Rabi Yosef Yitschac de Lubavitch (1880-1950), descreveu certa vez a personalidade de um certo chassid comum – não uma figura de importância, apenas um dos seguidores de seu avô, Rabi Shmuel de Lubavitch (1834-1882).

Reb Pesach morava em Homil. Não era um erudito de Torá, nem instruido sobre assuntos mundanos, mas conseguia viver confortavelmente com o que ganhava comprando mercadorias em Homil e vendendo-as aos donos de lojas nas aldeias próximas.

Pouco antes de Rosh Hashana de 1866 ele juntou-se a um grupo de chassidim dos famoso Rabino Mordechai Yoel, e juntos viajaram de Homil a Lubavitch para passar os Dias de Reverencia na corte do seu Rebe, Rabi Shmuel. Quando chegou a sua vez para a yechidut – sua primeira audiência privada com o recém-nomeado Rebe, o quarto da dinastia –entregou a ele um bilhete no qual tinha escrito, em meio a diversos detalhes pessoais, a maneira pela qual ganhava o sustento.

O Rebe abençoou-o e disse: “Você sempre pode cumprir as palavras do profeta: “Levante os olhos na direção do céu.” E então acrescentou: “Shema é Israel.”

Reb Pesach foi direto da sala do Rebe para encontrar Rabino Mordechai Yoel, que sem dúvida poderia explicar-lhe o que o Rebe queria dizer.

“Toda sinagoga,” começou Rabino Mordechai Yoel, “é construída com janelas grandes: não apenas para possibilitar a entrada da luz, mas também para permitir que as pessoas olhem para o céu. Pois os Céus, sabemos, são reminiscentes do Trono da Glória, e olhar na direção do céu inspira no homem a reverência aos Céus. E foi isso que o Rebe disse a você. Como passa muito tempo na estrada, e vê o céu não apenas quando está sentado na sinagoga, está portanto capacitado o tempo todo a cumprir a instrução do Profeta (Yeshayáhu 40:26): ‘Levante os olhos para o céu, e contemple Aquele que o criou.’

“Ora, a palavra Shemá é formada pelas letras iniciais das primeiras três palavras deste versículo, e quando uma pessoa recita o Shemá com cada fibra de seu ser, é elevada ao nível de Yisrael. Pois como você deve saber, o nome Yaacov (Jacob) denota um judeu no estágio em que seu serviço a D’us é o de um servo, motivado pela reverência; o nome Yisrael é a prece penitencial Tachanun nas manhãs de segunda e quinta-feiras, ou durante o clímax de Yom Kipur na conclusão do serviço Neilá – eu sempre relembro que Shemá é Yisrael.

“Um pedido ainda eu faço ao Todo Poderoso: quando chegar a hora para eu devolver a Ele a alma que Ele confiou aos meus cuidados, e eu recitar Shemá Yisrael pela última vez, peço que Ele me conceda uma mente clara, para que nesta hora também eu consiga lembrar aquelas palavras que o Rebe me disse: ‘Shemá é Yisrael!’”
“Assim,” observou Rabi Yosef Yitschac, “era um dos chassidim comuns do meu avô!