad?”
Eu disse: “Muito simples. Porque se um judeu está perdido, em qualquer parte do mundo, Chabad o encontrará.”
E tudo isso por causa do Rebe, [Rabi Menachem Mendel Schneerson,] zechusoh yagen aleinu [de abençoada memória]. Então assim foi, e assim é.
Vocês foram tocados pela grandeza e cada um de vocês se tornou grande.
E portanto eu digo a todos os shluchim e a todas aquelas pessoas maravilhosas que apoiam a obra dos shluchim e a tornam possível: yehi ratzon shetishrê shchina bemasei yedeichem – que D'us abençoe a todos vocês. Amen.
Amigos, Rabino Kotlarsky me pediu para contar uma pequena história, algo pessoal, sobre como o Rebe mudou a minha vida. E concordei, não porque pense que minha história é especial, não é. Mas é contando essas histórias que nos lembramos do que é Chabad e o que o torna especial.
Como se pode redimir um mundo que tinha testemunhado Hitler? E o Rebe fez algo absolutamente extraordinário: ele disse a si mesmo, se os nazistas buscaram cada judeu com ódio, buscaremos cada judeu com amor.É uma história em três atos; o primeiro ocorreu em 1968 (5767-5768), quando eu era um estudante no segundo ano da faculdade. Eu já tinha conhecido Chabad, porque Rabino Shmuel Lew e Rabino Faivish Vogel visitavam Cambridge. Eles estiveram entre os primeiros a visitar os campi das universidades e eu fui um dos primeiros beneficiados. Eles foram naquele verão de 68 e fui para os Estados Unidos para conhecer rabinos notáveis daquela época, e cada um deles, todo e cada rav (líder rabínico] que encontrei na América me disse: “Você precisa conhecer o Rebe! Você precisa ver o Rebe.”
Então fui até Eastern Parkway, 770, e entrei; eu disse ao primeiro chassid que encontrei: “Gostaria de falar com o Rebe, por favor.” Ele quase caiu na risada.
Ele disse: “Você sabe quantos milhares de pessoas estão esperando para ver o Rebe? Esqueça!”
Eu disse: ‘Bem, Vou viajar pelos Estados Unidos, aqui está o telefone da minha tia em Los Angeles, se for possível me telefone.”
Semanas depois, eu estava em Los Angeles, chegou motsaê Shabat, o telefone tocou, era Chabad. “O Rebe vai atendê-lo na quinta-feira.”
Eu não tinah dinheiro naquela época, e tudo que tinha era uma passagem de ônibus da companhia Greyhound. Se você já viajou de Los Angeles a New York num ônibus da Greyhound… Setenta e duas horas sem paradas fiquei sentado neste ônibus.
Cheguei ao 770, e por fim chegou o momento em que fui levado ao escritório do Rebe. Fiz a ele todas as minhas perguntas intelectuais e filosóficas; ele deu respostas intelectuais e filosóficas, e ennão fez algo que ninguém havia feito.
Ele trocou os papéis, e começou a me fazer perguntas. Quantos estudantes judeus há em Cambridge? Quantos estão envolvidos na vida judaica? O que você está fazendo para trazer outras pessoas?
Ora, eu não tinha ido lá para me tornar um sheliach (emissário Chabad-Lubavitch). Tinha ido para fazer umas simples perguntas, e de repente ele estava me desafiando. Então eu fiz a coisa à maneira inglesa. Sabem, o inglês pode construir frases como ninguém mais pode, sabiam? Eles conseguem construir desculpas mais complexas por fazerem nada, mais que qualquer outro na terra. (risos)
Então comecei a frase: “Na situação em que me encontro…” e o Rebe fez algo que, eu creio, fosse bem incomum para ele; interrompeu-me no meio da frase. Ele disse: “Ninguém se encontra numa situação; você se coloca nessa situação. E se você se colocou nessa situação, pode colocar-se em outra.”
Aquele momento mudou a minha vida.
Ali estava eu, um ninguém vindo de lugar nenhum, e ali estava um dos mais notáveis líderes do mundo judaico me desafiando a não aceitar a situação, mas a mudá-la.
Ali estava eu, um ninguém vindo de lugar nenhum, e ali estava um dos mais notáveis líderes do mundo judaico me desafiando a não aceitar a situação, mas a mudá-la. E foi quando eu percebi aquilo que tenho dito muitas vezes desde então: que o mundo estava errado. Quanto eles pensavam que o fato mais importante sobre o Rebe era que ali estava um homem com milhares de seguidores, eles deixaram de lado o fator mais importante: que um bom líder cria seguidores, mas um grande líder cria líderes.
Foi isso que o Rebe fez por mim e por milhares de outros.
Amigos, aquele episódio em particular teve um final incomum: eu estava para deixar os Estados Unidos, voltar para a Inglaterra, era um voo num domingo no final de agosto, início de setembro, não me lembro exatamente quando. Então no dia anterior, um Shabat, houve um grande farbrenguen, e os chassidim me disseram: “Você está voltando para a Inglaterra? Leve uma garrafa de vodca, vá até o Rebe num nigun, durante o farbrenguen, e ele fará um l’chaim, e você levará a garrafa, e aquela será a vodca do Rebe.”
Então no meio do farbrenguen, havia milhares de pessoas ali, fui até o Rebe e pedi a ele para dizer um le’chaim’ ele olhou-me surpreso e disse: “Você está indo embora?”
Eu disse: “Sim.”
“Por quê?” Eu disse: “Tenho de voltar a Cambridge, o semestre está começando.”
Ele voltou-se para mim e disse: “Mas o semestre em Cambridge só começa em outubro.”
Eu não sabia então, ainda hoje não sei, como ele sabia disso, mas estava certo! Ele me disse: “Acho que você deveria ficar para Rosh Hashaná.” Então ele fez um le’chaim; eu voltei.
Todos queriam saber: “O que o Rebe disse a você? O que o Rebe disse?” Então contei a eles. Eu não sabia – se o Rebe diz fique, é a coisa educada, você diz muito obrigado – eu não entendi; se o Rebe diz fique, você fica. Portanto fiquei.
Como resultado disso, ouvi o Rebe tocar shofar em Rosh Hashaná. Foi a experiência mais notável que já tive. A pureza daquelas notas, a visão de todos os chassidim se esforçando para ver o Rebe tocando shofar. E ouvi um som no qual céu e terra se tocaram. E os ecos daquele shofar permaneceram comigo, até hoje. Aquele foi o desafio que ele lançou. Um desafio para liderar.
Aquilo não mudou imediatamente a minha vida. Voltei à universidade, embora ainda sentisse o poder do desafio do Rebe. Então em 1969 após me formar, fui estudar em Kfar Chabad, onde estudei com Rav Gafni, e foi uma experiência maravilhosa. Em 1970 voltei, casei-me, comecei a lecionar filosofia, escrevi um doutorado, mas sentia que ainda não tinha feito o suficiente para corresponder ao desafio do Rebe. Portanto estudei para smicha [diploma rabínico]. Qualifiquei-me como rabino, e acho que foi isso. Cresci um pouco como judeu, e agora estava pronto a voltar para o resto da minha vida.
Foi então que cometi o segundo grande erro – fui novamente visitar o Rebe. (risos)
Janeiro de 1978: Meus amigos em Lubavitch me disseram exatamente o que fazer. Você coloca sua pergunta por escrito, dá 3 opções ao Rebe, e ele vai lhe dizer, um, dois ou três. Então escrevi minhas opções. Disse ao Rebe: “Tenho uma carreira à minha frente, tenho três escolhas.” Número um, talvez eu gostasse de ser um acadêmico – halevai um dia eu serei um professor ou talvez tenha um cargo na minha faculdade em Cambridge. Número dois – inicialmente fui à universidade para estudar economia – gostaria de ser um economista. Ou número três, gostaria de ser um advogado. Eu era membro de um dos Inns da Corte, o Templo Interior onde você estuda para ser advogado.
Entrei em yechidut [audiência privada] sem saber o que o Rebe responderia; seria um, seria dois, ou seria três? O Rebe olhou-me e conferiu a lista; não um, não dois, não três.
Pensei: “Espera um pouco, isso é contra as regras!”
O Rebe não me deu tempo de responder. Disse-me que o Judaísmo britânico estava carente de rabinos, e portanto ele declarou: “Você deve treinar rabinos.” Especificou a Faculdade Judaica, onde os rabinos eram treinados na Grã-Bretanha. E então ele disse: você mesmo deve se tornar um rabino congregacional, para que seus alunos venham e escutem você fazer – ainda me lembro da maneira que ele pronunciou a palavra – “Sermões”. Eles escutarão você fazer sermões e aprenderão. Ele disse: você treinará rabinos e se tornará um rabino. Bem, fiquei um pouco farblonged – uma palavra que introduzi no idioma inglês, cortesia da BBC – mas se o Rebe diz faça isso, eu fiz. Abri mão das minhas três ambições. Treinei rabinos, ensinei na Faculdade Judaica, por fim me tornei diretor da faculdade, rabino congregacional, em Golders Green e Marble Arch.
Sabem, aconteceu algo engraçado.
Os não-judeus respeitam os judeus que respeitam o Judaísmo.
Tendo desistido das minhas três ambições, tendo decidido caminhar na direção oposta, algo engraçado aconteceu. Tornei-me funcionário de minha faculdade em Cambridge. Tornei-me professor. Na verdade, naquele ano, tive três cadeias; uma na Universidade de Oxford, duas na London University. Fiz as duas palestras sobre economia mais importantes na Grã-Bretanha, a palestra Mais e a Hayek, e o Inner Temple me fez advogado honorário e convidou-me a fazer uma palestra sobre direito na frente de seiscentos advogados, do Lord Chanceler – o advogado mais graduado na Grã-Bretanha, e a Princesa Anne que é o Master.
Sabe, você nunca perde nada – quando coloca yiddishkeit em primeiro lugar.
E aprendi algo muito profundo: às vezes a melhor maneira de atingir suas ambições é parar de persegui-las, e deixar que elas o persigam.
E aquele foi o ato dois. O ato três foi em 1990. O Anglo-Judaísmo estava procurando um novo Rabino Chefe. Estava claro que eu seria um dos candidatos, mas eu não tinha certeza de que eu seria certo para o cargo ou de que o cargo era certo para mim. Então, sentei-me com minha família, com Elaine, meus filhos, e eles concordaram em permitir-me escrver ao Rebe e pedir seu conselho.
Enviei o tzdodim lekan u’lekan – os prós e os contras do trabalho, e o Rebe escreveu a resposta mais extraordinária, brilhante, sem usar uma só palavra.
Vocês sabem que o Rebe, antes de ser Rebe, dirigia a editora Chabad – Kehot – e como resultado ele sabia – já escrevi 24 livros e ainda não sei essas coisas, mas ele conhecia os símbolos tipográficos que são usados por leitores de teste. Então no fim da carta, tendo escrito os prós e os contras, escrevi a frase: “Se eles me oferecerem o cargo, devo aceitar?” Esta foi a resposta do Rebe: O símbolo tipográfico para a ordem inversa da palavra. Em vez de dizer “Deveria eu?” a resposta é: “Eu deveria.”
Assim, treze anos após me tornar rabino congregacional, tornei-me Rabino Chefe, e naquele trabalho tenho tentado fazer o melhor – se consegui não sei – mas tentei fazer aquilo que sei que o Rebe teria gostado que eu fizesse: construir escolas, melhorar a educação anglo-judaica, divulgar, e fazer não seguidores – mas líderes.
E fiz uma outra coisa, um pouco incomum, e quero explicar a vocês agora o por quê.
Eu nunca disse isso em público antes. Houve um ponto em que eu estive um pouco envolvido – a hanhola [mesa de diretores] do Lubavitch de Londres pediu-me para me envolver apenas um pouco – houve um ponto entre 1970 e 1980, quando o Rebe criou uma campanha muito interessante – a sheva mitsvot benei noach – para fazer contato não somente com judeus, mas também com não-judeus.
Percebi que na minha posição de Rabino Chefe eu poderia fazer aquilo. Comecei então a divulgar na BBC, no rádio, na TV, escrevendo para a imprensa nacional. Escrevi livros lidos por não-judeus e por judeu, e o efeito foi totalmente extraordinário. Quanto mais eu falava mais eles queriam ouvir – o que certamente prova que não eram judeus. (risos)
Quanto mais eu escrevia mais eles queriam ler, e vocês sabem o que aquela experiência me ensinou – não somente a sabedoria, a vasta percepção do Rebe em entender que o mundo estava preparado para ouvir uma mensagem judaica – mas ensinou-me também algo mais. E quero que vocês nunca se esqueçam dessas palavras.
Os não-judeus respeitam os judeus que respeitam o Judaísmo.
E os não-judeus ficam constrangidos por judeus que ficam constrangidos com o Judaísmo.
O Rebe nos ensinou como cumprir kol amei haaretz ki shem hashem nikra alecha. Que todo o mundo veja que nunca estamos envergonhados de nos posicionar como judeus.
Então, nos três pontos críticos em minha vida, o Rebe foi meu sistema de navegação via satélite, mostrando-me aonde ir e como ir. E embora eu nem sempre tenha entendido na época, em retrospecto vejo como seu conselho foi extraordinário e o quanto foi sábio.
A maioria das pessoas olha para os outros e vê aquilo que parecem ser. Pessoas notáveis olham para os outros e veem aquilo que são. O mais notável dos notáveis - e o Rebe foi o mais notável dos notáveis – olha para os outros e vê aquilo que elas poderiam se tornar. E esta era sua grandeza.
E vocês são testemunhas do fato de que todos, todos vocês, que não apenas o Rebe transformou vidas, ele transformou pessoas em pessoas que elas próprias transformam vidas e que, através de vocês, é como ele mudou o mundo. Através de vocês, seus shluchim e todas as outras pessoas especiais que apoiam vocês e tornam possível a sua obra.
E agora, amigos, devemos continuar a transformar o mundo. E como fazemos isso?
Fazemos isso exatamente nas palavras tiradas de Hayom Yom que são o tema da conferência deste ano: “ah shliach iz doch an aind zach mit dem mishaleiach.”
Sabemos, pelo Reb Yosef Engel, pelo próprio Rebe, que há vários madreiges em se tornar um sheliach, mas o maior madreiga é, como diz em Hayom Yom “in altz mekushar!” Em tudo que fazemos, “es geit ah Chassid, est a Chassid, shluft ah Chassid” – espero que vocês estejam fazendo isso agora, amigos, porque caso contrário eu não estive fazendo o meu trabalho.
Amigos, se vivemos e respiramos a Shlichut do Rebe, então ele continua vivo em nós.
A questão é: o que é Shlichut aqui e agora? Há tantas coisas que podemos dizer sobre os desafios dos meses à frente – quero dizer apenas três coisas: Número Um – pensem sobre isso – o Rebe, como todo Rebe, estabeleceu sua meta para mekarev a gueulá [aproximar a Redenção]e para trazer Mashiach. Mas o Rebe era diferente dos outros Rebeim, porque o Rebe fez isso com urgência específica, e embora ele nunca tenha especulado sobre isso, e eu penso isso – talvez eu esteja errado, mas creio que não – porque ele foi o primeiro Rebe a se tornar Rebe depois do Holocausto.
E como se pode redimir um mundo que tinha testemunhado Hitler? E o Rebe fez algo absolutamente extraordinário: ele disse a si mesmo, se os nazistas buscaram cada judeu com ódio, buscaremos cada judeu com amor.
Esta foi a reação mais radical ao Holocausto jamais concebida e não sei se ainda – se o mundo judaico ainda – entende isso.
Hoje, em muitas partes do mundo o antissemitismo voltou, e Baruch Hashem há centenas de organizações lutando contra isso. Mas ainda, mesmo agora, ninguém está dizendo aquilo que o Rebe disse – não explicitamente, mas implicitamente em tudo que ele fez.
Se vocês quiserem lutar sinas yisraeel [ódio ao seu próximo], então pratique ahavat yisrael [amor ao próximo].
Amigos, levantem as mãos para cima todos aqueles que pensam que há Ahavat Yisrael demais no mundo…
Então amigos, ainda temos trabalho a fazer, ainda temos trabalho a fazer.
Os antissemitas, vocês sabem, são totalmente loucos. Os antissemitas acreditam que os judeus controlam os bancos, controlam a mídia, controlam o mundo; mal sabem eles que não podemos sequer controlar uma reunião no shul [sinagoga]. (risos)
E é por isso, amigos, se houver sonei iisroel ali, temos de ser ohavei yisroel, se o Rebe estivesse falando conosco hoje, ele diria “es geit ahavas yistoel, est ahavas yisrol, shluft ahavas yisroel” e se você já ama os judeus, ame-os ainda mais!
Ponto dois, ponto dois, se vocês querem mekarev yidden [aproximar judeus], façam isso da maneira que o Rebe fez quando pegou um estudante de vinte anos vindo de longe e o transformou num líder.
Amigos, certa vez ouvi uma linda história de um sheliach, que tinha ido para uma pequena cidade no Alasca. Ele perguntou na pequena sede da prefeitura: “Há algum judeu aqui?” Eles disseram que não havia judeus ali. Então ele perguntou – para não voltar sem ter feito nada – ele poderia visitar o local e fazer uma palestra para crianças? E o prefeito ou diretor da escola – não sei, não lembro, o próprio sheliach me contou essa história – disse que tudo bem. E ele foi, entrou numa sala de aula – nessa pequena cidade no meio do Alasca – e disse: “Crianças, algum de vocês já conheceu um judeu?”
E uma menininha levantou a mão e disse: “Sim”.
E ele disse: “Quem?”
Ela disse: “Minha mãe”.
E ele ficou pensando consigo mesmo: “O que eu digo a esta menina?” Ela é a única criança judia nessa escola, são os únicos judeus na cidade, tenho de ir, e não posso fazer com que eles deixem a cidade para irem a um lugar onde haja outros judeus. O que posso dizer a esta menina que a leve a continuar judia?
O Rebe fez algo absolutamente extraordinário: ele disse a si mesmo, se os nazistas buscaram cada judeu com ódio, buscaremos cada judeu com amor.
E isso foi o que ele fez: pediu a ela que acendesse velas do Shabat em todo erev Shabat. E disse a ela: “Não sei se você sabe disso, mas o Alasca é o local mais a oeste do mundo onde há judeus, é o último lugar do mundo onde o Shabat chega. E quando todo judeu acende velas do Shabat, elas trazem luz e paz ao mundo. Portanto todo Shabat o mundo inteiro está esperando pela sua vela de Shabat – a última de todas a ser acesa.”
Vocês podem imaginar o que aquilo fez por aquela criança? Ele poderia ter dito: O que você está fazendo no meio do nada, onde não há judeus? Em vez disso, da maneira mais bonita, ele a fez sentir-se importante. Ela tinha uma tarefa a realizar por todo o povo judeu, pelo mundo inteiro, é assim que você muda vidas, foi assim que o Rebe mudou vidas.
Mostrando às pessoas a grandeza que desconheciam possuir. Mostrando às pessoas aquilo que elas poderiam se tornar.
Então essas são as primeiras duas maneiras, amar os judeus e mostrar a eles o que podem se tornar.
O último ponto que penso é muito simples, Rosh Chodesh Kislev – Chanucá está chegando. Há uma famosa machlokes [disputa] no Talmud. Guemara Shabbos, daf chof beis, sobre a seguinte questão: madlikin mi’iner ‘ner o’lo? – você pode pegar uma vela de Chanucá e usá-la para acender outra vela de Chanucá? Sim ou não? Sobre isso há uma machlokes [entre] Rav e Shmuel, Rav diz que não, Shmuel diz que sim. Rav diz que não porque ko machish mitsva – você diminui a mitsvá. Se eu pegar uma luz para acender outra, então vou estragar um pouco do azeite, ou um pouco de cera e o resultado é que diminuirei a primeira luz. E Shmuel não se preocupa com isso, agora sabemos em geral, e qualquer machlokes Rav e Shmuel, Halachá k’Rav – a lei é sempre como Rav contra Shmuel com outras três exceções, e esta é uma delas.
O que está em questão? Sobre o que eles estavam discutindo? E por que neste caso a lei não é como Rav, mas como Shmuel?
E a resposta, você encontrará no mundo judaico atual, vocês pegarão dois judeus ambos religiosos, ambos frum, ambos yorei shamayim, ambos cumprindo todas as mitsvot, kale ke’chamura. Mas há uma grande diferença entre eles; um diz tenho de cuidar da minha luz, e se eu me envolver com judeus que não são frum, não religiosos, que não estão comprometidos com ko machism mitsva – meu yiddishkeit diminuirá. Esta é a opinião do Rav, e Rav foi um gigante espiritual. Mas Shmuel ousou dizer o oposto. Ele disse: quando pego minha luz para acender outra alma judia em fogo, não tenho menos luz, tenho mais! Porque onde havia uma luz, agora há duas, e talvez daquelas duas vão surgir mais! E sobre isso a Halachá é como Shmuel. Amigos, é isso que é ser um chassid, paskin como Shmuel, saber que quando vamos até judeus menos comprometidos que nós, nossa luz não é diminuída; o resultado é que nós criamos mais luz no mundo.
Um chassid do Rebe sabe, oron nossei hisnosov, se você erguer outro judeu, você mesmo é erguido. Se você acender com sua vela e acender a chama no coração de outro judeu, sua luz não será diminuída, você será elevado; sua luz será dupla.
Amigos, há quarenta e dois anos, um dos maiores líderes judeus de todos os tempos, pegou um estudante de milhares de quilômetros de distância, e acendeu em sua alma uma luz que tem queimado desde aquele dia, e não apenas para ele, mas para dezenas de milhares de outros. E nós somos seus shluchim.
Jamais conseguiremos fazer isto plenamente, mas faremos o melhor para caminhar como ele caminhou, comer como ele comeu, shluft [dormir] como ele shluft, o que foi quase nunca.
E vocês sabem, vocês sabem o que eu sei, e isto, no silêncio de nossas almas podemos ouvir aquilo que o Rebe estaria nos dizendo hoje. Ele diria: “Você acha que fez o suficiente? Você deve ser como uma luz é em Chanucá, mosif veholech – sempre fazendo mais. Mailin bakodesh, v’ein moreidin – em kedusha, você sempre sobe, e há sempre mais montanha para escalar.
E ele estaria nos dizendo: número um, viva, respire e durma ahavas yisrael; número dois, tornem-se líderes que transformam outros judeus em líderes; e número três, sejam madlik mener le’ner, levem sua luz e acendam outros. E juntos, vamos acender uma chama nos corações dos outros judeus, e juntos vamos iluminar o mundo. Amen.
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