Todos nós temos desafios e conflitos em nossas vidas. Porém nossa maneira de viver com eles ou através deles é o que define o tipo de pessoa que somos. Creio que temos algo a aprender com cada um que encontramos e tudo que vivenciamos. Descobrir essa lição pode ser complicado, mas quando enxergamos o mundo ao nosso redor como pedaços de informação que ajudam a melhorar nossa vida e nosso caráter, isso nos ajuda a fazer contato com os outros de uma maneira que poderíamos perder se fosse de outra forma.

Há alguns dias li um artigo sobre como Elizabeth Edwards, a esposa separada do vice-presidente John Edwards, tinha parado com seu tratamento contra o câncer. O artigo declarava que os médicos tinham dito a ela que não havia mais motivo para tratamentos, que eles estavam falando em termos de semanas e não meses de vida restantes para ela, e que tudo que havia para ser feito já fora feito.

E então mais tarde na noite passada, enquanto eu checava meu computador uma última vez antes de deitar, vi a manchete de que Elizabeth Edwards tinha falecido, cercada pelos entes queridos, em sua casa. Talvez 24 horas ou quase isso após a primeira notícia de que ela tinha parado com o tratamento. Ela não teve meses, não teve semanas, ela talvez tenha tido um dia.

Não sou do tipo que se importa muito com política nem acompanho os detalhes ou a vida das celebridades nas notícias. Mas quando li aquele artigo, chorei. Havia algo tão poderosamente avassalador sobre ser informado definitivamente que você tem um tempo tão limitado para estar neste mundo.

E mesmo assim, de uma maneira estranha, eu senti que ela foi afortunada por ter recebido a notícia com antecedência. Afinal, nenhum de nós sabe quanto tempo lhe resta. Porém a maioria das pessoas vive como se fosse eterna.
Deixamos as coisas para depois porque podemos. Passaremos mais tempo com nossos filhos no fim de semana, começaremos aquele projeto que queremos fazer há anos, amanhã. Na semana que vem com certeza telefonaremos para nossos pais idosos ou para um amigo. Hoje estamos ocupados demais fazendo coisas demais para nos preocupar com todas aquelas coisas importantes que faremos assim que tivermos tempo.

Porém Elizabeth Edwards não teve este luxo, e de tudo que li sobre ela, Elizabeth reconhecia a importância de cada minuto que teve e tentou usá-lo para o melhor. Não era uma mulher que deixava passar. Não somente ela sofreu de uma doença incurável, como sofreu também a humilhação da infidelidade do marido em público, e perdera um filho num acidente de carro. E apesar disso ela sempre manteve a cabeça erguida. Esta mulher tinha tantos motivos para ficar furiosa, ser amarga e passar o tempo sentindo pena de si mesma e lamentando seus infortúnios. Porém ela não o fez. Entendia que não tinha muito tempo, e sabia que não deveria desperdiçá-lo.

O que mais me impressionou sobre ela foi seu foco. Parece que sua atitude positiva e otimista era porque reconhecia que sempre havia outros em situação pior, e usava isto para dar valor ao que tinha, e não pensar naquilo que não tinha. Ela falava sobre como, embora estivesse sofrendo, tinha um incrível sistema de apoio dos amigos e família. Ela falava sobre como se recusava a pensar em morrer, porque se o fizesse estaria deixando a doença vencer. Em vez disso, ela vivia cada dia de uma maneira que causava impacto nos outros. E mesmo quando lhe perguntavam o que via quando olhava para seu marido afastado, em vez de responder com ressentimento ou raiva pelo sofrimento que ele causara, ela respondia: “Vejo o pai dos meus filhos.” E ela continuava assim porque como não estaria sempre aqui para os filhos, ela precisava assegurar que ele fosse nomeado por ela como responsável principal e daria aos filhos o amor e o apoio que precisavam.

Na Lei Judaica há o conceito de dar maaser, que é 10% da renda para caridade. O mais interessante sobre essa lei é que a doação desse dinheiro não é uma bondade, não é em si mesma uma caridade, é nossa obrigação. Há o entendimento subjacente de que 10% daquilo que ganhamos não nos pertence, para começar, portanto não é nosso para guardar. Quando damos estes 10%, é porque pertence àqueles que são ajudados através disto.

Então o que acontece quando somos nós que precisamos daquela caridade? Quando não temos dinheiro suficiente para nos manter? Ainda temos de dar aquele 10%? O Rebe falou sobre a importância dessa lei. Explicou que mesmo quando estamos lutando ou até sofrendo, há outros que têm ainda menos do que nós. Quando reconhecemos que poderíamos não conseguir pagar nossa hipoteca, mas ainda temos um teto sobre nossa cabeça, e alguém lá fora está dormindo num banco de jardim, então podemos dar valor àquilo que temos e não nos concentrar apenas naquilo que não temos. Além disso, o Rebe explicou que tendo o cuidado de assegurar que sempre damos estes 10%, esse na verdade será um ímpeto espiritual que nos ajudará em nossa situação financeira. Pois quando nos concentramos no próximo, podemos então abrir espaço para que outros se preocupem conosco e ajudem nossas necessidades.

Elizabeth Edwards não teve uma vida fácil. Mas teve uma vida significativa. E tanto na vida quanto na morte ela ensinou a força de uma atitude positiva, de reconhecer o bem em nossas vidas e em nos concentrarmos naquilo que podemos fazer e não somente naquilo que precisamos. Não tenho dúvida de que sua perda deixará um vácuo nas vidas daqueles que a conheceram e amaram, e mesmo assim as lições que ela ensinou lhe darão a força e direção para seguirem em frente. Quanto a mim, uma completa estranha, espero conseguir usar algumas das lições que ela ensinou. Pois ela realmente exemplificou o significado do versículo em Salmos: “Lembra-me que meus dias estão numerados.” (39:4)