Após esses acontecimentos, o rei Achashverosh promoveu Haman. Para o observador, esta decisão poderia parecer estranha. Mordechai, que havia salvado a vida do rei, não fora recompensado, e Haman, que havia defendido os conspiradores, foi elevado a uma posição mais alta. Porém, Achashverosh era muito instável e agia por capricho. De início, havia ficado furioso com Haman por tê-lo aconselhado a matar Vashti. Entretanto, agora que desposara Ester, Achashverosh estava contente por estar livre de Vashti, sentindo-se em débito com Haman por haver este indiretamente lhe trazido Ester. Por isso, o rei recompensou-o generosamente, garantindo-lhe a mais alta posição do reino.

Até então, embora Haman fosse um dos sete conselheiros mor, havia sido o membro de menos prestígio no conselho. Agora era o mais importante. Como prova de sua posição, seu assento estava acima dos outros. Mesmo quando não estava presente às reuniões, a posição de sua cadeira servia como lembrança de seu posto elevado.

Vendo que o rei havia promovido Haman, o povo sentia-se obrigado a mostrar-lhe respeito. Muitos, entretanto, sabiam de suas origens e de sua profissão no passado, e esse respeito não vinha de forma natural.

"Você sabia que Haman era atendente nos banhos e barbeiro antes de se tornar político?" – diziam as pessoas que o haviam conhecido. Havia mesmo aqueles que declaravam ter tido o cabelo cortado por ele.
Para preservar a dignidade da posição de Haman, o rei ordenou que o povo se prostrasse diante dele, concedendo-lhe honras devidas a um Primeiro Ministro. Até mesmo os homens que tinham assento no Portão do Rei, o local de assembléia de todos os mais altos oficiais do reino, foram solicitados a ajoelhar-se perante Haman.

Haman vangloriava-se dessa nova promoção. Tirando vantagem desse poder, pendurou a figura de seu ídolo favorito ao redor do pescoço sempre que desfilava pela cidade. Ao se inclinarem perante ele, estavam também curvando-se ao ídolo.

Haman estava agindo de forma contrária à lei. O Império Persa garantia liberdade de religião, e nenhuma pessoa podia ser forçada a prostrar-se para ídolos contra a vontade.

Não era a lei persa, entretanto, que influenciava a forte resistência demonstrada por Mordechai no Portão do Rei. Ele se recusava a ajoelhar-se perante Haman e a prostrar-se para seu ídolo. Nem ao menos faria uma breve inclinação formal. Como Haman deixara óbvio que qualquer sinal de respeito a ele também incluía seu ídolo, Mordechai não tinha permissão, pela lei da Torá, para fazê-lo, mesmo que sua vida estivesse em risco.
Mordechai não fingia ignorar Haman. Olhando-o diretamente nos olhos, corajosamente recusava-se a arredar pé, criando ali um Kidush Hashem (santificação do nome de D’us), dando um exemplo para todos os judeus. Os outros oficiais no Portão do Rei ficaram perturbados pelas ações de Mordechai. "Por que desobedece as ordens do rei?" – perguntaram preocupados. "Achashverosh pode pensar que o encorajamos a demonstrar nosso desprazer com suas ordens. Seremos todos acusados e punidos por esta teimosia."

"Prostro-me apenas perante o único D’us" – declarou Mordechai, explicando sua identidade judaica.

Após tentar convencer Mordechai a não brincar com fogo, os servos do rei denunciaram-no a Haman. Queriam testar Mordechai. Estaria realmente disposto a colocar a vida em risco, somente para não inclinar-se perante Haman? Ficaria firme em suas crenças, a despeito do que pudesse acontecer?

Haman não podia acreditar nos relatos sobre Mordechai. "Que coragem!" – resmungou. "Como ousa desafiar as ordens do rei!" Deliberadamente, passou pelo local onde Mordechai estava lotado para ver a verdade com seus próprios olhos.

"A paz esteja consigo" – falou Haman, fingindo ser educado.

"Para o perverso, não há paz" – respondeu Mordechai.

Fervendo de fúria, Haman rilhou os dentes. Contratara agentes para seguir Mordechai e reportar suas ações. Disseram-lhe: "Mordechai é uma pessoa amigável, com um cumprimento gentil para todos que encontra. Saúda até mesmo o mais humilde plebeu." Quando Haman percebeu que Mordechai recusava-se a prestar homenagem somente para ele, sua fúria extrapolou. Estava determinado a vingar-se.

A princípio, Haman tramou matar somente Mordechai. "A alta posição de Mordechai está engasgada na minha garganta. Enquanto estiver no palácio, os judeus sentir-se-ão seguros e seguirão seu exemplo. Pretendo mostrar-lhe logo quem manda em Shushan."

Porém, ao passo que sua fúria se acumulava, Haman decidiu que estava abaixo de sua dignidade matar apenas Mordechai. "Esse povo respeita seus líderes. Se não for Mordechai, será algum outro! Vou dar um fim em todos os sábios. Então, ficarão como carneiros sem pastor. Negligenciarão sua religião e tornar-se-ão assimilados."

"Não" – pensou Haman, reconsiderando – "não é suficiente. Terão ainda sua Torá que ordena explicitamente denunciar os descendentes de Amalek e varrer sua memória! Nós, os agaguitas, descendemos de Amalek! Por essa razão, os judeus são nossos inimigos mortais e seu interminável ódio por nós é uma ameaça contínua. A única solução é exterminá-los todos: homens, mulheres e crianças. E isso é exatamente o que pretendo fazer!"

Tendo tomado uma decisão, Haman seguiu, formulando seu plano maléfico. Ele era mau, mas não tolo. Estava informado sobre os muitos eventos miraculosos da História Judaica e sabia que os judeus tinham um D’us poderoso a seu lado. "Mas pretendo suplantá-lo" – declarou Haman arrogantemente.

Embora seu D’us seja poderoso, às vezes as coisas não vão tão bem para os judeus" – pensou Haman. "Determinarei o tempo astrologicamente mais propício para levar adiante meu plano."

Haman usava um artefato mágico conhecido como "pur". Primeiro, queria estar certo de que seu plano para destruir os judeus era factível. O primeiro "pur" era lançado, usando cubos semelhantes a dados. Mas, ao contrário de dados normais, os números eram arranjados de tal forma que os valores numéricos em lados opostos nos cubos somavam sete. Um cubo tinha lados opostos com os números 1 e 6, o segundo com 2 e 5, e o ter-ceiro com 3 e 4.

Como o "pur" determinaria o destino do povo judeu, Haman usou letras hebraicas1 para adicionar os valores numéricos dos números. Os cubos eram agora 1=t (alef), 6=u (vav), 2=c (bet), 5=v (hê), 3=d (guímel), 4=s (dalet).

Haman usava três dados para cada lance. Na primeira jogada, os cubos mostraram 1-3-3. Haman ficou deliciado, pois percebera que os dados haviam soletrado ddt (alef, guímel, guímel) formando a palavra Agag em hebraico – o nome de seu ancestral. Ansioso, virou o dado ao contrário para conferir que letras estavam na base. Oposto ao t (alef), estava um u (vav), e oposto a cada d (guímel) estava um s (dalet). As três letras na base formaram a palavra sus (David).

"Que boa sorte!" – exclamou Haman extasiado. "Estas letras soletram o nome David. É sinal certo de que meu povo, o povo de Agag, terminará no topo e os judeus, o povo de David, ficarão por baixo."

Agora Haman estava ansioso por determinar a melhor ocasião para exterminar os judeus. "Este ano, qualquer data será ótima" – decidiu. "Na verdade, tudo está indo perfeitamente bem. Eu não teria sonhado com um plano desses antes. O rei jamais teria concordado. Exterminar uma nação inteira enfraqueceria seu reino, e os aliados dos judeus nas outras províncias poderiam vir em sua defesa. Mas agora, o governo do rei está firmemente estabelecido. Tem uma nova rainha. Minha posição foi elevada e o palco está montado."

Mesmo assim, Haman queria conferir novamente para assegurar-se que sua boa sorte estava realmente lhe sorrindo. Lançando outro "pur" para determinar a data exata de levar seu plano adiante, novamente colocou ao sabor do acaso a verificação sobre se estava no caminho certo.

Cortou vários pergaminhos nos quais escreveu os nomes dos doze meses lunares (conforme o calendário judaico). Outro jogo de pergaminhos era numerado de 1 a 354, um para cada dia do ano lunar.

Haman planejou duas jogadas separadas, uma para determinar o mês e outra, o dia. Se coincidissem, saberia que a sorte estava a seu lado. Caso contrário, perceberia que as coisas poderiam não dar certo. Por exemplo, se a jogada dos meses mostrasse Nissan2, e a jogada dos dias mostrasse 100, ficaria claro que o esquema não estava predestinado pelo sobrenatural, pois o 100º dia do ano cai em Tamuz3, não em Nissan.
Haman escolheu seu filho Shimshi para fazer o sorteio. Tão ávido como seu pai, Shimshi tirou um número do primeiro conjunto. Podia-se ler: "Adar"4. Haman fez um sinal para que o filho tirasse um da segunda pilha. Lenta e deliberadamente, pegou um pergaminho e o desdobrou com cuidado. Seus olhos brilharam quando o número apareceu. Era 337, dezessete dias antes do fim do ano.

"Fantástico!" – gritou Haman, saltando de alegria. "É dia 13 de Adar. Funcionou! Vencemos! Os judeus já podem se considerar mortos!"

Shimshi e Haman festejaram o sucesso da loteria. Estavam certos de que Adar seria o mês perfeito. Centenas de anos antes, Moshê havia falecido no sétimo dia de Adar. Obviamente, era uma época inoportuna para os judeus.

Haman também ficou contente que a data lhe desse tempo suficiente para realizar seus planos – quase um ano inteiro. Mensageiros seriam enviados a todas as partes do império com tempo suficiente para todos os arranjos. "Deixe os judeus passarem um ano todo sabendo que estão condenados. Talvez, devido ao medo ou ao desespero, abandonem a religião. Se eu puder forçar os judeus a se assimilarem, será quase tão bom quanto matá-los" – pensou Haman.