Estou aqui sentado, ouvindo as noticias, sobre os mineiros chilenos sendo resgatados um a um. A caminho da escola esta manhã, eram entre dez ou onze. Agora escuto os aplausos enquanto surge o de número doze, como fizeram os anteriores, alegre, animado e saudável.

Realmente um milagre. Lembro-me há alguns meses, 69 dias para ser exato, quando a mina desabou, pensando comigo mesmo: que horror, que tragédia. Então, algumas semanas depois quando descobriram que ainda estavam vivos. Fiquei surpreso pelo aparente milagre, mas especialmente pelo tremendo desafio que ainda viria pela frente – continuar vivo, ficar alerta, permanecer forte até que a equipe de resgate pudesse criar uma maneira de tirá-los dali.

Que situação assustadora! Ficar preso num pequeno espaço, por um período indefinido de tempo. A claustrofobia, o medo do desconhecido, dividindo minúsculas porções de comida e fazendo-a durar ao máximo para que pudessem sobreviver. Na época perguntei-me se eu conseguiria fazer isso.

Com o passar do tempo, começaram os esforços para o resgate, importando especialistas de todas as partes do mundo – médicos, engenheiros, psicólogos, a lista continua. Era uma missão com problemas nunca antes enfrentados, cada contingência precisava ser bem planejada.

Quando conseguiram abrir um tunel suficientemente largo, puderam enviar comida, remédios, câmeras e outros artigos necessários para manter os mineiros. Eu posso estar errado sobre isso, mas não creio que eles estivessem tomando pílulas o dia inteiro para lutar contra a depressão.

Como, continuei perguntando a mim mesmo, eles estão conseguindo?

Somente as próximas semanas e meses irão confirmar, mas baseado nos relatos da imprensa, acredito no seguinte: dois ingredientes-chave (aqueles que nossa fé também exige de nós) foram empregados com força total.

Ingrediente Um: Eles tinham um severo regime de regras e regulamentos que todos obedeciam. Cada qual era forçado a entender que o futuro de cada um dependia dos outros. Não havia isso de “cada qual por si mesmo”. Eles dividiram a comida numa maneira simples para assegurar que todos comessem. Tinham um estrito regime de exercícios ao qual todos tinham de aderir, para que pudessem permanecer sãos e estar no tamanho certo para caber na cápsula de resgate. Precisavam um do outro. Precisavam se entender e trabalhar como uma equipe para conseguir fazer o trabalho. Eram responsáveis uns pelos outros.

Como rabino, muitas vezes me perguntam por que há tantas leis no Judaísmo. Por que o Judaísmo não é mais fácil e menos restritivo? Essa história fornece uma resposta perfeita. A vida é como uma jornada rumo ao supremo resgate. Se fizermos tudo que nos agrada sem consideração de uns pelos outros, embora temporariamente possamos nos sentir livres, terminaríamos derrotados pelo próprio egoísmo, e jamais sairíamos da nossa caverna. As regras da Torá não estão aqui para nos restringir, mas para nos guiar através do labirinto das cavernas da vida e das minas desabadas. Elas são a solução, não o problema.

Ingrediente Dois: Nossa responsabilidade mútua uns com os outros. No Judaísmo é chamada Ahavat Yisrael. Como está escrito na Ética dos Pais (1:14): “Se eu não for por mim, quem será por mim? E se eu for apenas por mim, o que sou eu?” Somos todos responsáveis uns pelos outros, e a história dos mineiros destacou isso perfeitamente. Para que o resgate fosse bem-sucedido, eles tiveram de trabalhar como uma equipe.

O Rebe, Rabi Menachem Mendel Schneerson, de abençoada memória, certa vez comparou nossa mútua interdependência a uma missão no espaço: se um astronauta deseja acender um cigarro, ele simplesmente não pode fazê-lo. Suas ações egoístas arriscariam a vida de todos.

Assim também em nossas vidas – a vida de cada pessoa depende do outro. Às vezes isso é óbvio, como se viu no Chile, e às vezes precisamos cavar um pouco para sentir e saber disso. Mas é sempre verdadeiro.