O terceiro livro da Torá, Sefer Vayicrá, cuja leitura iniciamos esta semana, é também chamado por nossos sábios de "Torat Cohanim - a lei dos sacerdotes". Este nome é bem apropriado devido ao enorme número de leis e detalhes dos serviços sacrificiais dos Cohanim no Mishcan que são elucidados neste livro. Para muitos em nossa sociedade ocidental, o conceito de sacrifício animal é difícil de compreender, e a maioria das pessoas atribui tais práticas às civilizações primitivas. Talvez para melhor entendermos o papel do sacrifício animal devêssemos tentar determinar o objetivo de um sacrifício. O primeiro passo seria entender a palavra hebraica para sacrifício, "korban," que vem da mesma raiz da palavra "karov - aproximar-se." Um corban é um meio pelo qual nos aproximamos de D'us.
Quando alguém nos aborrece, nossa reação usual é ficarmos furiosos, e devido a isso nos distanciamos daquela pessoa. Ficamos desgostosos com ela, até que terminamos por perdoá-la e esquecemos, ou até sermos aplacados. Da mesma forma, quando pecamos nos distanciamos de D'us por causa de nossas ações desagradáveis, que prejudicam nosso relacionamento com Ele. Os korbanot proporcionam um meio de reparar este relacionamento prejudicado, aproximando-nos novamente de D'us. Porém, como podemos de alguma forma entender que sacrificar um animal de verdade pode nos levar a esta proximidade com D'us?
Vários comentaristas explicam que o sacrifício de um animal é para representar aquilo que o transgressor realmente merece por violar a ordem de D'us, e o animal serve como substituto para a punição do ofensor. Quando a pessoa vê o korban sobre o altar, deve visualizar a si mesma no lugar do animal, um pensamento que deveria despertar sentimentos de teshuvá. O ato de abater um animal também desempenha um papel na retribuição do pecador nas cortes celestiais, atingindo um certo grau de perdão.
Talvez utilizando uma abordagem diferente ao entendimento do sacrifício animal, possamos ganhar algum senso de valorização por aquilo que foi expresso por um ato como esse. Para desenvolver um relacionamento bem sucedido entre marido e mulher, cada um deve preocupar-se com as necessidades do outro, e possuir a habilidade de doar-se ao parceiro. Esta doação pode muitas vezes conflitar com seus próprios desejos e necessidades, porém o "sacrifício" do próprio interesse para apoiar e prover o outro reforça o relacionamento com sentimentos de amor, dependência e dedicação. Se conseguíssemos nos imaginar vivendo em uma sociedade agrícola, e o rebanho fosse nosso maior bem, sentiríamos o sacrifício que é separar-nos de nossa possessão mais valorizada ao oferecê-la a D'us. Este sacrifício seria então visto como castigo, ou, caso trazido voluntariamente, cultivaria sentimentos de amor através da doação de si mesmo a D'us. É difícil entender o "prazer" que D'us tem com este sacrifício, mas a dimensão humana de doar nos aproxima de D'us em um sentido muito real.
Esta mesma proximidade pode ser conseguida hoje, mesmo sem os sacrifícios, através do oferecimento de nós mesmos. O Rambam escreve que a maior das mitsvot positivas da Torá é a de fazer caridade, porque traz a unificação do povo judeu, que ele afirma finalmente nos levará à chegada de Mashiach. Das lições extraídas dos sacrifícios, resolvamos ajudar nosso próximo judeu em necessidade, enquanto ao mesmo tempo nós nos tornamos melhores seres humanos.
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