Pouco tempo depois, a ira do rei esfriou. Contemplando o retrato de Vashti nos aposentos reais, começou a se perguntar o que teria acontecido a ela. Estava tão bêbado durante o banquete que nem ao menos se lembrava do que havia feito.
"Tragam-me Vashti" – disse o rei.
Trêmulos, os criados pessoais gaguejaram: "Não podemos. Está morta. Sua Majestade mandou executá-la."
"Executada? Por que motivo? O que poderia ter feito que merecesse a execução?"
"Sua Majestade ordenou-lhe que viesse, e ela recusou. Foi pelo conselho de seus ministros que a condenou à morte. Foi sua própria ordem."
O rei estava muito confuso. "Lembro-me disso vagamente. Mas apenas disse que não deveria mais apresentar-se na minha frente. Não poderia ter ordenado que fosse morta."
"Perdoe-nos, Majestade, mas nós mesmos ouvimos isso. Sua Majestade ordenou sua morte claramente."
Devagar, os fatos do banquete voltaram à mente do rei e ele se encheu de arrependimento. Sua mulher havia se comportado com modéstia ao recusar seu pedido irracional e pagara com a vida. Achashverosh foi assolado pelo remorso.
Convocando os sete conselheiros, disse o rei: "Não estou zangado com Vashti, mas com vocês. Se a condenei à morte enquanto estava bêbado, por que foram tão rápidos para cumprir a sentença? Não poderiam ter esperado até que estivesse sóbrio?"
Foram expedidas ordens sumárias de que os conselheiros fossem mandados para longe do reino. O único poupado foi Memuchan, aliás Haman. Punição imediata seria muito suave. O rei pensou sobre um plano de vingança a longo prazo. Primeiro, promovê-lo-ia ao alto comando.
Então, quando se sentisse seguro, seria forçado a encarar a força total da fúria do rei.
Livrar-se dos conselheiros mais chegados, entretanto, não trouxe consolo ao rei. Estava muito infeliz e deprimido. Com preocupação, seus servos o viam mergulhar mais e mais na tristeza.
"E se o rei morrer?" – pensaram. "Seu sucessor muito provavelmente nos substituirá e, então, o que faremos?" A criadagem discutiu o assunto por um tempo e então foram ao rei com uma idéia brilhante.
"Majestade, podemos humildemente sugerir que se case novamente? Garantimos que sua futura noiva será a mais bela jovem de todo o reino!"
O rei levantou o olhar, interessado. Os servos continuaram: "Por decreto real, proclame um concurso nacional de beleza a ser promovido aqui em Shushan. Planejamos tudo cuidadosamente. É óbvio que nem toda moça bonita do reino poderá vir até Shushan. Por isso, oficiais serão enviados a cada uma das 127 províncias para escolher a mais bela jovem de cada localidade. Serão julgadas pela aparência e personalidade. A donzela mais bonita de cada estado será trazida a Shushan, e o rei poderá escolher a de sua preferência.
"As moças serão colocadas sob os cuidados de Hagai, o chefe do harém real, e ele se encarregará de todos os assuntos de cosméticos. A jovem que mais agradar ao rei tornar-se-á rainha no lugar de Vashti."
O plano agradou ao rei. Sem dúvida, o conselho dos criados chegara numa hora propícia. Após o terrível parecer dado pelos conselheiros chefes, Achashverosh se tornara completamente enojado com os anciãos do palácio. "Quanto mais envelhecem, mais debilóides se tornam. Faço melhor aceitando o conselho destes jovens" – pensou. "São espertos e criativos e parecem dedicados aos meus interesses – não como aqueles sete velhos abutres que mal podiam esperar para matar Vashti."
E assim, o rei colocou o plano dos criados em ação. A princípio, enviou agentes de um extremo a outro do reino, disfarçando sua verdadeira missão. Aparentemente, estavam apenas cuidando dos negócios costumeiros do reino. O objetivo principal, entretanto, era ficar de olhos bem abertos para qualquer jovem de excepcional beleza, registrando o nome e endereço de cada uma. Como ninguém estava informado sobre o verdadeiro objetivo da missão, nenhuma moça escaparia à busca.
Em seguida, o rei enviou um segundo grupo de oficiais para julgar as jovens, e mandar as candidatas mais condizentes a Shushan. De posse da lista fornecida pelos primeiros emissários, não deixariam nenhuma garota escapar da rede.
Haman, claro, sabia o que estava acontecendo, e lavrou um tento ao empurrar sua filha para a frente do oficial do rei. "É exatamente o que eu estava esperando" – pensou, jubiloso, esfregando as mãos. "Minha adorável filha certamente tem o porte de uma rainha, e quero me assegurar que seja escolhida." Quase podia ver a coroa real colocada sobre a cabeça da moça. Enquanto lá estava fazendo castelos no ar, mal percebeu a súbita agitação ao redor de sua filha. Com um susto, Haman foi trazido de volta à realidade bem a tempo de presenciar, horrorizado, a filha dominada por um violento ataque de vômito. Subitamente ficara doente e sujava-se em público.
Desnecessário dizer, o mensageiro real rejeitou-a imediatamente.
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