Na mesma noite em que o Rebe foi retido, um grupo de chassidim ativos e dedicados, estudantes seniores da yeshivá do Rebe, reuniram-se em conselho para elaborarem um plano, a fim de lidarem com a grave situação. Decidiram que cada um deles, e algumas poucas pessoas cujo nome citaram especificamente, deixariam todos os seus afazeres particulares e familiares a fim de dedicar-se completamente, de corpo, alma e posses à causa da salvação do Rebe e do movimento chassídico.

Formou-se um comitê especial para dirigir todas as atividades concernentes ao resgate de seu mestre, e à proteção e encorajamento dos chassidim. Todos os chassidim, jovens e velhos igualmente, eram obrigados a obedecer as ordens do comitê sem questioná-lo. Quem quer que se rebelasse seria expulso da comunidade chassídica. Resolveu-se então expedir a seguinte ordem assinada a todos os chassidim:

"A vigorar durante toda a duração da prisão do Rebe -

  1. Todos devem jejuar às segundas e quintas-feiras (à exceção dos que não podem fazê-lo, e que são normalmente isentos pela determinação haláchica).
  2. Durante os dias úteis, deve-se comer apenas pão e água fervida. No Shabat, tanto à noite quanto de dia, não se deve servir mais de um prato cozido em cada refeição.
  3. Não se deve planejar casamentos nem noivados enquanto durar a detenção do Rebe. Casamentos previamente marcados devem realizar-se conforme o combinado, embora sem música. Apenas dez pessoas podem comparecer, e uma refeição de prato único, que não contenha carne será servida.
  4. Cada professor reunirá seus alunos, e juntos recitarão Salmos todos os dias. Antes de recitar Salmos, o professor deve explicar os eventos e fatos; como o Tsadic Hador (o justo da geração) foi traído e sujeito a falsas acusações, e está na prisão devido ao mal daquela geração.
  5. Cada um dos chassidim deve contar e explicar os acontecimentos à esposa e filhos, e a todos em seu lar. Deve discorrer sobre os enormes sofrimentos da prisão, a gravidade do pecado dos que a causaram, e a grandeza da recompensa de todos os que compartilham a agonia de um sábio e tsadic.
  6. Cada chassid deve contribuir com o sustento da casa do Rebe, e com o fundo para os pobres na Terra Santa.
  7. Cada chassid deve fazer uma lista detalhada de todos os objetos de ouro e prata, assim como de todas as jóias em sua posse.
  8. Cada comunidade chassídica deve escolher um depositário para supervisionar a execução de todos os detalhes acima mencionados, e a ele serão dadas as contribuições mencionadas no item (f), e das listas mencionadas no item (g).
  9. Se, durante todo esse tempo, D'us não o permita, ocorrer uma morte entre os chassidim, a comunidade inteira deve reunir-se, purificar-se e, após preparar o falecido para o funeral, obrigá-lo através de juramento a ser emissário. Isto para que sua alma ascenda aos portais do Maguid e do Báal Shem Tov, e os informe que o Alter Rebe está na prisão, e que os ensinamentos do chassidismo estão em perigo. Deve ser encarregado desta missão, repetindo o juramento três vezes: depois dos preparativos, no cemitério e antes de cobrirem o túmulo com terra. A congregação inteira deverá jejuar neste dia."


O comitê decidiu então formar três grupos de ação:

  1. Um grupo compreendendo aqueles que se preocupariam em salvar o Rebe;
  2. Um grupo compreendido dos que se ocupariam em levantar fundos para libertar o Rebe; para manter a casa do Rebe e para os necessitados na Terra Santa;
  3. Um grupo que compreendia os que se ocupavam com a defesa do chassidismo e o encorajamento do chassidim.


Membros foram designados para cada um dos grupos, e cada pessoa tornou-se responsável por uma esfera específica de atividade. O primeiro grupo, dos diretamente ligados à salvação do Rebe, foi subdividido em três partes:

  1. Aqueles que ficariam em Petersburgo, a fim de seguir e observar os procedimentos locais, e fazer tudo o que fosse necessário;
  2. Os que ficariam em Vilna como agentes secretos disfarçados, a fim de espionar os procedimentos dos mitnagdim.
  3. Os que ficariam em Shklov, com o mesmo objetivo dos que estavam em Vilna.


Essas três unidades entrariam em contato uma com a outra através de mensageiros especiais, e não pelo correio. Todas as suas atividades seriam classificadas como ultra-secretas. O segundo grupo viajaria pelo país inteiro, para angariar os fundos necessários para cobrir as despesas dos agentes em Petersburgo, Vilna e Shklov; e para a manutenção da casa do Rebe e os pobres na Terra Santa. Todas as coletas seriam verificados pelo depositário local e por dois chassidim locais idosos, e seriam fundamentadas no cálculo de:

  1. dinheiro vivo;
  2. a lista de valores depositados com os fiduciários. Esses últimos deveriam verificar se tudo estaria disponível. Os proprietários dos bens devem expedir notas promissórias de suas posses, e serem notificados se, D'us não o permita, a prisão se prolongar por mais tempo, para depositarem tudo com o fiduciário, a fim de assegurar a disponibilidade de fundos, quando for necessário.
  3. Deve-se fazer uma lista de todo dinheiro de dote em posse dos mais jovens, que também devem assinar promissórias autorizando o fiduciário a obter o dinheiro depositado dos dotes.
  4. Todas as listas e notas serão confiadas aos fiduciários, e cópias enviadas ao comitê central.


O terceiro grupo, ocupado com a defesa geral do chassidismo e com a manutenção do moral dos chassidim, viajaria a todas as cidades, vilas, aldeias e assentamentos para promulgar os ensinamentos dos chassidim, e torná-los conhecidos das massas; familiarizando assim o máximo possível de correligionários com a filosofia e estilo de vida do Alter Rebe; enquanto também atraíam novos adeptos. Cada grupo de dois ou três visitaria diferentes regiões específicas. Foram aconselhados a, ao completarem cada missão, um elemento do grupo deveria prolongar sua estadia por certo tempo, a fim de concretizar quaisquer resoluções. Essas missões deveriam ser enviadas mesmo para locais sabidamente hostis.

Exatamente antes de o Rebe ter sido levado, seu cunhado, Rabi Yisrael Kosik aproximou-se e pediu-lhe instruções.

"Você," disse-lhe o Rebe, "vá imediatamente, e quero dizer imediatamente, a Petersburgo. Vá, assim como está agora, sem hesitar. Outra pessoa deve ir a Berditchev para informar Rabi Levi Yitschac, para que ele interceda e reze."

A ordem do Rebe foi cumprida. Sem perder tempo, Rabi Yisrael Kosik partiu para Petersburgo, com as mesmas as roupas que usava no momento. A fim de levar a cabo a ordem do Rebe e partir apressadamente, não voltou à sua terra natal (Babinovitch) para conseguir passaporte, mas sim, pediu emprestado um que pertencia a um amigo.

Outra pessoa foi a Berditchev, mas em meio a toda a agitação e pressa, o homem esqueceu-se de anotar o nome da mãe do Alter Rebe, essencial no caso de Pidyon Nêfesh (bênção). Chegando a Berditchev, informou Rabi Levi Yitschac de tudo o que sobreviera ao Rebe. Ao ouvir o relato dos acontecimentos, o Rabi caiu no chão em agonia, e chorou amargamente. Perguntou então ao emissário se o Alter Rebe estava transtornado. Ao receber resposta afirmativa, inquiriu mais, se estava profundamente perturbado, ou apenas superficialmente.

"Parecia que estava apenas superficialmente transtornado," replicou o emissário. "Percebi que esqueceu-se de levar seus chinelos, porém não se esqueceu do talit e tefilin."

Rabi Levi Yitschac ficou profundamente impressionado com esta resposta, e elogiou o poder de observação do homem. Perguntou então qual era o nome da mãe do Rebe, apenas para ouvir o consternado emissário confessar sua ignorância sobre esta informação. Havia se lembrado de que não sabia o nome, mas então já estava longe em seu caminho, e temia voltar, pois a necessidade de presteza fora bastante enfatizada.

À mesa, no aposento de Rabi Levi Yitschac, havia um chumash. O Rabi abriu-o, e o primeiro versículo que viu foi: "E Yaacov viu que havia 'shever' (comida) no Egito." Disse Rabi Levi Yitschac: "A palavra shever é um acróstico de Shneur ben Rivca."

E assim era, realmente. O próprio Rebe, às vezes, assinava o nome como "Shneur ben Rivca."