Por Mendel Starkman
É uma cena comum: você está em sua cozinha, abrindo o refrigerador, e apanha uma maçã grande e suculenta. Aproxima a fruta dos lábios e dá uma grande mordida, apreciando cada bocado deste presente Divino. De repente, percebe que esqueceu-se de uma parte essencial deste desfrutar da maça: não lembrou de recitar a bênção apropriada, agradecendo ao Criador por seu maravilhoso presente.
Na porção desta semana, a Torá declara que quando os Filhos de Israel chegarem a Eretz Yisrael, eles "comerão, ficarão satisfeitos e abençoarão D’us " pela terra maravilhosa que Ele lhes deu (Devarim 8:10). Deste versículo, os sábios extraíram o mandamento de Bircat Hamazon, Bênçãos após a Refeição, recitando a bênção apropriada. Entretanto, enfatiza o Sêfer HaChinuch, este conceito de abençoar D’us exige uma explicação, pois sabemos que na verdade D’us não precisa de nossas bênçãos. Afinal, D’us possui todas as honras e tudo que é bom; Ele é onisciente e onipotente, e já possui tudo o que deseja. As ações e palavras das pessoas, sejam boas ou más, nada acrescentarão ou tirarão de D’us. Portanto, qual o objetivo de recitar bênçãos?
O Sêfer HaChinuch explica que D’us apenas deseja o melhor para Suas criaturas. Entretanto, Ele quer que elas sejam merecedoras antes que Ele lhes conceda Suas bênçãos. Daí surge nossa necessidade de recitar bênçãos a Ele. Através destas bênçãos que recitamos, despertamos dentro de nós a idéia de que D’us é Aquele que concede bênçãos sobre nós, e através deste reconhecimento tornamo-nos merecedores de nos tornarmos verdadeiros receptáculos para receber Suas bênçãos. É basicamente um efeito bola de neve. Quando O abençoamos, tornamo-nos merecedores de Suas concessões de bênçãos sobre nós, pelas quais devemos abençoá-lo ainda mais, e então Ele nos dá ainda mais bênçãos, e assim por diante.
A porção desta semana da Torá menciona também outra idéia que pode ser aplicada de maneira similar. Ela nos diz que quando chegarmos à Terra de Israel e a conquistarmos, poderemos finalmente ficar convencidos e dizermos que a força e o poder em nossas mãos trouxe-nos nossa boa sorte (ibid. 8:17). Mas como poderemos cometer tal engano? Uma nação que saiu da escravidão e não foi treinada nas artes da guerra, derrotar a força militar de sete nações poderosas, apenas poderia acontecer através de uma intervenção dos Céus. Como poderia a participação de D’us ser esquecida?
Mesmo assim vemos que com o tempo, é possível tornar-se fascinado pela idéia de que estas vitórias somente aconteceram por nosso próprio mérito, e não com a ajuda de D’us. Eis por que Moshê continuou, versículo após versículo, a admoestar-nos a lembrar que nossas vitórias aconteceram pelo mérito de nossos antepassados, e não por causa de nós ou de nossas conquistas.
Similarmente, Rabi Yisrael Salanter aconselha sobre como conter os sentimentos de orgulho e arrogância. Quando parece que conseguimos algo extraordinário, devemos lembrar-nos de nossas deficiências e falhas, e não apenas dar-nos uma palmadinha nas costas. Pensar desta forma nos impedirá de sucumbir à arrogância, permitindo-nos em vez disso reconhecer que é D’us e não nós mesmos a força por trás de nosso sucesso, desta forma percebendo a gratidão que Lhe devemos. Esta percepção, juntamente com a idéia que Ele é quem nos abençoa, culminará numa oportunidade única – fazer-Lhe uma bênção, que servirá para ajudar-nos mais tarde quando o círculo continuar e Ele conceder mais bênçãos sobre nós.
Eis o que Reb Aharon HaGadol quis dizer quando disse a seu aluno: "Você faz uma bênção para que possa comer a maçã, enquanto que eu como uma maçã para que possa fazer uma bênção." Ele sentia tão fortemente o amor por abençoar D’us, que literalmente saía de seu caminho para encontrar oportunidades de fazer bênçãos.
Agora entendemos duas das razões pelas quais recitamos bênçãos. Primeiro, são para que reconheçamos Aquele que nos abençoa, e em segundo, para demonstrar nossa gratidão pelo que D’us já nos concedeu. Portanto, da próxima vez que estivermos na cozinha e dermos uma mordida na maçã, como poderemos esquecer de recitar uma bênção? E quando lembrarmos de pronunciar as palavras sagradas, devemos lembrar de refletir sobre o que estamos dizendo e a Quem isso é dirigido, pois os benefícios são notáveis.
Faça um Comentário