Aquela noite era a primeira noite de Pêssach, uma época de grandes maravilhas e milagres. Os judeus sentavam-se às mesas do sêder, celebrando a festa e louvando a D’us pelo milagre do Êxodo do Egito. Imploraram a D’us que os salvasse do terrível decreto de Haman. Sentiam que havia chegado a hora de D’us intervir a seu favor.
Ao mesmo tempo em que muitos judeus faziam vigília, rezando por uma nova redenção, o malvado Haman contava as horas até o amanhecer, ansioso para falar ao rei sobre Mordechai. Apenas o rei Achashverosh estava calmamente descansando, exausto e embriagado como resultado do festim.
Porém D’us perturbou o sono de Achashverosh. Num sonho que parecia real, viu Haman andando em sua direção, removendo a coroa e vestes reais e empunhando uma espada como se para matá-lo. Acordando, banhado em suor, gritou: "Uma conspiração! Traidor! Assassino!"
Achashverosh esfregou os olhos e olhou ao redor. Tudo estava silente; o palácio calmo e sossegado. "Por todos os deuses! Que susto. Foi um sonho e tanto!" Mudando de lado, o rei se aninhou sob as colchas de cetim e voltou a dormir.
Porém, tão logo fechou os olhos, achou-se bem acordado, como se alguém o estivesse sacudindo para a frente e para trás, suspendendo-o e deixando-o cair novamente. Ouviu uma voz que lhe dizia: "Ingrato! Ingrato! Vá e pague suas dívidas!" O rei ficou muito confuso.
A princípio, achou que houvesse sido drogado. Levantou-se e chamou os cozinheiros, padeiros e garçons de vinhos para interrogá-los. Tivera alguém a chance de drogá-lo ou envenenar a comida?
"Majestade" – replicaram – "Haman comeu a mesma comida que Sua Realeza" O rei estremeceu à mera menção do nome Haman, lembrando-se de seu primeiro sonho. "Confira tudo" – trovejou. Uma rápida investigação mostrou que ele não tivera nenhum desconforto.
"Ahá!" – pensou o rei. "Haman não foi afetado pela comida. Espere um pouco. E Ester? Também faz parte da conspiração? Parece tão perfeito. De repente, Ester planeja uma festa à qual nada come. Haman é o único convidado. Isso tudo parece tão suspeito."
Para dizer o mínimo, o rei estava muito perturbado.
Subitamente, teve outro pensamento preocupante. "Ester arriscou a vida a fim de convidar-me para a festa, e então adiou a revelação de seu verdadeiro pedido até o próximo dia. O que está tramando? O que está por trás disso tudo?
"Minha cabeça está rodando. Voltarei a dormir e amanhã providenciarei uma investigação completa. Quero ir ao fundo disso tudo. Preciso apenas de algumas poucas horas de descanso; assim poderei pensar com clareza pela manhã."
Cansado e aborrecido, o rei cambaleou até a cama. Entretanto, não conseguia adormecer. Finalmente decidiu usar um plano simples, praticado em muitas noites insones nos palácios reais. Quando um rei não conseguia dormir, fazia com que os escribas lessem os registros do palácio para ele. Estas anotações são bastante entediantes e, geralmente, o rei pegava no sono sem demora.
Efetivamente a voz relaxante do escriba logo o pôs num estado de sonolência. Estava quase adormecendo quando o escriba chegou ao registro de Bigtan e Têresh. Subitamente, o rei despertou totalmente. Lembrava-se bem do episódio. A Rainha Ester o havia informado do complô e, literalmente, salvara-lhe a vida. Sim, havia mencionado o nome de Mordechai, mas a parte que ele tomara no evento não estava clara. Quando o registro foi feito, Ester especificamente ordenara ao escriba para inserir o nome de Mordechai e para dar-lhe crédito por ter salvado o rei.
Tanto o rei como Mordechai nada sabiam sobre isso. O rei ficou surpreso ao ouvir o nome de Mordechai tão diretamente ligado ao caso. Achashverosh sentiu-se alivia-do! "Pelo menos agora sei que Ester é leal" – pensou. "Do contrário, jamais teria se incomodado de informar-me sobre a conspiração."
Dirigindo-se aos criados, o rei perguntou: "Como homenageamos Mordechai por ter salvado minha vida? Não consigo lembrar de tê-lo recompensado."
"Bem" – sugeriu um dos criados. "Ele foi nomeado juiz no Portão do Rei."
"Sim" – replicou o rei – "mas isso não foi recompensa. Foi feito simplesmente por recomendação de Ester. E não me arrependo nem um pouco. Seus bons conselhos têm se provado muito úteis. Além disso, isso não aconteceu antes que descobrisse o complô?"
Os criados viram uma oportunidade para se manifestarem, não porque gostassem de Mordechai, mas porque detestavam Haman por este dar-lhes ordens.
"Muito justo, Majestade!" – disseram entusiasticamente. "Na verdade, nada foi feito por Mordechai. Que ironia! Mordechai salvou a vida do rei e nada recebeu. Haman, que causou a morte de Vashti, foi promovido à posição mais alta da corte, e exige honra e reconhecimento por parte de todos."
De repente, o rei lembrou-se do estranho sonho no qual era sacudido e chamado de "ingrato!" Contou-o para os criados.
"Isso faz sentido, Majestade" – disseram judiciosamente. "Sua Realeza não recompensou Mordechai, e é bem possível que Haman esteja tramando assassinar o rei. Lembra-se do quanto tentou conseguir um perdão para Bigtan e Têresh? É óbvio que não lhe tem amizade. Mordechai, por outro lado, nem queria que Sua Majestade soubesse que foi ele quem lhe salvou a vida. É claro que não o fez para receber recompensa, mas tão somente por lealdade ao rei."
Achashverosh ficou pensativo. Sua mente estava clareando e, finalmente, conseguia tomar decisões acertadas. "Assim que o dia amanheça, recompensarei Mordechai."
Sentindo-se mais calmo, o rei despediu os criados e finalmente caiu no sono. Ao adormecer, o sonho se repetiu. Nele estava Haman, uma espada desembainhada, pronto a matar o rei e a rainha.
Naquele exato momento, Haman bateu à porta do pátio externo. Era antes da alvorada. Não podia esperar mais. Desprezando com impaciência os conselhos da esposa para que fosse pela manhã, chegou ao raiar do dia.
O rei acordou com um susto. "Quem está no meu pátio? Quem bateu tão ousadamente no portão, acordando-me assim que caí no sono?" – trovejou ele.
Os criados responderam prontamente: "É Haman, Majestade. Bateu à porta e está de pé ali fora. Não sabemos porque está aqui!"
"Vejamos" – pensou – "se Haman se considera merecedor de tais honrarias e até onde vão suas exigências."
Haman foi apanhado de surpresa. Seus pensamentos voaram. "Quem será a pessoa que o rei deseja homenagear?" – pensou. "Claro, sou eu! Não pode estar falando de qualquer outra pessoa. Senão, por que está falando sobre homenagem e não recompensa? Se o rei quisesse recompensar outro cortesão no reino, simplesmente daria uma boa soma de dinheiro ou uma posição de prestígio. Obviamente, o rei quer recompensar alguém que é extremamente rico, e não precisa de mais dinheiro ou poder. Quem mais seria, senão eu?"
Mesmo assim, Haman ainda estava preocupado de que o rei na verdade tivesse outra pessoa em mente. Foi, portanto, muito cauteloso com a resposta. A homenagem envolveria realeza, algo que Haman certamente apreciaria, se fosse ele o homenageado. Mas se acaso o rei estivesse falando de outra pessoa, a recompensa seria apenas temporária, sem nada de permanente.
Haman respondeu: "Que os criados e oficiais peguem os reais mantos púrpura, envergados pelo rei no primeiro dia de reinado. A pessoa a quem deseja prestar honras deve receber as magníficas vestes de estado. Deve aparatar-se como o rei, quando senta-se em seu trono. "
Com essas palavras, Haman dardejou um olhar faminto à coroa do rei. Era o que realmente desejava, o próprio símbolo da realeza. Mas ousaria mencioná-la? Talvez, o rei perceberia a insinuação?
"Que os criados tragam também o cavalo no qual o rei montou quando a coroa foi colocada em sua cabeça, e que o cavalo seja ajaezado da mesma forma que no dia da coroação."
A palavra "coroa" imediatamente desencadeou uma reação no rei. "Agora percebo o que Haman deseja. Acho que meu sonho foi verdadeiro" – resmungou para si mesmo, a face púrpura de ódio.
Haman foi rápido em perceber a raiva exibida no rosto do rei, e logo recuou. "Que dêem o cavalo e as vestes a um dos oficiais da mais alta posição." Não houve mais menção da coroa.
"Que os oficiais vistam o homenageado" – continuou Haman. "Que cada um o adorne com uma peça diferente, e que esta pessoa monte o cavalo real ao longo da principal avenida da cidade. Os altos oficiais deveriam juntar-se ao desfile como uma guarda de honra: um segurando a cauda do manto, outro guiando o cavalo, e um terceiro liderando o séquito."
Haman fez uma pausa para recobrar a respiração. Na sua fantasia, estava em cima do cavalo, acenando para o povo que o inundava de honrarias. Porém, refreou-se: "Cuidado, tenha cuidado agora! É necessário evitar as suspeitas do rei. Não pode desconfiar de minhas intenções de agarrar o trono" – pensou.
Rapidamente, disse: "Ponha batedores abrindo caminho para a pessoa a ser homenageada, proclamando: ‘Assim deve ser feito para o homem a quem o rei deseja honrar.’ É verdade, Majestade, que Sua Realeza estará dando grande honra a esta pessoa, mas a honra do rei será ainda maior. Se tamanha pompa pode ser concedida pela mera vontade do rei, imagine quanta glória o monarca atrairá sobre si!"
O rei Achashverosh observou cuidadosamente o primeiro ministro. Podia ler nas entrelinhas e estava um tanto divertido pelo que Haman revelava sobre si mesmo em resposta à sua pergunta.
"Oh, claro, Haman" – sorriu o rei. "Esta certamente é uma maneira soberba de honrar um leal cidadão de Shushan. Agora, vá em frente, requisite as vestes e o cavalo. Corra e providencie a homenagem que descreveu a Mordechai."
Os olhos de Haman esbugalharam-se de horror. Ouvira corretamente? Mas o rei estava assentindo, despedindo-o com um aceno de mão.
"Isso mesmo. Mordechai, o homem que desvelou a conspiração de Bigtan e Têresh, salvando minha vida. Vá! Faça o que sugeriu."
A cabeça de Haman girava. Não podia acreditar no que ouvia. Não podia pensar. Qualquer coisa, qualquer coisa, para ganhar tempo."
"Majestade, não tenho a menor idéia de quem seja este Mordechai" – gaguejou. "Estou falando de Mordechai, o Judeu."
"Mas há muitos judeus chamados Mordechai.’
"Sabe muito bem a que Mordechai me refiro. É um de meus oficiais que trabalham no Portão do Rei." "Mas certamente Sua Majestade não se refere àquele Mordechai."
"É precisamente aquele Mordechai. Merece ser homenageado. Vá em frente. Busque você mesmo as vestes, pois são muito valiosas. Você mesmo deve fazer a proclamação que sugeriu." O rei estava finalmente apreciando esta conversa.
Haman estava fora de si, de ódio. Porém, recobrou-se e tentou cavar uma saída para a situação humilhante. "Majestade" – disse – "se deseja honrar uma pessoa, pode conceder-lhe tudo isso e ainda mais. Mas jamais pensei que desejasse fazer uma homenagem ao judeu Mordechai. Pensei que nos entendêssemos a respeito desses judeus. Não me dando conta de que Sua Realeza queria pagar uma dívida de honra, simplesmente assumi que queria homenagear especialmente um de seus súditos.
Honra e dívida são muito diferentes. Não há limite para as honrarias que Sua Majestade pode conceder. Mas se trata-se apenas do pagamento de uma dívida, não deveria dar mais que a quantia devida. Caso contrário, pode abrir um perigoso precedente.
"Como pode deixar que um plebeu como Mordechai monte o cavalo que Sua Majestade cavalgou na coroação, e use suas vestes de estado? Envergonharia sua posição. Se deseja recompensar Mordechai, dê-lhe uma cidade ou um negócio rentável. Ele é pobre, e algo dessa monta o fará mais feliz que qualquer outra coisa!"
Havia impaciência na voz do rei. "A idéia veio de seus próprios lábios, Haman. Quero que faça exatamente o que sugeriu. Ficou desapontado? Tanto pior! É uma vergonha para você? Talvez, mas não razão para delongas. Apresse-se. E não leve Mordechai apenas por ruas secundárias e vielas. Faça como falou: leve-o ao longo da avenida principal."
"Majestade, por favor!" – implorou Haman. "Não me humilhe dessa forma diante de todo o povo. O homem que o rei deseja homenagear é meu arquiinimigo Como posso honrá-lo? Construí um cadafalso especialmente para ele no meu terreno, e vim aqui esta manhã pedir permissão para enforcá-lo. Veja, estou admitindo. Agora está me pedindo para glorificá-lo."
"Chega de conversa" – disse o rei. "Sem mais demora, vá até o almoxarifado real e apanhe um dos valiosos mantos púrpuras que tenho, bordado a ouro e cravejado de jóias. Pegue aquela linda espada que veio da Etiópia. Providencie a capa que me foi presenteada por meus súditos coloniais na África. Traga o cavalo que montei no dia de minha coroação, chamado Shifragaz. Junte tudo e faça a Mordechai do modo que descreveu."
Um enorme desespero tomou conta de Haman, que começou a tremer.
"Mas, Majestade, não sei em qual portão ele está. Sua Realeza disse o Portão do Rei, mas o rei tem muitos portões."
"Vamos, vamos, Haman, não seja tolo" – disse o rei, zombeteiro.
"Eu suplico, Majestade. Este homem é meu inimigo figadal. Se fizesse isso, estaria indo contra todos os ensinamentos de minha família" – implorou Haman. "Farei qualquer coisa" – disse, desesperadamente. "Até darei a Mordechai dez mil lingotes de prata. Apenas poupe-me esta vergonha. Por ter salvado a vida do rei, não o matarei quando os outros judeus forem mortos. Pagarei a ele os dez mil lingotes de prata que planejava dar para ter os judeus exterminados."
"Tudo bem, Haman" – disse o rei. "Dê a ele o dinheiro. Afinal, ele merece. Mas não ficará isento de preparar para ele toda a honra que descreveu. Você agora está recebendo ordens de providenciar até o último detalhe."
"Por favor, Majestade, mate-me!" – gritou ele. "Qualquer coisa! Mas não me obrigue a fazer isso. Seria melhor morrer que passar por tal vergonha."
"Não seja dramático. Faça o que estou mandando. Se quiser, posso mandar matá-lo também. Mas por enquanto, não perca tempo. Veja, Haman, como você me é importante. Tudo que me diz, eu faço" – disse o rei, sarcástico.
Vendo que não tinha escolha, Haman arrastou-se até os depósitos reais, vencido e desesperado. Estava em estado de choque e mal podia andar. Apanhando as roupas da coroação e colocando-as sobre os ombros, foi até os estábulos reais e arreou o cavalo especial que pertencia ao rei. De má vontade, dirigiu-se ao Portão do Rei.
Era de manhã cedo e Mordechai, adornado com seu talit (xale de orações), estava recitando as preces matinais. Estava cercado pelos alunos fiéis que não deixavam sua presença e ficaram com ele, jejuando, rezando, e estudando Torá. No momento em que terminava suas preces, avistou Haman aproximando-se. Imaginando que vinha para matá-lo, Mordechai voltou-se aos discípulos e implorou a eles: "Corram para salvar a vida."
"Não, querido Rabi" – gritaram – "não fugiremos. Ficaremos consigo na vida e na morte."
Mordechai e os alunos continuaram a estudar e rezar mesmo à aproximação do perverso Haman. Estavam revisando as leis do ômer, o sacrifício trazido ao Templo no primeiro dia de Pêssach.
Haman abordou um dos alunos mais distantes do mestre. "O que Mordechai está discutindo?" – perguntou.
Abalado pela pergunta inesperada, o aluno trêmulo respondeu: "As leis do ômer, uma oferenda que D’us nos mandou trazer a nosso Templo em Jerusalém."
"O que era essa oferta? Ouro? Prata?"
"Não, era uma oferenda de cevada."
"Cevada? E por isso D’us os protege? Um punhado de sua cevada suplantou as dez mil barras de prata que ofereci ao rei."
Mordechai entreouviu as palavras de Haman. "O que Haman quer dizer com isso, que a cevada suplantou a prata?" – pensou. Obviamente, veio aqui para zombar de nós. Todos sabemos que assinou nossa sentença de morte."
Haman mal podia abrir a boca. "Santo Mordechai, aproxime-se. Seu D’us sempre faz milagres para você. Planejei o mal, mas a sorte virou-se contra mim. Levante-se e deixe-me vesti-lo com estas roupas reais. Suba no cavalo que pertence ao rei. O rei me ordenou fazê-lo, e não ouso desobedecer."
Mordechai não podia acreditar em seus ouvidos. Seria verdade? A salvação estava chegando e D’us não abandonara seu povo? Mordechai não prezava honrarias, mas se essa fosse uma maneira de agradar ao rei e salvar os judeus, concordaria.
"Haman, não percebe que estou vestido de aniagem e cinzas? Antes de envergar as túnicas reais, preciso de um banho e um corte de cabelo. Necessito de ajuda, porém, pois estou muito fraco por ter jejuado durante três dias."
A notícia se espalhou como fogo. A rainha Ester ouvira que Mordechai ia desfilar pela cidade e que seria homenageado por salvar a vida do rei. Expediu ordens de que todo o comércio fosse fechado; assim, todos poderiam testemunhar o evento, na esperança que isso a ajudasse no momento de persuadir o rei a cancelar o decreto.
Quando Haman tentou achar uma casa de banhos, nenhuma estava aberta. Temeroso de que o rei o acusasse de perder tempo, correu para aquecer água e preparou um banho para Mordechai com suas próprias mãos. Tentou então achar um barbeiro para cortar os cabelos de Mordechai, mas todos haviam fechado os negócios, esperando pelo grande desfile.
Haman quis chamar um de seus escravos para cortar o cabelo de Mordechai, mas este não o permitiu. Um dos escravos poderia feri-lo e dizer que fora por acidente. Haman não ousaria machucar Mordechai porque sabia que o rei estava de olho em tudo que fazia.
Não tendo outra escolha, Haman foi para casa e pegou sua tesoura de barbeiro e outros instrumentos. Ao cortar o cabelo de Mordechai, suspirava profundamente. "Por que está resmungando?" – perguntou Mordechai.
"Imagine só" – grunhiu Haman – "um homem importante como eu, elevado pelo rei acima de todos os governadores; logo eu, que mando no reino todo, estou agora reduzido a barbeiro."
"Fala como se nunca tivesse feito isso antes" – replicou Mordechai.
"Todos sabem que você e seu pai eram barbeiros e atendentes na casa de banho na cidade de Circésio antes de vir para Shushan. É por isso que tem todo o equipamento do ofício."
Haman mordeu os lábios. O corte de cabelo estava terminado. Haman vestiu Mordechai com as túnicas reais. "Venha, monte o cavalo" – disse.
"Não posso" – disse Mordechai. "Estou muito fraco pelo longo jejum."
Haman estava desesperado. Mas tinha que seguir as ordens do rei. "Está bem" – suspirou. "Vou curvar-me e você pode subir às minhas costas."
Mordechai montou o cavalo, os lábios nunca deixando de recitar louvores a D’us pela inesperada mudança nos acontecimentos. Tanto judeus como não-judeus seguiram o cavalo, juntando-se a Haman que entoava: "Assim deve ser feito para o homem a quem o rei deseja honrar."
O cortejo logo passou em frente à casa de Haman. No andar superior, a filha de Haman estava olhando pela janela. Viu um homem totalmente alquebrado, conduzindo um cavalo. Um segundo homem, montado, tinha a face radiante. "Claro" – pensou ela. "Papai foi ao palácio esta manhã para conseguir o enforcamento de Mordechai. O cavaleiro deve ser meu pai e Mordechai deve estar guiando o cavalo."
"Que oportunidade perfeita para envergonhar Mordechai" – disse ela. Cuidadosamente, esperou até que o homem que levava o cavalo pelas rédeas estivesse bem embaixo da janela. Com uma maldição, verteu seu vaso de noite bem em cima de sua cabeça.
O imundo conteúdo da vasilha caiu na cabeça de Haman. Este olhou para ver quem fizera algo tão terrível contra ele. Neste instante, a filha reconheceu o pai. Em choque, se jogou da janela alta, mergulhando para a morte.
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