Um breve passeio pela Internet revela que há Sociedades para a Proteção dos Animais, pássaros, plantas, crianças, edifícios antigos, lagos alpinos, florestas em New Hampshire e direitos autorais mecânicos. Existe até – e a saúdo como uma causa nobre – uma Sociedade de Proteção do Apóstrofo, dedicada a preservar o uso correto desta marca de pontuacão tão abusada. Insisto portanto na criação de uma Sociedade para a Proteção da Educação. É uma virtude seriamente ameaçada.

Já perdi a conta do número de pessoas visíveis ao público que são pagas, na verdade, para ser rudes. Há o entrevistador que, ao receber uma resposta, diz: “Retira isso”, e a anfitriã de um programa de perguntas e respostas que se revela no título: “Rainha da Maldade”. Há o apresentador no programa de debate moral que se especializa em mandar farpas ridicularizando qualquer um que ouse discordar dele; as estrelas que ganham fama por meio de obscenidade e blasfêmia calculadas; os heróis do futebol que chutam ou praguejam numa fúria coreografada; o jornalista famoso por sua habilidade em depreciar as modelos desse ano; e a supermodel conhecida por atirar excentricidades. A lista é interminável e desalentadora.

Não há muito a dizer sobre ser rude. Houve um tempo em que era preciso coragem para desafiar as convenções, mas agora não sobraram convenções para desafiar. Beethoven era famoso por ser descortês de tempos em tempos, mas ele tinha outras alegações à fama. Costumava haver uma arte do insulto elegante. Lady Astor ganhou reputação por ter dito a Winston Churchill: “Se você fosse meu marido, eu envenenaria seu café.” E Churchill respondeu: “Se você fosse minha mulher, eu o beberia com prazer.” Os insultos atuais, porém, estão mais perto da grosseria que da inteligência. As crianças adoram chocar e ser chocadas, mas não somos uma sociedade de crianças.

Em resumo, ser rude é ser grosseiro. Não há nada a dizer em sua defesa. É uma forma de ataque verbal, de depreciar, uma humilhação deliberada do outro. Por que tem aumentado. A melhor resposta foi dada pelo filósofo Alasdair MacIntyre. Houve uma época, diz ele, em que partilhávamos uma linguagem moral. Acreditávamos em certo e errado objetivos. Quando se chegava a um desacordo, as pessoas sabiam que tinham de argumentar em causa própria. Hoje acreditamos (erradamente) que a moralidade é subjetiva, qualquer que seja a que escolhemos. Ocorre então que não há argumento além da mera afirmação da própria opinião. A voz mais alta, mais aguda e mais rude sai ganhando.

É por isso que a civilização ainda importa. Aquelas virtudes há muito esquecidas – gentileza, cortesia, tato, contenção, e disposição para ouvir outro ponto de vista – significam que aqueles que as praticam levam as outras pessoas a sério. Não infligem sofrimento propositadamente. Acreditam que a verdade é mais importante que vencer um debate; que a sensibilidade aos sentimentos dos outros não é fraqueza, mas força. Por mais estranho que pareça, são os entrevistadores mais gentis, não os agressivos, que conseguem as respostas mais reveladoras. O talento vence as partidas, não a força bruta. Dar ao interlocutor uma atenção e ouvi-lo com justiça é a única maneira de vencer uma discussão e manter um amigo.

“Um tolo”, diz o Livro de Provérbios, “adora exibir as próprias opiniões.” Em contraste, “A língua que traz cura é uma árvore da vida.” Ou para citar o filósofo francês André Comte-Sponville, “Boas maneiras precedem e preparam o caminho para as boas ações. A moralidade é como a educação da alma, uma etiqueta da vida interior.” Somente aqueles que são pequenos fazem outros se sentir pequenos. A educação é o reconhecimento de que somos tão grandes quanto permitimos que outras pessoas o sejam.