Em 5701, Rabi Yossef Yitschac de Lubavitch relatou uma experiência que acontecera há mais de 50 anos, quando era uma criança com onze anos:

"Era bem cedo, na manhã de um Shabat no qual é lida a porção de Lech Lechá da Torá antes das preces matinais, quando entrei no quarto de meu pai. Encontrei-o sentado à sua mesa de bom humor, revisando a leitura da Torá da semana. Lágrimas rolavam de seus olhos. Fiquei muito confuso, pois fui incapaz de entender como os dois – o bom humor e as lágrimas – estavam juntos. Mas não ousei perguntar.

"Naquele Shabat, como em todo Shabat, papai rezou até tarde. Como era seu costume durante Shabat no inverno, ele fez kidush após as preces e então foi rezar Minchá, a Prece da Tarde. Após a reza e pouco antes do pôr-do-sol, sentou-se para a refeição de Shabat.

"Ao término do Shabat, papai perguntava-me o que eu estudara durante a semana e sobre o que eu tinha revisado de cor. Se ficava satisfeito, dava-me um presente: ou uma história, cuja moral costumava enfatizar e explicar, ou um manuscrito de um maamar, discurso de ensinamento chassídico. Assim eram nossos costumes no inverno de 5651 (1890-1891).

"O mesmo ocorreu na noite seguinte ao Shabat Lech Lechá. Papai testou-me e deu-me então o discurso Ner Chanucá 5643 como presente. Eu desejava muito saber porque papai estivera chorando, mesmo de bom humor, quando revisava a porção da Torá naquela manhã. Lá fiquei confuso, incapaz de decidir se deveria ou não perguntar.

"Ele logo percebeu meu embaraço e disse: ‘Por que está aí de pé deste jeito? Se quer dizer alguma coisa, diga…’

"Decidi perguntar.

Papai respondeu-me.

‘Eram lágrimas de alegria.’ Então explicou. ‘Certa vez, nos primeiros anos de sua liderança, Rabi Schneur Zalman de Liadi disse a seus chassidim: 'A pessoa deve viver de acordo com os tempos.' Os chassidim mais jovens perguntaram aos mais idosos qual o significado da declaração do Rebe. Os chassidim mais velhos discutiram o assunto entre eles.

‘Anos depois, o filho e sucessor de Rabi Schneur Zalman, Rabi Dovber, elaboraria mais este dito em seu exclusivo sistema de biná – um extenso e completo tratamento da sabedoria de seu pai. Mas quando Rabi Schneur Zalman primeiro disse estas palavras, mesmo os mais notáveis chassidim tiveram dificuldade para entender seu significado. Finalmente, o irmão de Rabi Schneur Zalman, Rabi Yehuda Leib, explicou aquilo que o Rebe queria dizer.

'Deve-se viver de acordo com os tempos' significa que todos os dias a pessoa deve conviver e experimentar em sua própria vida a porção da semana da Torá, e a seção específica da porção da semana que está conectada àquele dia.

‘Os chassidim do Rebe, jovens e velhos, estudavam a seção diária do Chumash com os comentários de Rashi. O Rebe estava lhes dizendo: A pessoa deve conviver com os tempos. Não apenas aprender a porção diária, mas vivenciá-la realmente em sua própria vida.

‘A porção de Bereshit,’ disse meu pai, ‘é uma porção feliz.’ D'us está criando universos e criaturas e está satisfeito 'porque isso é bom.' Entretanto, o final, que descreve a corrupção da humanidade e o arrependimento de D'us com Sua criação, não é tão agradável. Mesmo assim, na sua totalidade é geralmente uma porção feliz da Torá e em todas as comunidades judaicas há alegria – recomeçamos a leitura daTorá novamente. Com a leitura da semana seguinte, Nôach, vem o dilúvio. É uma semana deprimente, mas com um final feliz – nasce Avraham, nosso pai. ‘Mas a semana verdadeiramente feliz,’ concluiu papai, explicando seu humor daquela manhã. ‘é Lech Lechá. Cada dia da semana nós vivemos nossa vida junto com Avraham.’ Junto com Avraham, o primeiro a sacrificar-se para trazer a mensagem da Divindade ao mundo, junto com Avraham, que transmitiu seu auto-sacrifício pela Torá e mitsvot como uma herança a todo e cada judeu.’