Uma pessoa menos dedica da que o Rebe se contentaria com os sucessos do passado. Mas apesar dos grandes sofrimentos que o acompanharam durante o resto de sua vida devido às torturas sofridas na prisão, o Rebe continuou desempenhando atividades em prol do cumprimento do judaísmo. Empreendeu uma campanha mundial destinada a exercer influência sobre o governo da União Soviética para que modificasse sua atitude e não proibisse a instrução nem a prática religiosa. Entre estes esforços, tentou exercer influência sobre as principais organizações judaicas, para que intercedessem e procurassem manter discretos contatos com os representantes diplomáticos da União Soviética em seus respectivos países.

A insensibilidade e ignorância que manifestaram como resposta refletem as dificuldades que tais esforços encontravam. Um importante grupo, temeroso de participar em uma atividade dessa natureza, anunciou que, como o governo permitia que cada família educasse três filhos em horários extra-escolares, de forma totalmente utópica, uma vez que havia umas seiscentas mil famílias na Rússia, esta abertura jurídica “traria grandes benefícios a 1.800.000 crianças, o que provavelmente excede em medida o número total de crianças judias em idade escolar”. Pode-se especular se isto foi escrito com ingenuidade extrema, ou se trata-se de uma clara evasiva com o objetivo de não encarar um problema de tal gravidade.

Em um informe correspondente àquele período fez-se referência à opressão social e econômica que se exercia sobre quem praticava a religião judaica. Arbcor e Dorfcor, respectivamente correspondendo à fábrica e aldeia, informavam a seus jornais comunistas sobre os acontecimentos atuais. Na realidade, tratava-se de delatores que informavam sobre as práticas religiosas: se um trabalhador judeu assistisse à cerimônia na sinagoga em Yom Kipur ou Rosh Hashaná, seria denunciado no jornal como contra-revolucionário e inimigo do povo. E esforçavam- se para que fosse demitido do emprego.

Em Moscou empreendeu-se uma intensa campanha contra o cumprimento de Pêssach. Expunha-se os rabinos ao ridículo, ordenava-se às crianças judias que assistissem às aulas e a todos os empregados judeus de escritórios, agências e fábricas governamentais que comparecessem ao trabalho sob pena de perderem seus empregos. Em outro local, as crianças judias foram advertidas de que se não fossem à escola em Pêssach, ser-lhes-iam retirados os cupons de racionamento de pão.

Pais aflitos contaram como os filhos eram objeto das formas mais cruéis de doutrinamento anti-semita, e soube-se de casos em que as crianças, ao chegarem em suas casas, perguntavam aos pais se eram “exploradores” e “contra-revolucionários”. Não é de se estranhar que um ativista daquele período tenha escrito angustiadamente: “Há três milhões de judeus que vivem na Rússia aguardando ansiosamente que seus irmãos os salvem.”

O relato seguinte ilustra de forma característica a permanente influência de Rabi Yossef Yitschac Schneersohn: Em 12 de Tamuz de 5704 um grupo de judeus bucharos encontrava-se reunido em Tashkent (na Ásia Central) com o propósito de comemorar a libertação do Rebe. Havia entre eles um delator e, no dia seguinte, um dos participantes foi detido e interrogado sobre a natureza da reunião.

Inocentemente respondeu que se tratava do dia em que o Lubavitcher Rebe, Rabi Yossef Yitschac, havia sido libertado, e que a festividade fora celebrada em sua honra.

O interrogador perguntou: “Como você sabe sobre o Rebe? Quem lhe falou dele? Quem exerceu influência sobre vocês para que sejam seguidores do movimento Chabad?”

Sem saber da importância de suas palavras, o homem contou que um tal de Reb Simcha, especialmente enviado pelo Rebe, havia sido seu guia.

Reb Simcha narrou o seguinte: “Fui conduzido à prisão onde já estivera detido duas vezes sem que me submetessem a julgamento. Também detiveram outras quinze pessoas. Teve lugar um grande julgamento público contra as dezesseis pessoas, entre as quais eu me encontrava. O promotor, ao ler o ato de acusação, assinalou que estas pessoas haviam organizado uma rebelião armada contra o governo. Enquanto falava, tirou de seu bolso uma cópia do Tanya, a principal obra de Chassidut Chabad, e um retrato do Rebe, e exclamou: ‘Estas são as suas armas. Estes objetos foram achados nos lares de cada um dos acusados’.”

A década de trinta caracterizou- se por uma repressão ainda maior e, como ironia do destino, toda a Yevsektsia e seus seguidores foram brutalmente castigados. A isso sucedeu-se a incrível luta e o sofrimento da Segunda Guerra Mundial.

O Rebe, após sua libertação, dirigiu-se a Riga, Varsóvia e por último aos Estados Unidos, onde as sementes que havia plantado deram frutos e continuando multiplicar-se de maneira extraordinária pela dedicação de seu genro e sucessor, o afamado Lubavitcher Rebe atual, Rabi Menachem M. Schneerson.


O Rabino Dr. Alter Ben Zion Metzger é professor de estudos judaicos em Stern College em Nova York, onde também administra um curso de Filosofia Chassídica de Chabad. O Rabino agradece a ajuda recebida das bibliotecas Levi Yitzchak da Lubavitch Youth Organization, da Stern College-Yeshivá University e da YIVO, sem as quais seria impossível colher todos os dados utilizados no presente artigo. Agradecimento especial ao Dr. Abraham Duker por suas informações adicionais.